Minha
vizinha chavista está tiririca com a Sylvia (ou será Silvia, simplesmente?) da novela
Caminhos das Índias. A bela "viúva" (vivida na telinha por Débora Bloch) parece que se recusa a sair daquela casa monumental (que se imagina estar plantada na Gávea, ou na Barra- num lugar "nobre", enfim) e mudar para um apartamento em Laranjeiras.
Foi isso que ela (minha vizinha chavista) me informou pelo interfone, até que ele pifou. Andam fazendo tantas obras aqui no "Condomínio do Barulho", que tudo está pifando, depois de longos meses de marteladas e sabe mais o que andam fazendo esses pedreiros na estrutura do prédio. Hoje deu um curto nas luzes do meu escritório, que parecia que um
Poltergeist tinha baixado com tudo no meu pobre lar.
Foi aí que ela (minha vizinha chavista) veio até minha casa. Minha mulher tinha saído - foi orar em outro lugar pela paz mundial, me deixando sozinho com a fera.
-Bote lá nos seus "grogues"(ela nunca consegue falar a palavra blogue, mas acho que é pura implicância) que essa Silvia me paga! Onde já se viu desdenhar nosso bairro! Esculachou geral! Laranjeiras é um bairro "cult". Tem o chorinho da feira, o show de bossa-nova e jazz da praça do chafariz em forma de concha (Praça Ben Gurion) ,tem a feirinha de Teresópolis, tem as "Casas Casadas", a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) que tem formado tantos atores para a Globo. Tem a Tasca do Edgard, o famoso Bar do Serafim onde pontificava saudoso Juca, tem o Mamma Rosa, O Luigi's, o bistrô da Frida, o Maya, o Severyna, o Varandas, a lanchonete do sêo Ferreira, a barraquinha de cachorro quente das madrugadas, a locadora Guimarães e vai por aí...Um
Soho com rebolado, um
Marais descolado, um
Village com molho carioca, que é o nome do rio que passa por baixo da Rua das Laranjeiras. Sem falar que lá em cima no Cosme Velho fica o bondinho para o Cristo Redentor e tem mais: o Largo do Boticário, o Museu de arte
Naïf, e o lugar - não mais a casa infelizmente- em que o nosso bruxo - o grande Machado de Assis morou. Sem falar na editora Objetiva que faz muito tempo montou seus escritórios aqui.
Fiquei calado enquanto ela procurava mais coisas bacanas do bairro,
Tem o Instituto Nacional de Educação de Surdos , a Clínica Perinatal onde nasceu o filho do Ronaldinho, a Rua Alice, a Casa Rosa.... (aí eu cortei)
- Mas a Sylvia tem todo o direito de não querer sair do conforto de sua casa sensacional . Lá estão as coisas dela, os objetos afetivos...
- Que objetos afetivos coisa nenhuma, ela quer é ficar no bem bom. Se ela muda para Laranjeiras a novela fica até mais interessante. A vizinhança de jornalistas, artistas plásticos,escritores, designers, músicos, aquele baterista da Estelita Lins, o flautista que embala as tardes do bairro com aquelas melodias, os miquinhos que descem pelos fios das ruas fazendo algazarra...tudo isso iria enriquecer a novela.
Aí eu concordei, aquela casa da família do "falecido" 171 em crise existecial, Raul Cadore - fica muito isolada. E parece que o pessoal só sai de lá para ir à Lapa. Que figura como o único bairro onde existe algum movimento nessa cidade em transe. Fora da Lapa, só a Estudantina que por sua vez está em todas as novelas da Glória Perez. E merece estar.
Ficamos nesse papo enquanto o feriado de Tiradentes que levou muita gente a enforcar mais uns dias estava acabando embaixo de uma chuvinha chata.
Ela me adiantou que a vaca que ela tinha botado no jardim foi recolhida pelo serviço de proteção aos animais . Botou culpa no conselho consultivo do Condimínio do Barulho"
- Eles são de direita e só acham sagrado o vil metal!
E os
dalits? Perguntei
-O choque de ordem botou tudo num abrigo, mas eles voltam, eles voltam aos pouquinhos e vamos transfomar a piscina do Condomínio num belo Ganges com suas águas purificadoras.
Foi aí que minha mulher chegou depois de orar pela paz mundial e trouxe novidades sobre o Nirvana e como faremos para chegar lá. Minha vizinha chavista achou o tema muito cacete, e se mandou esbaforida para mais um capítulo de sua novela. Nesse enredo ela é a heroína - que como uma Anita Garibaldi dos tempos pós-modernos , vai invadir e tomar a Globo, junto com os velhinhos brizolistas da brigada "
O Tempo e o Vento", que jogam dominó na pracinha do
Politburo. Diz ela que o projeto é transformar a "Vênus Platinada" numa produtora de novelas
full time, com o intuito de tornar menos difícil a vida dos nossos companheiros cubanos que adoram as novelas Globais e sofrem as agruras do insano bloqueio norte-americano.
Hasta la victoria final!