26.11.09

Santa Ira


Dona Mathilde até o fim, manteve o dedo indicador em riste. Com seus 88 anos de luta, ela teve, nos seus últimos momentos, como adversária, a natureza, principalmente seu sangue latino, seus ossos que se fragilizaram e a lei da gravidade, que a fez cair e quebrar o colo do fêmur. Como ela sempre dizia : 'la vecchiaia è bruta' (que quer dizer que a velhice é atroz).
Com seu coração de leoa, suportou uma difícil operação, que pretendia devolver-lhe o movimento, que ela tanto ansiava.
Mulher de temperamento forte, não era de ficar sentada esperando as coisas acontecerem, queria logo andar, agitar, colaborar. Foi um verdadeiro bodhisattva nessa terra-, generosa, solidária, sempre pronta para ajudar os outros. Herdou o caráter bondoso de sua mãe, Thereza, que apesar de sua vontade, não pode lhe transimitir o dom de curar com as mãos. Mas isso não a impediu de ajudar uma criança a nascer. Lembro -me bem dela às voltas com o parto difícil de uma vizinha. Com suas mãos de operária, muitas vezes ela alimentou e tomou conta dos filhos de nossos vizinhos na hora do aperto. E meus amigos pobres do bairro de minha infância, cansaram de filar a bóia lá em nossa casa. Na sua máquina de costura, ajudava a ganhar o pão que nos alimentava e consertava roupas que serviam para dar conforto a habitantes de asilos.
Acostumada, desde cedo com a aspereza da vida, apesar de sua índole boa, não seguiu o exemplo de mansidão da mãe, mas desenvolveu uma santa ira que a manteve de cabeça erguida diante das dificuldades, que não foram poucas. Neste mundo cruel, ela tinha lá uma maneira especial de demonstrar seu afeto - com ações e não com palavras : ela fazia coisas para agradar as pessoas de quem gostava, e orava em silêncio, no seu quarto por elas. Só uma vez na vida ela disse que me amava, e olhe que isso faz pouco tempo. Numa outra oportunidade recente, disse que sentia saudades do meu beijinho antes de dormir.
Amou e cuidou de meu pai até ele nos deixar em meados dos anos 90.
Foi uma avó atenta e carinhosa - adorava crianças. Brincava com seus netos no chão, com bichos de pano que aprendeu a construir e fez especialmente para eles. Fazia as comidas mais gostosas quando eles a visitavam. Para o menino fazia pão com chocolate, para as meninas bolos e rocamboles.
Foi obrigada a trabalhar cedo, o que a impediu de estudar além do primário, mas tinha uma inteligência sofisticada- quando a gente estava indo com a bandeja ela já estava voltando com o quindim. Quantas vezes nos ajudou a resolver os trabalhos escolares que os professores passavam para fazer em casa. Curtia o fino humor dos nossos craques da crônica. Entre os romancistas, lembro que gostava de Saramago (do qual leu Memorial do Convento e Evangelho Segundo Jesus Cristo) . Adorava o Zé Simão, especialmente sua irreverência, seu deboche, mesmo quando ele esculachava o Lula, que ela tinha em alta conta, mas que criticava de vez em quando. Porém eram marolinhas... reservava suas tsunamis para outros políticos, os direitistas safados, os corruptos da vez. Era uma pessoa justa e desconfiava como Proudhon, que atrás da propriedade privada havia um imenso roubo ou um "imbroglio".
Com seus olhinhos pretos, bem vivos, ela observava tudo, desconfiava do mundo. Com sua voz forte, indagava sobre os rumos da vida moderna . Muitas vezes perguntou onde iríamos parar do jeito que estávamos caminhando.
Tinha orgulho de seus netos, por ordem de chegada: um doutor cirurgião, uma estilista de moda ( costureira como ela) e uma artista que estuda na USP. Companheirona da filha, teve desta todo o amor e dedicação do mundo. Do filho "carioca" só falava bem, apesar dos grandes defeitos dele. Confesso que me salvou de várias encrencas e não vamos entrar em detalhes. Na última semana, disse ao pessoal da UTI que queria me dar umas boas palmadas. Quando me viu, no entanto, só me pediu para tirá-la imediatamente de lá. Ela me via como uma espécie de salvador, o cara que iria levá-la para uma casa idílica, aquela da sua infância de menina feliz, que pulava corda e cantava canções de roda. Claro que nunca cheguei a realizar este sonho dela. Mas ela conseguiu o seu intento de sair do Hospital - o problema é que queria mais, não se conformava com as exigências da convalescença, reivindicava o direito de andar livremente. Com sua santa ira, ela reclamou pela última vez e num segundo, um maldito coágulo se deslocou para lhe tirar a vida. Morreu de dedo em riste, não se conformando diante da natureza que lhe subtraia o ar.
Sua passagem se deu no dia 23 deste mês. Escrevo sobre ela com meu coração pesado de tristeza, e entendo que nunca conseguirei escrever o suficiente para mostar a grandeza de seu ser. Até o momento, oscilo entre a resignação e o ódio à morte. A morte está cercada de lugares comuns. Não vou invocar nenhum deles. Só vou lembrar de um frase que condensa um conhecimento que tento interiorizar : " Alegria na vida e alegria na morte - eis uma das essências expostas no budismo. Uma pessoa que vive plenamente a vida não teme a morte". Tenho certeza de que ela não temeu a vida, a morte teve que vir sorrateira, não teve coragem de enfrentar sua santa ira.

17.11.09

Aviso aos Navegantes : Recesso


Caros amigos navegantes, por motivo de força maior, estarei fora do ar por tempo indeterminado.

Dica do Gerdal: Gabriel Versiani mostra suas composições nesta terça, no CCC, em noite de lançamento de primeiro CD


Repasso abaixo um relato muito interessante do violonista e compositor Cláudio Jorge, em que, entre outras considerações, sabemos do lançamento do CD autoral de Gabriel Versiani, seu filho, logo mais à noite, às 21h, nesta terça-feira, 17 de novembro, no Centro Cultural Carioca, na Praça Tiradentes. Com a qualidade do seu trabalho, Gabriel confirma a validade da máxima "filho de peixe..." - embora haja dela exceções, em outros casos. Lançado em 2007, "Sambaião", belo CD da cantora Letícia Tuí, também dá gosto ouvir por composições de Gabriel, como "Filha de Oxum" (que, aliás, nasceu "Filho de Ogum", como já disse Letícia em programa na Rádio MEC-AM). Em suma, o rapaz é do ramo e faz um trabalho que deve ser acolhido com interesse por quem gosta da nossa boa música popular.
          Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
 
***
Parece até que o mundo me ouviu, ou me leu, e tudo vem conspirando para que eu realmente passe o ano de 2009 comemorando os meus sessenta anos em várias festas diferentes.

Aconteceu em família, aconteceu no Sobrenatural, tá acontecendo toda quarta e quinta feira no júri de novos talentos do Carioca da Gema, vai acontecer dia 22 de novembro na feijoada do Bloco dos Cachaças.
Mas tem uma festa/presente muito especial que vai acontecer no próximo dia 17 de novembro lá no Centro Cultural Carioca. Meu filho Gabriel Versiani vai lançar seu primeiro CD.

É engraçado ver essa história acontecer com ele, história que eu vivi no tempo da vitrola quando era LP e eu lancei meu primeiro disco pela Odeon em 1980, ano em que nasceu o Gabriel.
Em 1980 as coisas eram ao mesmo tempo mais difíceis e mais fáceis, diferente de hoje onde as coisas são mais fáceis e mais difíceis.
Explicando: as gravadoras tinham os estúdios, a tecnologia, a prensagem, a edição e a distribuição.
Era um funil onde poucos chegavam para gravarem seus trabalhos. Havia espaço para o mais comercial e o mais cultural. As gravadoras vendiam discos populares para bancarem os da MPB e tudo mais. O samba bancou muito a edição de vários outros estilos.
Hoje as gravadoras estão mudando de negócio, qualquer um pode gravar um disco, há um home studio em vários quartos de empregada por aí. Prensar ficou fácil, estamos em plena era dos patrocínios, mas a divulgação e distribuição continuam sendo um privilégio das majors e grandes selos.
Não encontramos até hoje, para a produção independente, uma solução para isso neste momento em que, tudo indica, a mídia CD vai tirar o time. Só Deus sabe. Me desculpe aqueles que não acreditam nele.
Então Gabriel Versiani chega ao mundo do disco – era inevitável sendo filho de cantora (Cláudia Versiani) e músico - com um SMD autoral de um jeito que parece ser o do futuro daqueles que pretendem ser artistas nas próximas décadas. Me foi possível escolher a profissão de músico e viver exclusivamente dela até aqui. A partir daqui já começo a mudar a direção do navio que é a minha vida porque acho que essa atividade como profissão está acabando, mas essa é uma outra história.
Gabriel já começa na frente dividindo o palco com o computador na sua profissão de jornalista, com emprego, carteira assinada e tudo mais. É o futuro, e acho que ele é promissor para o meu filho.
Deixo de lado a modéstia e canto com a minha viola, meu filho manda bem nas duas posições.
Quem o acompanhar daqui pra frente verá. Quem já ouviu o disco se surpreende com um repertório não alinhado a qualquer modismo. É eclético, jovem, moderno, com uma inegável base de informação musical e cultural.
Tá bom. É o pai lambendo a cria, isso não vale né?
Então vamos combinar uma coisa: você vai lá no Centro Cultural Carioca no dia 17 de novembro conferir. Se você não gostar eu pago a tua conta. Fechado? Até lá.

PS: eu vou dar uma canja dividindo com ele umas canções do meu disco Amigo de fé.


Do fundo do baú: Ilustração - Saxofonistas

Dica do Gerdal : Tuninho Galante e Marceu Vieira nesta terça, no 7 em Ponto, em show realçado pela bossa de Roberto Menescal e Wanda Sá


Conheceram-se em 2000 no Bip Bip, bar-referência na resistência da boa MPB em Copacabana, e, de lá para cá, pouco mais de uma centena de composições. Há pouco, pude testemunhar, em outro show que ambos fizeram, a apreciável qualidade de parte dessa produção musical, com tônica no samba. Tuninho Galante e Marceu Vieira já estão "nos finalmentes" de um primeiro CD bem-vindo à nossa discografia de peso, de conteúdo, e, nesta terça-feira, 17 de novembro, são a atração da vez no projeto 7 em Ponto, no Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes. Um trabalho que vale a pena ser conhecido, sobre o qual reencaminho, com prazer, informação abaixo.
         Boa noite a todos. Muito grato pela atenção à dica.
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ROBERTO MENESCAL E WANDA SÁ são os padrinhos de MARCEU VIEIRA E TUNINHO GALANTE no projeto "7 em Ponto" desta terça-feira, dia 17 de novembro.
O projeto "7 em Ponto", em que um artista consagrado apadrinha outro ainda desconhecido do grande público, traz nesta terça-feira, dia 17 de novembro, duas duplas: Roberto Menescal e Wanda Sá apresentarão Tuninho Galante e Marceu Vieira.
 Menescal e Wanda Sá  trabalham juntos desde o início dos anos 1960 e, de lá pra cá, construíram  um trabalho muito consistente na história da música brasileira. Fazem parte de seu repertório grandes clássicos da bossa nova, revigorada pelas comemorações de seus 50 anos.
 Os compositores Galante e Marceu, mais conhecidos como produtor e músico, o primeiro, e jornalista, o segundo, têm investido, nos últimos dez anos, numa parceria de música e letra (assim mesmo, com esta divisão) já gravada por artistas como Nilze Carvalho, Ana Costa, Mariana Baltar e Clarice Magalhães, entre outros. Mas o que há em comum entre Menescal & Wanda e Galante & Marceu para justificar este show? 
 Há algumas coincidências. Menescal teve como parceiro mais constante Ronaldo Bôscoli, jornalista. Marceu Vieira também é jornalista de ofício, além de compositor. Roberto Menescal é guitarrista, arranjador e produtor. Tuninho Galante, idem. Ambos, Galante e Menescal, têm seu próprio selo musical. 
 Menescal, durante bom período da vida, afastou-se do dia a dia da música para se dedicar ao trabalho de executivo (na Polygran). Galante, também, dedicando-se aos ramos de comunicação e futebol. 
 O caminho dos dois se entrelaçou, inicialmente, em 1986, quando Galante, então guitarrista e arranjador da cantora Fátima Guedes, foi responsável pelo arranjo de "Bye, Bye, Brasil", de Menescal e Chico Buarque. A música fez grande sucesso na época. 
 Em paralelo ao trabalho com Marceu Vieira, Galante toca uma carreira instrumental e, nela, tem um projeto chamado "O Músico que Virou Música", no qual compõe temas dedicados a alguns músicos. Um dos temas compôs, livremente, há uns três anos, dedicado a Roberto Menescal. 
 Quando surgiu agora a possibilidade de Galante e Marceu escolherem padrinhos musicais, o nome de Menescal surgiu naturalmente, em função de todas estas “coincidências”. 
 No repertório, os grandes clássicos da bossa nova do próprio Menescal, além de músicas de Galante e Marceu que fazem parte do CD que acabaram de gravar e ainda em fase de mixagem. A música em homenagem ao padrinho, "Jardim do Menescal", será executada pela dupla pela primeira vez.
Mais sobre Tuninho Galante e Marceu Vieira
 Tuninho Galante e Marceu Vieira compõem juntos desde 2000. Em nove anos de parceria, fizeram mais de 100 músicas. Já foram gravados por artistas como Nilze Carvalho, Ana Costa, Mariana Baltar, Luciane Menezes e Clarice Magalhães, que brilham na Lapa carioca.
 Tuninho Galante é violonista, arranjador e produtor de grande experiência. Já atuou como músico, produtor e arranjador  em discos de artistas como Fátima Guedes, João Nogueira, Beth Carvalho, Marlene, Wilson Moreira, Candeia, entre outros. Nos anos 1990, montou uma produtora fonográfica e lançou o CD "Embaixada do samba". O disco lhe rendeu o Prêmio Fiat daquele ano e lançou sambas importantes, como "Nas asas da canção", de Ivone Lara e Nelson Sargento. Em 2005, Tuninho dirigiu e produziu o CD "Roda de samba no Bip Bip", com participações estelares do mundo do samba, como Aldir Blanc, Wilson Moreira, Nelson Sargento, Valter Alfaiate e Elton Medeiros, entre outros. Compõe ainda trilha para cinema (recentemente, compôs as dos documentários "Outras verdades" e  "Panair do Brasil"). Atualmente, é dono do selo Cedro Rosa, pelo qual lança ainda este ano o CD de estreia de Clarice Magalhães, cantora e percussionista da Lapa, e finaliza, como diretor musical, os projetos de um documentário em longa-metragem e um CD sobre partido alto,  também com grandes nomes desta vertente carioquíssima do samba.
 Marceu Vieira, além de compositor, é jornalista e autor de alguns livros. Trabalhou no "Jornal do Brasil", na "Tribuna da Imprensa", nas revistas "Veja" e "Época", e hoje é o segundo de Ancelmo Gois em sua coluna  no "Globo". Como jornalista, ganhou um Prêmio Esso por equipe, em 1988, e um Prêmio Imprensa Embratel, em 2001. Como escritor, publicou "Nada não e outras crônicas" (Editora Mauad, 1999); "Betinho, no fio da navalha" (com Franklin Martins, Fernando Molica, Emir Sader e Suely Caldas, Editora Revan, 1996); "Bip Bip, um bar a serviço da alegria" (com Francisco Genu e Luiz Pimentel, Edição Independente, 2001); e "Jornalistas que valem + de 50 contos" (coletânea de vários autores, Editora Casa Jorge, 2006). Como letrista, concentra sua produção mais constante na parceria com Tuninho Galante.

 

Dica do Gerdal : Robertinho Silva faz exaltação rítmica, nesta terça e quarta, no palco do Rival, com a sua fantástica orquestra de percussão


Em um dos seus discos, conheci um dos mais lindos registros instrumentais de "Aquarela do Brasil", com arranjo e execução simplesmente primorosos. O amigo Robertinho Silva é "o cara" em questão, um carioca de Realengo internacionalmente rodado, em shows e festivais de prestígio, que encarna, com sorriso de orelha a orelha, em qualquer palco onde se apresente, todo o engenho e a diversidade da percussão brasileira. Autodidata, gravou em estúdio e tocou em performances ao vivo com muita gente de relevo daqui e do exterior, como nos tempos iniciais de carreira com o Som Imaginário, conjunto em que teve como colegas músicos da qualidade de Wagner Tiso, Luiz Alves, Zé Rodrix, Fredera e Tavito, na primeira formação. 
         Estudioso da polirritmia nacional e há muito atraído por todos os nossos universos tímbricos, regionalmente fantásticos e com implicação folclórica, Robertinho Silva, ao criar e comandar uma orquestra de percussão, vem desenvolvendo uma atividade de subida relevância, já que, "pari passu", torna esse apelo cultural, por meio da música, um fator ainda agregador e de transformação social para jovens de comunidades carentes da zona portuária - e adjacências - do Rio de Janeiro. Para eles, portanto, uma orquestra de capacitação social e profissional viabilizada pelo Instituto Bandeira Branca, com patrocínio da Petrobras e apoio institucional das Secretarias de Educação do Município e do Estado, da Unesco e da Prefeitura do Rio. Com a participação especial de Raul de Souza, Carlos Malta, Roberto Mendes e Moacyr Luz, entre outros ("flyer" acima), tal trabalho será apresentado nesta terça e nesta quarta, 17 e 18 de novembro, no Rival, às 19h30, em shows certamente memoráveis e até emocionantes. É bom frisar que o êxito da Batucadas Brasileiras - Orquestra de Percussão Robertinho Silva também se apoia, especialmente, na atuação de um valioso colaborador da empreitada e dela supervisor: Carlos Negreiros, outro percussionista calejado e profundo conhecedor do nosso espectro sonoro de matriz africana.
        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica. 

Dica do Gerdal: Verônica Ferriani canta nesta terça na Modern Sound: voz cheia em CD de reconhecida qualidade (grátis)


Vinda da mesma cidade, Ribeirão Preto, em que há 20 anos reside uma elevada expressão das cordas brasileiras, o violonista e compositor José da Conceição - mineiro de Uberlândia -, Verônica Ferriani trocou o escritório de arquitetura pelo canto popular num movimento profissionalmente acertado. Pode o país ter perdido uma arquiteta de gabarito, mas a MPB certamente se fortaleceu com uma cantora de voz cheia, de reconhecidos predicados no palco e, agora, no disco, com o primeiro CD da carreira, no qual desabrocha com igual competência, haja vista a apreciação elogiosa de gente do ramo, abaixo. Também acima, com "flyer", e abaixo a informação sobre show que fará nesta terça, 17 de novembro, na Modern Sound, às 19h, com canja prevista da admirável Áurea Martins.

***
MODERN SOUND
Lançamento do CD 'Verônica Ferriani'
Part. especial: Áurea Martins
Dia 17/11 (terça), às 19h
R. Barata Ribeiro, 502 - Copacabana (RJ)
Informações: (21) 2548-5005
Gratuito

Saiba mais:
www.veronicaferriani.com.br
www.myspace.com/veronicaferriani


O CD 'Verônica Ferriani' na imprensa:

"Em princípio, é bom que se reconheça, ela é uma cantora que tem voz... segundo, e não menos importante, ela é criteriosa na escolha de canções e músicos."
Lauro Lisboa Garcia (O Estado de São Paulo)

"Continuando nosso papo sobre o ótimo disco da cantora paulista Verônica Ferriani... foi no Bar Frida Khalo, no Recife, que a ouvi cantando pela primeira vez. A recomendação era a melhor possível... Adorei."
Nélson Motta (Sintonia Fina)

"Cantoras que resgatam clássicos existem às pencas. Poucas o fazem com o talento da paulista Verônica Ferriani."
Sérgio Martins (Revista Veja)

"Uma boa cantora não se revela apenas pelos recursos vocais, mas também pela escolha de repertório. Em seu primeiro CD, a cantora paulista Verônica Ferriani soma as duas qualidades."
Ivan Cláudio (Revista Isto é)

"A paulista Verônica Ferriani esbanja carisma... Têm charme todas as notas que canta. Tudo o que escolheu para fazer é feito de um jeito particular, pleno de personalidade."
Aquiles Rique Reis (Diário do Comércio)

"Por sua trajetória em shows de gente graúda como Moacyr Luz e Beth Carvalho,... era de se esperar que Verônica Ferriani chegasse com um disco de samba... Ela mostra que é capaz de muito mais que isso... Golaço. Claro que também tem samba, mas com alguma coisa da pegada contemporânea da mistura, do groove... Uma química excelente pra sua estreia."
Patrícia Palumbo (Rádio Eldorado)

"A cantora paulista Verônica Ferriani, nome fortíssimo do circuito independente, lança enfim seu primeiro disco... Um dos melhores lançamentos dos últimos tempos."
Toninho Spessoto (Blog Acordes)

16.11.09

Caricatura de Dorival Caimmy e paisagem de Salvador


(Clique na imagem para ampliar e ver melhor)

15.11.09

Geraldo Viola, um mestre do fotojornalismo


Foi com imenso pesar que soube da morte do nosso querido amigo e craque da fotografia Geraldo Viola.
Por e-mail de amigos soube que a Missa de Sétimo Dia
será às 11 horas da próxima terça-feira, dia 17 de novembro,
na Igreja de São José à Av. 1º de Março (Centro)
,
ao lado da Assembléia Legislativa (Palácio Tiradentes)

Geraldo Viola foi da equipe da revista "O Cruzeiro" durante as décadas de 60 e 70.
Agregou seu talento na feitura do grande Jornal do Brasil dos anos 70 até o início dos anos 90. A partir daí se integrou à equipe da Assessoria de Comunicação da Firjan.
Fez de tudo em matéria de fotografia, mas o pessoal destaca entre seus principais trabalhos as fotos do lançamento das Apollos 11 e 13, a cobertura da mítica Copa de 70, onde o Brasil se transformou no tricampeão mundial de futebol. Seus trabalhos foram distribuídos pelas principais agências internacionais e suas fotos estamparam as páginas do Washington Post e a resvista Stern.
(As fontes da foto e do texto são o blog imagesvisions e a FIRJAN)

Do fundo do baú - Ilustração: "Santaterê"

14.11.09

2º Festival Internacional de Humor do Rio de Janeiro homenageia Fortuna



Como já foi noticiado antes aqui (veja dica da Folha Seca), vai rolar a partir de segunda-feira, dia 16 (a partir das 19 horas) um baita Festival de Humor no Centro Cultural Correios . Desta vez, além dos premiados da vez, vai contar com uma exposição imperdível, a do grande cartunista e chargista Fortuna. Para mim, o maior chargista que pintou por estas paragens. Rola também uma exposição dos desenhistas franceses (200 anos do desenho francês e otras cositas mas...
O Centro Cultural dos Correios fica na Rua Visconde de Itaboraí, nº 20 - no Centro maravilhoso do Rio de Janeiro. Todos lá!!!

A Companhia Estadual de Jazz  está de volta ao TribOz - o segredo mais bem guardado da Lapa


A CEJ - Companhia Estadual de Jazz , grupo que às vezes também é chamado de Samba-Jazzificator System, está de volta ao TribOz, local muito apropriado para o tipo de som que eles fazem. Recentemente estiveram no Festival Internacional de Jazz de Montréal, e agora estão se concentrando no formato quarteto, com Sergio Fayne no piano, Fernando Clark na guitarra, Chico Pessanha na bateria e Reinaldo (aquele cara do Casseta & Planeta) no contrabaixo. Esta formação tem um repertório basicamente brasileiro (que até pode incluir algo de John Coltrane, mas desde que tenha um jeitão de João Donato).
Desta vez, eles vão tocar : Os Grilos, de Marcos Valle, Café com Pão, de João Donato, Recife's Blues, do Claudio Roditi, Razão de Viver, de Eumir Deodato, De Noite na Cama, de Caetano Veloso... Além de versões "samba-jazzificadas" de The Chicken (um tema do repertório de James Brown), ou de All Blues, do Miles Davis... E também alguns arranjos inesperados, juntando Tom Jobim com Jimi Hendrix e Villa-Lobos com Tim Maia...
Sábado, 14 de novembro, num dos espaços musicais mais interessantes do Rio de Janeiro, o TribOz, comandado pelo trompetista australiano Mike Ryan.
Abertura da casa: 20h30
Horário: 21h a 1h
Couvert artístico R$ 20,00.
TribOz - Centro Cultural Brasil-Austrália
 www.triboz-rio.com
 Rua Conde de Lages 19, Lapa
Estacionamento rotativo na Conde de Lages 44 – R$ 5,00 (20h30 às 1h)
Informações e reservas: 2210 0366 / 9291 5942
myspace.com/companhiaestadualdejazz

Dica do Gerdal: Roda dos Embaixadores da Folia neste sábado no Vaca Atolada - carioquice e samba de raiz no cardápio da alegria em novo bar no Centro


Materializando antigo sonho, o querido amigo Cláudio Cruz, rubro-negro e portelense, é dono de um estabelecimento recém-inaugurado no Centro e já bastante frequentado: o Vaca Atolada. Um novo bar, na área da Lapa, em que a tônica é o exercício alegre e cordial da carioquice, onde, além das refeições de sabor caseiro e dos deliciosos caldinhos e petiscos, servidos de segunda a sábado, a boa MPB, sobretudo o bom samba, marca presença permanente. Filho do pianista e compositor César Cruz (parceiro da esquecida Dora Lopes num samba de puro telecoteco, "Dicionário da Gíria"), o perseverante Cláudio é presidente dos Embaixadores da Folia, o bloco que mais têm saídas durante o carnaval e, antes dele, no primeiro sábado imediatamente anterior ao da festa, um animado desfile à meia-noite - comecinho de domingo, portanto - por ruas do Centro do Rio, intitulado O Pierrô da Madrugada..
           Àqueles interessados, os Embaixadores da Folia já se preparam para o próximo reinado de Momo e realizam hoje, 14 de novembro, a partir das 16h, a sua mui agradável roda de samba ("flyer" acima), seguida, das 21h em diante, de show do cantor e compositor Roberto Serrão, acompanhado pelo conjunto Cara da Gente. É isso aí, Cláudio! Boa sorte ao empreendimento! 
          Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.

Dica da Folha Seca

Recebi um e-mail do pessoal da livraria Folha Seca falando de uma exposição muito importante para a história do humor gráfico brasileiro - lá vai:

Nesta segunda-feira, 16 de novembro de 2009,

inaugura-se aqui ao lado da livraria, no Centro Cultural dos Correios,

a exposição do Fortuna, que é o homenageado este ano no Festival Internacional de Humor no Rio.

O curador da exposição é o nosso Cássio Loredano, que promete um susto para o público: "ver uma grande seleção do trabalho deste gigante reunida vai dar uma dimensão melhor da importância desse humorista de raça".



Então não se esqueçam:

segunda-feira, 16 de novembro de 2009,

a partir das 19h no

Centro Cultural dos Correios

rua Visconde de Itaboraí, 20

não é necessária apresentação de convite



Aproveitando: amanhã, sábado 14, continua a roda de Choro no Antigamente

(e também nossa promoção dos cd's da loja com 15% de desconto nesse dia)

Do fundo do baú- Ilustração : Hitler Tiranossauro

13.11.09

Do fundo do baú - Ilustração : Opostos

Mais um brinde: Um Cartum de João Zero


(clique na imagem para ampliar e ler melhor a legenda do cartum)

12.11.09

Dica do Gerdal: A cantora Andréia Pedroso e o pianista Alfredo Cardim são grande atração desta quinta em "happy hour" na Uerj (grátis)


Pianista que já integrou, no Rio, no limiar dos anos 70, o quinteto de Haroldo Mauro Jr. num momento em que este trocou o teclado pela bateria (ambos, aliás, pouco depois, tentariam juntos a sorte nos EUA, chegando lá na mesma ocasião); mais tarde, fez parte, de volta às noites cariocas, do Fogueira Três e, mais recentemente, de novo morando nos EUA, do DNA Bossa Trio - juntamente com o baixista Nílson Matta e o baterista Duduka da Fonseca -, o conceituado Alfredo Cardim, já ensaiando nova e longa permanência no Rio, apresenta-se nesta quinta, 12 de novembro, às 18h, com uma sensível e ótima cantora, Andréia Pedroso, no Teatro Odylo Costa, filho, na Uerj (tel.: 2334-0048). Um "happy hour" da melhor qualidade.
         Um bom dia a todos. Grato pela atenção à dica.
 ***
A tempo: houve um erro de informação no "flyer" acima. A data correta é a de hoje, 12 de novembro, no endereço nele indicado, com início previsto do show para as 18h. 

Dica do Gerdal: Alex Ribeiro canta sambas próprios e recorda o pai, Roberto Ribeiro, em show nesta quinta na Lapa


Vejo a avenida enfeitada, florida, armada pra receber meu amor/será que ela vem com o mesmo sorriso que me conquistou na Rua do Ouvidor..." 
 

            Prematuramente retirado de cena na MPB, morto por atropelamento em 1996, Roberto Ribeiro caiu no agrado da moçada que revigora a tradição musical da Lapa, gente que, além de ter nele uma grande referência na interpretação mais simples do samba, acolhe nas rodas faixas de sucesso extraídas dos diversos elepês gravados pelo campista, da autoria de nomes que ele ajudou a projetar, como Nei Lopes e Wilson Moreira ("Só Chora Quem Ama"), Zé Luiz e Nélson Rufino ("Tempo Ê" e "Todo Menino É um Rei"), Serafim Adriano ("Ingenuidade"), Jorge Lucas ("Propagas" - este irmão de Liette de Souza, também compositora, parceira e viúva de Roberto) e Flávio Moreira ("Amor de Verdade", em parceria com Liette). Quase todos com passagem por alas de compositores de escolas de samba, universo muito familiar ao próprio Roberto Ribeiro, desde a Amigos da Farra, do chão fluminense de origem, até o Império Serrano, no qual se notabilizou como puxador de sambas-enredo, como os vitoriosos na quadra "Alô, Alô, Taí Carmen Miranda", em 1972, e "Brasil, Berço dos Imigrantes", em 1977, este composto por ele com o supracitado cunhado. "Estrela de Madureira", de 1975, em intenção da vedete Zaquia Jorge, não chegou aos alto-falantes da "avenida", mas ganhou o país numa gravação empolgante e ainda hoje muito lembrada. Anterior a todos esses e destacado na introdução destas linhas, o atraente "Eu, Avenida e Você", com registro fonográfico de 1971, é samba que consta do pau-de-sebo "Quem Samba Fica... - Adelzon Alves Mete Bronca e a Moçada do Samba Dá o Recado", hoje um raro elepê produzido por esse veterano e notável radialista. A menção na letra à Rua do Ouvidor não terá sido à toa, já que lá um pernambucano apaixonado por Teresópolis, Paulo Debétio (parceiro de Jovenil Santos nessa composição e muito ligado, em outros bons sambas, a Paulinho Rezende), trabalhou, antes da atividade musical, numa joalheria. 
            Com "flyer" acima e "release" abaixo, repasso informação relativa ao show que Alex Ribeiro, herdeiro da qualidade artística do pai e como ele, inicialmente, jogador de futebol, apresenta hoje, 12 de novembro, no Estrela da Lapa, às 22h, com participação da grande cantora, também imperiana de fé, Luíza Dionízio.
           ***
Turnê 2010 - Todo menino é um rei
Alex Ribeiro
Herdeiro de um talento que marcou toda uma geração de sambistas, hoje assume sua criação artística apresentando suas composições e homenageando o grande repertório de seu pai que emociona, até hoje, o público e a todos aqueles que gostam de samba.
Como ele, o Brasil vem conhecendo uma nova geração da Música Popular Brasileira que reverencia seus pioneiros e homenageia seus grandes mestres. Vem reconhecendo o talento da “segunda geração”, dos filhos que assumem que o palco faz parte do sangue e divulgam sua própria personalidade artística.
Alex Ribeiro vem agora, abençoado por seus padrinhos Jorge Aragão e Elza Soares, depois de grandes shows que contaram com as presenças de Monarco, Délcio Carvalho, Dona Ivone Lara, Neguinho da Beija-Flor, Diogo Nogueira, Nelson Sargento, entre muitos outros, convidar seus parceiros de vida para a turnê de 2010, “Todo menino é um rei”, a cantarem os grandes sambas imortalizados pelos mestres da nossa música.
Para esta turnê, Alex Ribeiro deseja dividir o palco com essa nova geração, seus amigos e parceiros, e com os grandes nomes do samba e da MPB, para uma linda homenagem ao samba!
Abertura da turnê: Todo menino é um rei
Participação especial: Luiza Dionizio
Convidado: Dj Cyro Novello
12 de novembro
22h
Estrela da Lapa
Av. Mem de Sá, 69 – Lapa/ RJ.

Mais um brinde: Uma charge de João Zero

Mal estar nos gramados


Quando a gente começa a discutir mais a arbitragem do que o futebol que os times estão jogando, alguma coisa está acontecendo de ruim. O futebol é uma modalidade de disputa que tem regras, uma sublimação da guerra, uma violência domesticada, ou como diria Norbert Elias, uma antítese do vale-tudo, um grande passo no processo civilizatório. O grande sociólogo talvez tenha esquecido que é arte também - uma arte ameaçada pelo relevo da interpretação das jogadas.

11.11.09

Anuário do Saci , mais informações


Botei no ar material de divulgação do Anuário do Saci, mas lamentavelmente esqueci de dizer que o nosso craque do cartum, João Zero está nele. Zero fez os desenhos relativos ao mês de agosto . O Anuário do Saci, na verdade é uma agenda Trienal que pode ser usada em 2010, 2011 e 2012.

Vou botar o texto todo sobre o lançamento:

Em terra de Saci, "raloín" não tem vez e até o
anuário é folclórico. No Anuário do Saci e seus
amigos, a cada mês você conhecerá um pouco de
personagens e lendas do folclore brasileiro, além de
muitos acontecimentos que marcaram cada um dos dias do nosso
calendário. Uma das histórias é a do deus Jurupari,
filho e embaixador do Sol, que sumiu após nascer da virgem
Tenuiana, e só reapareceu quinze anos depois, acabando com
o poder das mulheres que governavam nossas terras.
Lendas regionais não ficaram de fora, como a da Cotaluna,
nossa sereia paraibana, que apesar de também ter os mesmos
encantos sobre o sexo masculino como as sereias
tradicionais, só se transformam na estação chuvosa,
sendo mulheres normais no resto do ano.
Essas e outras lendas, contadas com o humor leve e a
narrativa envolvente de Mouzar Benedito e acompanhadas pelas
ilustrações de Ohi e Zero, recuperam a mitologia
brasileira e fazem-nos aprender que nossa cultura é muito
mais rica do que pensamos.

Além de mostrar cada uma de nossas lendas, esta Agenda tem
a peculiaridade de ser útil por 3 anos, trazendo em cada
mês os três calendários correspondentes
(2010/2011/2012). Fatos importantes e marcantes da nossa
história foram também cuidadosamente selecionados e aqui
estão publicados, para que sejam relembrados.

Anuário do Saci e seus Amigos
Mitologia Brasílica
(Agenda Trienal – 2010/2011/2012)
Editor: Renato Rovai
Texto: Mouzar Benedito
Ilustrações: Ohi e Zero
Projeto Gráfico: Carmem Machado
Revisão: Mauricio Ayer
Edição limitada
1ª Edição - lançamento outubro de 2009
São Paulo – 2009
Editora Publisher Brasil

Do fundo do baú : Brasil e a Sinuca

Show de Rui de Carvalho e Samba na Cabeça no Centro Municipal de Referência da Música Carioca Artur da Távola nos dias 13 e 14 -Sexta e Sábado


Noel Rosa fará 100 anos em 2010. O poeta continua mais vivo do que nunca. Agora, nos dias 13 e 14 de novembro de 2009, sexta e sábado, às 19h, Rui de Carvalho, e o grupo Samba na Cabeça (Herivelto Barros – violão, Júlio Rabello – cavaquinho, Saulo Dansa – Trompete, Batatinha - banjo e percussão, Marco Neves e Paulinho da Cuíca – percussão, e como convidado especial, o baixista Flavio Pereira que fez os arranjos e o compositor Zé Arnaldo Guima que dará uma “canja”. O repertório será Noel Rosa, João Nogueira,  Paulo Cesar Pinheiro e outros bambas. O show será gravado e filmado. O Centro Municipal de Referência da Música Carioca Artur da Távola, na rua Conde de Bomfim, 824 – Tijuca (esq. Coma a Rua Garibaldi) e a Classificação é livre.

10.11.09

Mais uma bacalhoada do Filósofo Sandaum


Até que o filósofo andava meio sumido, metido que estava nas areias das praias do Rio, mas não se aguentou e veio dar uma filosofada, depois que leu no jornal a barbaridade do caso da menina da mini-saia na faculdade.

Dica do Gerdal: A cantora Letícia Carvalho lança o primeiro disco de carreira nesta terça-feira em show no CCC


Após estudar sociologia e formar-se em jornalismo, Letícia Carvalho reencontrou-se com uma atividade artística exercida ainda menina: o canto.  Do coro infantil até o CD "Essa Não Sou Eu" - lançado nesta terça, 10 de novembro, às 21h, no Centro Cultural Carioca -, ela foi vocalista de Alcione, quando em turnê da Marron pelo país com o disco "Valeu"; integrou o grupo Celacanto, que acompanhou Joyce em vários shows; "crooner" do Batacotô em apresentações em Caracas; e protagonizou o musical "L`Amour", cantando sucessos inesquecíveis de Edith Piaf, como "L`Accordéoniste", "La Vie en Rose" e "Non, Je Ne Regrette Rien", o que mais tarde se repetiria em shows próprios. Reunindo canções do seu agrado, sem ainda definir um estilo, como diz, a afinada Letícia, filha de músico e, ela mesma, professora de canto, traz no seu primeiro CD, por exemplo, composições de Chico Buarque ("Mil Perdões"), Cláudio Lins ("Teatrinho") e Ivan Lins ("Emoldurada", na bela parceria com Celso Viáfora). Produção e arranjos do multi-instrumentista carioca de cordas João Gaspar, presente entre os gabaritados músicos desse show de logo mais à noite no CCC ("flyer" acima).
           Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.

Dica do Gerdal: Sanny Alves canta nesta terça-feira em Copacabana - novo CD com brilho solar na interpretação



"Sunny" na palavra, no sorriso, no canto e no gesto, a bela morena Sanny Alves é presença ensolarada na noite carioca e também na nossa discografia popular, como já demonstrou no primeiro CD - "Da Cor do Pecado", em 2003, produzido pelo músico paulista Vasco Debritto e lançado apenas no Japão - e volta a demonstrar no segundo, "Samba e Amor", pela Fina Flor, com produção e arranjos do competente Ruy Quaresma. Este um disco com lançamento nesta terça-feira, 10 de novembro, às 19h, na Modern Sound, em Copacabana ("flyer" acima), em show de que também participarão, especialmente, o contrabaixista Luiz Alves, referência no acústico nacional e pai da moça, e o compositor e escritor Nei Lopes, de quem recomendo - não apenas como uma história de vida, mas também pelas reflexões que suscita - uma biografia muito bem escrita pelo jornalista Oswaldo Faustino para a recente série Retratos do Brasil Negro, da Selo Negro Edições.      
       Inicialmente revelada, em 2002, em faixas de "Saudade Demais", CD que marcou o retorno do grande Arthur Verocai ao disco solo após longa ausência, Sanny teve, no ano passado, após outros espetáculos em teatro, um desempenho bastante apreciado e aplaudido como Elizeth Cardoso na peça "Divina Elizeth". Brilho próprio, portanto, para uma carreira bem-sucedida aqui e ensolarada até mesmo no exterior é o que não lhe falta: o "the Sanny shine in", bem brasileiro, aliás, na iluminação interpretativa das canções.
       Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
 

Mais um brinde: Um cartum de João Zero

9.11.09

8.11.09

Centenário de Nascimento de Beatriz Vicência Bandeira Ryff


(Este blogue tem a honra de publicar o texto de Maysa Machado sobre esta adorável guerreira que é Beatriz Vicência Bandeira Ryff. Recebi o presente de ter convivido com seu filho Vitor Sérgio Ryff, que foi meu grande amigo.)
Dona Vivi faz cem anos!
O Leblon é um bairro claro, o sol entra cedo pelas frestas das cortinas de tiras de bambu... A brisa lhe faz companhia. Depois, um vento encanado passeia, sem pedir licença, pelo longo corredor. É comum ouvir-se o estrondo das portas... Que nos tira o sossego.
 
Está quieta em seu canto. Deitada no quarto, a cabeça no sentido contrario a porta de entrada, voltada para as ondas do mar.
O espaço pouco que ocupa... menor fica com o passar do tempo. Não diria que definha.
Desvanece.
Está quase nuvem. Branquinha, como num céu bem azul e luminoso, independente do movimento dos pássaros, do farfalhar das palmas dos coqueiros, lá onde o asfalto se perde em areias e depois vira mar imenso.
Seu sorriso não aflora constante; nem há sinal das angústias tantas sentidas pela vida, nas muitas lutas que travou.
Seu rosto é expressivo, contém viço e boniteza. Rugas? Pele sulcada por elas? Não, ali não residem, não fizeram nenhum estrago no semblante, ainda, altivo.
Está serena, desligando-se aos poucos do fio - terra que a mantém viva.
Que fio será esse? Cada um tem o seu.
O dela dura um século. Medem-se os sonhos, perdas, dores... Mede-se, também, uma invencível determinação tecida em poesia e alguns travos de amargura.
Tem a aparência cuidada. A dignidade a acompanha, pois, nada pede ou precisa.
As sombras lhe cobrem, dia e noite, o horizonte, mas disso não reclama. Uma vez que escolheu a treva progressiva.
No silêncio vive. Dá-nos a impressão que assiste sua história, numa tela em que as imagens, antes indeléveis, agora se esfumam, com suavidade e, não deixam qualquer possibilidade de serem mostradas de novo.
Há economia dos movimentos... É preciso não mexer com quem está quieta! Frase ouvida várias vezes, nos últimos anos, acompanhada de um sorriso maroto.
                                                              
Nos primeiros anos de convivência, minha curiosidade era aguçada, por uma faiança pendurada à porta de seu quarto. O ladrilho, em fundo branco, transcrevia um adágio italiano. Nele, a mulher vista sob o interesse masculino, relacionado às suas idades - dos 20 aos 60 – e comparando-as aos 5 continentes.
Um convite perigoso, quase um desafio para as mais jovens; desdenhava o passar dos anos, com encanto.
 
Nós duas aprendemos que o tempo pode ser cultivado.
Em nossos encontros li, para mútuo deleite, uma edição das Cartas de Graciliano Ramos - seu querido amigo, as crônicas leves e bem-humoradas de Rubem Braga, os textos densos de Nélida Piñon, Lygia Fagundes, Cecília Meireles.
Em todos esses momentos acrescentou reflexão lúcida, fresca, interessante.
Com imensa sensibilidade respirou o ar delicado de seus poemas e, renovada, os recitou de cor.
Por gosto cantamos.
Antiga professora de música e de técnica vocal, do Conservatório Nacional de Teatro, foi relembrando canções do folclore amazônico, as de Waldemar Henriques, como Tamba-Tajá; as canções imperiais na obra de Carlos Gomes - Tão longe de mim distante; as Bacchiannas de Villa-Lobos; algumas canções praieiras de Caymmi. E, da MPB, do seu preferido Paulinho da Viola, repetiu momentos cantarolando que Viver não é brincadeira não...
 
Muito tenho aprendido com as histórias e lições de sua vida. Da militância comunista, às prisões políticas, ao exílio em dois períodos distintos de ditadura em nosso país.
Gosto de sua poesia. E, acho pitoresca sua opinião irredutível, prefere ser chamada POETISA e jamais poeta!
 
Nossa intimidade foi uma construção difícil. Um tempo longo nos atravessou, mas o mesmo tempo trouxe-nos como fruto maduro, em nossas vivências, o que pode ser chamado: apaziguamento.
Tornamos-nos amigas.
 
Vivi, Beata, outros apelidos tem, mas é no seu próprio imaginário a Beatrice, de Dante. Faz pouco o declamava no original.
 
Dichoso cumpleaños, señora!
Mamá hace cien años.
 
 
 
 
• Beatriz Vicência Bandeira Ryff, carioca, do Méier, nascida em 08.11.1909. Uma mulher brasileira que se dedicou à causa da transformação política e social em seu país. Participou de distintos momentos históricos pela luta a favor das liberdades democráticas, dos Direitos Humanos e, por mais de oitenta anos, o fez a cada dia.
•  Presa política no período da ditadura Vargas, companheira da Cela Quatro com Nise da Silveira, Maria Werneck e outras corajosas companheiras. Inclusive Olga Benário.
• Exílios na Argentina, Uruguai (1936/37). Asilo na Embaixada da Iugoslávia 1964. Exílio na França - durante o Golpe de 64/67
• Vivi – apelido de criança, dado por seu amado pai. Alípio Abdulino Pinto Bandeira, militar do exército companheiro do Mal. Rondon.
      Perguntei se gostava de ser chamada assim. Respondeu com um sorriso feliz no rosto:
      - Gosto muito!
      Uma pausa e, acrescenta:
      - Não esqueço o que fui!
• Beata – apelido dado por seu marido jornalista Raul Ryff, falecido em julho de 1989.
• Uma das fundadoras do Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas.
• Teve três filhos. Vitor Sérgio, jornalista (falecido), os gêmeos: Luiz Carlos (Físico) e Tito Bruno (economista).

 
Santa Teresa, novembro de 2009.
 
Maysa Machado
(socióloga, militante política e sua ex-nora).
 

Dica do Gerdal:Jorge Roberto Martins recebe os amigos para um bate-papo sobre choro, neste domingo, em Paquetá


Àqueles que dispuserem de tempo para uma ida, neste domingo, 8 de novembro, a esta ilha encantadora que é Paquetá, A Pérola da Guanabara em antiga e ainda vigente antonomásia, segue, com "flyer" acima, uma ótima opção de entretenimento cultural: um bate-papo sobre choro com o jornalista Jorge Roberto Martins, filho do grande compositor Roberto Martins (que completaria 100 anos de idade neste 2009) e um profundo conhecedor do assunto. " E la nave va..." para mais uma jornada de descontração e alegria sob um céu de flamboiãs.
         Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
 

7.11.09

Difícil de engrenar!!!!


Tá difícil de engrenar nesse blogue. Culpa da realidade que anda rápida demais. Primeiro morre o centenário Lévi-Strauss que me fez perder noites decifrando seus livros.Prometi digitar uma antiga resenha sobre ele, mas nem deu tempo de começar... Caetano Veloso chamou nosso Presidente de analfabeto no Estadão... Pô Caetano, que preconceito é esse com o pessoal que não sabe ler??? Ia escever alguma coisa sobre isso e bati de cara com as comemorações dos 20 anos da queda do muro de Berlim, com U2 e tudo mais. Claro que tenho coisas a falar sobre esse evento que marca o fim do Século XX, segundo Hobsbawn...mas necas de escrever sobre o Trabant (é assim que se escreve?) atravessando a muralha...De repente vi o documentário "This is it" que registra os últimos momentos no palco desse gênio que foi Michael Jackson - claro que tinha coisas a dizer sobre , mas aí morre Anselmo Duarte, o único brasileiro a ganhar a "Palma de Ouro" em Cannes com um baita filme : "O Pagador de Promessas"- foi um cara que sofreu muito preconceito e eu tinha coisas a dizer também sobre isso. Enquanto tudo isso rolava, nas ruas os termometros marcavam 40 graus. Nesse calor brutal que impede Tico de falar com Teco e derrete catedrais Nelson Rodrigueanas, eu confesso que perdi o rumo...mesmo assim terminei a leitura do excelente livro de Mario Vargas Llosa, "Guerra do Fim do Mundo"que fala de Canudos, o que me fez enfentar a pedreira que é "OS Sertões" de Euclides da Cunha. Canudos é um tema que me persegue e pretendia falar algo a respeito, mas quem diz que eu consigo traçar pelo menos um esboço?... Na tarde do sábado, depois da feira, sentei em frente da TV e vi o grande Vasco da Gama voltar para a primeira divisão... tudo numa velocidade de deixar Paul Virilio sem fôlego e aí apareceu uma notícia sobre um concurso de Garota da Laje,então corri para perto do ar-condicionado junto com minha mulher que lá estava refugiada e esperei o mundo dar uma paradinha...Tá ou não tá difícil de engrenar???

Do fundo do baú: Ilustração "A sombra do livro"


Com o calor que está aqui no Rio, juntar uma idéia com outra é quase impossível, digitar então... Por enquanto boto no ar uma ilustra antiga.

6.11.09

Feliz explicação


Acho que está na hora de explicar aos amigos navegantes a razão do meu recesso. A procura das palavras certas e a emoção me travaram, mas agora acho que vai :
Fui até Paris para participar da cerimônia de casamento de meu querido filho. Ele casou com uma linda, doce e corajosa mulher. Espero que sejam felizes nesse novo caminho que escolheram. El camino se hace caminando... pelo menos me parece que eles pensam assim...
Tudo foi muito bacana nesse tempo que entrei como que flutuando: a solenidade na Prefeitura ( lá eles casam na sede da Prefeitura do bairro onde moram), a surpreendente festa numa cidade próxima de Paris, o nosso curto e agitado convívio desses dias. Fiquei muito emocionado e feliz por poder estar junto de meu filho nesse momento, nós que habitamos continentes separados por um Atlântico, esse mar grande que foi atravessado por nossos ancenstrais para buscar a sobrevivência que uma Europa( naquele tempo) famélica não conseguia dar. Sempre tive muita dificuldade de me despedir desse meu filho, o "meu garouto", mas agora, meu coração se tranquilizou apesar da diferença do fuso horário.
Voltei muito cansado e não consegui botar ordem na bagunça deste blogue.
Do reencontro com a cidade Luz acho que vai brotar uma série de croniquetas, só preciso superar o calor brutal desse trópico que me derrubou logo que cheguei e me entristece a cada dia que passa.

Dica do Gerdal: Fernando Caneca é o convidado de hoje do Música & Prosa, show com bate-papo conduzido por Amaury Santos em Niterói


Muito bem conceituado na praça, acompanhando em gravações e turnês nacionais e internacionais atrações de massa, como Gal Costa, Emílio Santiago, Simone, Ivan Lins, Marisa Monte e Vanessa da Mata, o guitarrista, violonista e compositor Fernando Caneca é um pernambucano que, ainda adolescente, veio morar em Niterói, onde principiou o seu contato com a música por meio do choro. Admirador dos solos de Wes Montgomery, ainda em 1984 participou da Orquestra de Violões da UFF, regida por Francisco Frias, destacando-se na carreira por tocar com desenvoltura ritmos bem diferenciados entre si. Com Cesinha, à bateria, e Fernando Nunes, ao baixo, integrou o trio instrumental Flenks, com CD lançado em 2000, e, quatro anos depois, fez um excelente CD solo, "Visitando Canhoto da Paraíba", pela Deck Disc, bem clareado por luz própria na releitura de composições desse mestre paraibano do "violão pelo avesso". Mais recentemente, vem abrilhantando os "shimbalaiês" da talentosa Maria Gadu em shows diversos da cantora e compositora paulistana. Ele é o convidado desta sexta, 6 de novembro, às 22h, do Música & Prosa, um show com bate-papo comandado pelo radialista Amaury Santos, em Niterói ("flyer" acima).
         Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
 

Mais um brinde: Um cartum de João Zero


(Clique na imagem para ampliar e ler melhor a legenda do cartum)

5.11.09

Dica do Gerdal: Livro sobre Victor Biglione, escrito por Euclides Amaral, é lançado nesta quinta em Copacabana


Escrevo esta dica sobre Victor Biglione "no clima", pois ouço o magnífico CD "Uma Guitarra no Tom", em que ele extrai do seu instrumento desenhos harmônicos de intensa beleza para prestar o seu tributo - este, sim, não oportunista, mas agregador de valor e inventiva - à obra de Antonio Carlos Jobim, o nosso maestro soberano. Muito bem secundado, por exemplo, por Sérgio Barrozo, ao baixo, e André Tandeta, à bateria, na recriação personalíssima, quase "coautoral", de temas como "Mojave", "Chovendo na Roseira" e "Fotografia", Victor faz um disco resumidor de toda a sua sensibilidade, à flor das cordas, e enorme capacidade de execução. 
        Nascido em Buenos Aires, mas entre nós desde os seis anos de idade e aqui naturalizado, Victor é o músico estrangeiro que mais tocou, na história da MPB, em gravações e shows de artistas nacionais ("flyer" acima). Teve a carreira revisitada pelo poeta Euclides Amaral no livro "O Guitarrista Victor Biglione & a MPB", lançado nesta quinta-feira, 5 de novembro, na Livraria Bolívar - Rua Bolívar, 42 (tel.: 3208-3600), em Copacabana -, a partir das 19h. Uma boa pra logo mais.
        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.

Do fundo do baú -Caricaturas que eu fiz: Indira Gandhi


Enquanto eu não escrevo sobre o que provocou o meu recesso e não digito o texto sobre Lévi-Strauss que eu prometi, deixo aqui uma caricatura que retirei do fundo do baú - a de Indira Gandhi depois do atentado.
NR: Gripe, Rio 40 Graus...ninguém é de ferro!!!
(Clique na imagem para ampliar e ver melhor)

4.11.09

Crônica da Tinê - Bandeirada (ou Cada um tem o deserto que merece)



A mais, ou a menos,
quando o cavalo é muito grande,
desconfio ser o jóquei muito pequeno.


Se minha cidade fosse toda para dentro e nela chegasse um estrangeiro a apontar na direção do rio, “Ali em frente fica o mar” diante da câmera, eu calada deixaria passar com a cara mais lavada do mundo.
Sem falso orgulho, diria às caras amarradas por tal erro que se o visitante confundiu água ribeira com quebramar, sinal de que nosso rio neste Matão é de bom tamanho, deixem-no falar, alegremo-nos. Pois não sucedeu o contrário naquele Matão de fora, caraveleiros deram com os costados numa enseada em certo janeiro e, na pressa em fincar bandeira d’El-Rey e despachar o carteiro, lhe chamaram de Rio de Janeiro? Nem por pouco os caras-pintadas da época (muito menos os que os sucederiam com aerofotometrias) arrancaram as penas da tanga com grito de guerra ou foram em desagravo pichar as naus com seiva de jenipapo. Ao contrário, mantiveram o nome de batismo apadroado pelo santo flechado, Sebastião. Do outro lado de sucessivas montanhas e séculos, perto do rio corrente, eu rio dos destemperados. Arrisco a dizer que entre a marujada quinhentista houve quem amiúde dobrasse a espinha de tanto rir, “Esse gajo Estácio anda nos cascos!”, seja eu Calpúrnia, Benedita ou Índia-Sentada.
Céus, por quê? Por que Nicolas Villegagnon não vingou?! – “Riôôô? Mais où est le rivière ici? C’est ça?! (o fidalgo à procura do tal rio na Baía de Guanabara) -
Quelle merde est Brèsil! Je detèste mon roi!!!” (pragueja de seu cargo). Ou eu carioca desterrada estaria a escrever este arremedo crônico em franco-banzo-tupinambá.
Desliguei monitor, liguei tevê. Assisti a um documentário. Um saudita levara um novaiorquino para passar dois dias no meio do deserto. No início, o convidado ficou maravilhado com o ar dourado, com a vida resistente que pulsava sob o areal, adivinhava (e depois comeu) cobras, escorpiões e lagartos até seus olhos se embaçarem com o tédio escaldante. Foi aí que o anfitrião aos sorrisos caminhou até ele, e num gesto panorâmico disse-lhe “Isso ninguém pintou, ninguém desenhou, foi a natureza quem fez. E nele sobrevive o homem há milênios.” O turista comoveu-se, chegou a esquecer os grãos de areia a entupir-lhe os buracos do corpo e o desejo por nevascas. Ficou agradecido ao outro por mostrar-lhe a beleza no impensável – “Discordar de você não me impede de gostar de você, de respeitá-lo”.
Fui caminhar. Ao passar pela rodoviária velha, ouvi. Não a cacofonia de metrópole, ou o assovio de areias, mas o povo murmurejante de uma cidadezinha avolumado por vozes infantis sobre bicicletas em torno de algo no meio da praça. Juntou gente. Quis ver. Boné, luvas e meias pretas, rosto pintado de prata, o corpo enrolado na bandeira brasileira estava imóvel sobre um caixote. Lastimei não ter a máquina comigo para registrar as caras ao redor. Não entendiam. Fui até lá, disse para o alto “Dura é a vida de artista” e depositei moedas na garrafa ao chão. Diante da plateia arregalada, a estátua-viva moveu-se lenta, cumprimentou-me e, quando eu esperava ganhar balas, recebi um cartão da sorte, que pelo caminho fui lendo.
Uns acertam no casco, outros, na ferradura. Pode ser um comentário generoso a um blogueiro ultramar que desancou uma brasileira, só por ela ter cometido erros topo-ecológicos enquanto falava sobre as belezas de Portugal – pior, se referiu a ditadura de lá por “mais de vinte anos”. Vejamos: do comandante Mendes Cabeçadas a Marcello Caetano, foram 48 anos cravados nos lusos, uma geração perdida junto a colônias em África. Eu diria que o português ofendido, que ilustrou sua crítica com uma pichação lisboeta pouco gentil, subiu nos tamancos. Os brasileiros conhecemos bem a altura de antigos tamancos: uma única tamancada avaria várias cabeças num só golpe.
Da estátua-viva estreante no lado de cá do rio mixuruca - mais que um artista de rua, menos que um artista da fome, um artista do Sétimo Dia - ficou a minha sorte: “Leia 1Jo 2:15”. Agora, se me dão licença, vou catar uma bíblia.
Tinê Soares (15/10/2009)

Homenagem a um grande intelectual público


(Artigo escrito pelo Professor Marco Aurélio Nogueira em homenagem ao cientista social Carlos Estevam Martins, que faleceu no dia 9 de outubro - foi publicado no jornal O Estado de São Paulo no dia 24 de outubro))
A morte do cientista social Carlos Estevam Martins, aos 74 anos, ocorrida duas semanas atrás em São Paulo, privou a intelectualidade brasileira de uma de suas aves raras.
Carlos Estevam foi daqueles intelectuais de visão abrangente, refinada, avessa a modas, especializações e formalidades. Não atuou somente como professor, ainda que sua carreira docente tenha sido brilhante, tanto na USP quanto na Unicamp. Recusou-se a seguir passivamente os cânones da academia, escapando de suas armadilhas e de sua arrogância. Mergulhou no mundo da gestão e da política, atuando durante anos como diretor de projetos da FUNDAP e sendo Secretário de Estado da Educação por duas vezes, na primeira metade da década de 90, durante os governos do PMDB. Nascido no Rio de Janeiro, trabalhou no ISEB e foi um dos fundadores, o primeiro diretor e o autor do manifesto do Centro Popular de Cultura, da UNE, criado em 1962. Ali, ao lado de Vianinha, Leon Hirszman e Ferreira Gullar, dentre outros, experimentou os caminhos da arte popular. Depois do golpe de 64 e do fechamento do CPC, mudou-se para São Paulo e participou da formação do CEBRAP em 1969, juntamente com Fernando H. Cardoso, Francisco Weffort, José A. Giannotti e Francisco de Oliveira.
Carlos Estevam rejeitou a torre de marfim da especialização e dos princípios abstratos sem se converter em mero operador tecnopolítico. Foi um intelectual público, bem próximo daquela figura que o marxista italiano Antonio Gramsci tornou famosa: um agente de atividades gerais que é portador de conhecimentos específicos, um especialista que também é político e que sabe não só superar a divisão intelectual do trabalho como também combinar “o pessimismo da inteligência e o otimismo da vontade”. Ave rara.
Foi também escritor talentoso, que escrevia para ser lido por todos, não somente pelos pares ou iniciados. Publicou dezenas de ensaios sobre história das idéias, política externa brasileira, redemocratização, sistema político, Estado e capitalismo no Brasil. Alguns de seus livros são preciosos, como A tecnocracia na história (1975), Capitalismo de Estado e modelo político no Brasil (1977), O circuito do poder (1994).
A polêmica foi sua marca registrada, impulsionada por uma inventividade exuberante.
Quando, em 1977, saiu Capitalismo de Estado e modelo político no Brasil, a discussão correu solta. Choveram aplausos e questionamentos. Passado o primeiro temporal, Carlos Estevam escreveu um artigo em resposta às críticas, “A democratização como problemática pós-liberal”, publicado pelo Cebrap. Queria ampliar a discussão, explicitar as “alegrias e dores de cabeça” trazidas pelo livro. Elaborou um texto sintomático do seu modo de ser, saudando os “intelectuais capazes de dar o devido valor ao debate de idéias, audazes trapezistas dispostos a passar por cima das divergências de opinião, que sempre existem, para ir buscar a compreensão empática do ponto de vista alheio”. Nele, declarava sua disposição de dialogar com a sociedade. “Os mandarins são misantropos, comunicam-se com o público impessoalizado ou com os discípulos, jamais com o próximo”.
Foi uma oportunidade de ouro para que se clareassem posicionamentos e estilos: “Nunca consigo fugir à tentação de imaginar que há outros fatos além dos dados disponíveis, assim como não resisto à propensão de supor que qualquer teorização pode ser refeita por meio de mudanças de ênfase, graças à introdução de novos elementos conceituais até então não incluídos na estrutura do marco teórico”. Não duvidava do valor e da utilidade das pesquisas empíricas, mas não admitia que seus resultados pudessem resolver questões e pendências que se alojavam em outras dimensões da vida real. Para ele, o mais importante era interrogar o “presente como fluxo”, buscando as “oportunidades, promessas e ameaças que ele encerra para o futuro dos diferentes grupos e classes sociais”.
O rigor com palavras e conceitos foi outra de suas preocupações. Numa das últimas intervenções, em 2005, na revista Lua Nova, manifestou sua perplexidade “face ao que se diz e se prega a respeito de democracia, cidadania e temas conexos”. A situação derivada da hegemonia neoliberal e da emergência de uma “nova esquerda romântica” degradara o vocabulário. Em tempos de despolitização, tudo tenderia à diluição. “Nova esquerda” e direita neoliberal se confundem sempre mais e estabelecem “relações homólogas” (isto é, de equivalência, ainda que não de identidade), que ajudam a despojar a política de critérios razoáveis de embate e compreensão. A questão passa a ser a defesa da “sociedade contra o Estado e os partidos políticos”, como se existisse um “Partido Único da Sociedade Civil” que dispensaria tudo o que está institucionalizado.
Daí a “maldição” lançada contra conceitos e valores essenciais para a democracia: Estado, burocracia, nação, partidos políticos, representação. No lugar deles, formando uma espécie de discurso único, um outro léxico estruturado pela dupla mercado e sociedade civil. Como então esperar que a democratização se desenvolva “numa sociedade em que a opinião pública é levada a hostilizar toda uma série de elementos ideais, quadros institucionais e mecanismos operacionais” sem os quais a democracia não pode funcionar?
Carlos Estevam Martins foi um “pessimista da inteligência”, mas em nenhum momento deixou de acreditar que seria possível lutar por um futuro melhor, tarefa para a qual seria imprescindível a presença de uma esquerda “menos subdesenvolvida, que não deixe tanto a desejar”. Como escreveu em 2005, nunca teremos “um vigoroso pensamento de esquerda se cada linha de esquerda não tiver o direito de cumprir o seu dever, qual seja, o de explicitar sua identidade, definir seus antagonistas, cultivar sua tradição e criticar e atualizar sua trajetória no campo da teoria, assim como no da prática política”.

Dica do Gerddal : O centenário Roberto Martins, vigilante mal observado na circulação da MPB, tem obra evocada, nesta quarta, na ABL (grátis)


"Hoje não existe nada mais entre nós/somos duas almas que se devem separar/o meu coração vive chorando e a minha voz/já sofremos tanto que é melhor renunciar/a minha renúncia enche-me a alma e o coração de tédio/a tua renúncia dá-me um desgosto que não tem remédio/amar é viver/é um doce prazer, embriagador e vulgar/difícil no amor é saber renunciar."
 
    Tardou, mas não falhou. Enfim, neste 2009 do centenário do seu nascimento, uma homenagem, ao menos uma, muito merecida, a este vulto da MPB de discrição pessoal inversamente proporcional à projeção da sua música chamado Roberto Martins. Nos seus últimos anos de vida, ele foi amigo do meu pai e, na companhia do meu velho, tive oportunidade de conhecê-lo pessoalmente numa ida ao apartamento onde morava, na Rua Buarque de Macedo, no Flamengo, quando, em visita prolongada, pude saborear as histórias que ele nos contava, com cordialidade, fala mansa e algo gutural, da sua vivência no meio musical, num semblante de homem simples e aparentemente muito disciplinado. A exemplo de outro bamba, Haroldo Lobo, cujo centenário de nascimento ocorre no ano que vem (e quem se lembrará dele, mesmo com a importância que ele tem?), Roberto Martins foi guarda-civil - mais tarde, investigador, até desligar-se da polícia em 1939  - e, "circulando, circulando", no exercício da sua vigilância profissional, pôde conhecer intimamente a cidade e, especialmente à noite, aproximar-se das rodas boêmias, num então ameno Rio de Janeiro, e encontrar aqueles que se tornariam seus colegas em novo "métier", alguns deles seus parceiros. 
    Sucessos, teve-os a rodo, concentrados principalmente nos áureos antanhos dos anos 30 e 40 do século passado, dedicando-se com afinco, dos anos 50 em diante, à questão dos direitos autorais, já filiado à União Brasileira de Compositores (UBC), da qual foi sócio fundador. Além do fox "Renúncia", na epígrafe desta dica - com letra do petropolitano Mário Rossi e gravado em 1943 por um gaúcho, Nélson Gonçalves -, o ex-ritmista da orquestra de Simon Bountman, também com letra de Mário Rossi, mostraria a sua brejeirice no sincopado com "Beija-me", em registro de Cyro Monteiro. Antes disso, Roberto Martins se notabilizara, por exemplo, pelo primeiro êxito, "Favela" ("...dos sonhos de amor e do samba-canção"), de 1936, em parceria com Valdemar Silva, na voz de Francisco Alves, e por outro samba, "Meu Consolo É Você" (com Nássara), na voz de Orlando Silva, vencedor de certame carnavalesco da Prefeitura do Rio em 1939. Também no carnaval, na década seguinte, a serpentina da sorte o alcançaria no compasso de marchas imorredouras, como "O Cordão dos Puxa-Sacos" (com Frazão), em 1945, pelos Anjos do Inferno, e "Pedreiro Valdemar" (com Wilson Batista), em 1949, por Blecaute. Embora recentemente revivido em disco por Zélia Duncan e Moacyr Luz, é um compositor que precisa ser mais observado e considerado no eterno retorno das reminiscências, o que até inspiraria desejáveis regravações. "Lá na rua onde moro/ no 212/mora a mulher que eu adoro/que, quando eu passo, faz pose..." Quem sabe, um belo dia, o "212", mais uma dele com Mário Rossi?        
    Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
 
 ***
 A tempo: a homenagem a Roberto Martins, falecido em 1992, aos 83 anos, será prestada nesta quarta, 4 de novembro,  ao meio-dia e meia, por Cristina Buarque e pelo ótimo Samba de Fato, em mais uma atração da série MPB na ABL.

Um passeio pelo mundo de Lévi-Strauss

O sábio morreu no sábado e só hoje comunicaram que ele tinha pedido o boné. Em homenagem a esse homem que me obrigou a passar muitas noites em claro, tentando entender sua selva estrutural, amanhã procurarei botar no ar um texto que escrevi em 1992, no qual faço a resenha de um livro que ajudava a entender seu mundo e sua personalidade.
Até amanhã.

Meus cartuns pré-histéricos

3.11.09

Dica do Gerdal: Pedro Miranda lança "Pimenteira", nesta terça, no Rival, com a bênção de Caetano Veloso


Outro dia, voltando do trabalho, na Barra, salto do coletivo "via orla" no Leblon e caminho por boa extensão do calçadão da praia, na Av. Delfim Moreira. Atravessando o cruzamento desta com a Av. Bartolomeu Mitre, sou chamado pelo Pedrinho Miranda, doce figura, que, por seu turno, de bicicleta, concluía o ciclo das benfazejas pedaladas do dia em ciclovia próxima, morador novo no bairro após um tempo domiciliado em Copacabana, perto da estação Siqueira Campos do metrô. Era noite de uma sexta-feira, salvo engano, e, pouco depois, ele "bateria ponto" no Centro Cultural Carioca para mais uma sacudida noite de samba do Semente. Na nossa rápida conversa, a expectativa dele de "futur papa" de duas gêmeas, logo na primeira encomenda à cegonha. Sempre atencioso e gentil comigo, admiro no Pedrinho, além do talento, a simplicidade, a verve - é um cara engraçado no palco - e a humildade de, conhecedor do seu real valor como ritmista e intérprete de música popular, sobretudo o samba (numa progressão musical do pandeiro à voz que faz lembrar a do octogenário Miltinho), não fazer disso alarde para "marcar uma presença" na mídia. Ele não precisa disso e destaca-se, naturalmente, pela força do valor que tem.
          "Sementeira" é o novo CD solo do Pedrinho, lançamento do qual segue, abaixo, texto de divulgação que recebi da jornalista Monica Ramalho, com direito a elogio rasgado de ninguém menos que Caetano Veloso. 
          Um bom dia a todos. Grato pela atenção à dica.
 
       Pedro Miranda lança 'Pimenteira' neste 3 de novembro no Rival

Expoente da nova geração da Lapa, o cantor e pandeirista Pedro Miranda lança agora o segundo álbum individual, 'Pimenteira' (independente), com inéditas de Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros, Nei Lopes, Alfredo Del-Penho, Edu Krieger e Moyseis Marques, entre outros compositores de todos os tempos. O disco sucede 'Coisa com coisa', de 2006, quando Pedrinho fez sua estréia solo. Existem muitas maneiras de conhecer o timbre antigo do jovem cantor: há anos ele coloca o seu talento a serviço de conjuntos como Grupo Semente, conhecido por acompanhar a cantora e compositora Teresa Cristina, e Samba de Fato, responsável pelo lançamento de um elogiado tributo ao grande Mauro Duarte, ao lado de Cristina Buarque. Fundou e fez parte por mais de dez anos do Cordão do Boitatá, que arrasta multidões nos carnavais cariocas, e do Anjos da Lua, centrado no repertório dos primeiros sambistas.

No show de lançamento do CD 'Pimenteira', a ser realizado em 3 de novembro, às 19h30, no Teatro Rival Petrobras, Pedro Miranda será acompanhado por Luis Filipe de Lima no violão de 7 cordas e na direção musical, Pedro Amorim no cavaquinho e no bandolim, Edu Neves, Rui Alvim, Everson Moraes e Aquiles Moraes nos sopros e Paulinho Dias, Pretinho e Thiaguinho da Serrinha nas percussões. Com participações especiais de Teresa Cristina e do Trio Madeira Brasil.

"Uma coleção de obras-primas", nas palavras de Caetano Veloso
Há muito tempo não ouço um disco inteiro com tanto entusiasmo no coração quanto esse 'Pimenteira'. Acho que ouvi Pedro Miranda pela primeira vez numa faixa do CD de Teresa Cristina – e fiquei maravilhado com a musicalidade, a cultura entranhada, a naturalidade, o frescor. Comuniquei meu entusiasmo a Moreno e ele me disse que conhecia Pedro: logo eu estava com o primeiro CD de Pedro nas mãos. O CD confirmava a muito boa impressão causada pela faixa no disco de Teresa. De modo que, agora, quando ele me entregou uma cópia do seu novo disco, eu já me pus em alta expectativa. Mas não imaginava que estivesse diante de um trabalho de tamanho fôlego. Considero este um disco de grande artista. É um disco fácil de ouvir, maneiro, agradável, porém tem força histórica intensa e convida a reflexões complexas e tão profundas que nem a deliciosa paródia de texto acadêmico que vem no encarte (a respeito da alegoria deliberadamente ingênua de Edu Krieger, “Coluna Social”), poderia satirizar.

Para começar, o estilo despojado do cantor, sem afetação, sem tiques nenhuns, dá conta de toda a possível cultura crítica atual relativa ao canto popular brasileiro. Voz maleável, incrivelmente confortável nas regiões agudas, ele mostra destreza e agilidade sem que se perceba esforço de sua parte. E o fraseado revela reverência e familiaridade com a história do samba. Mas é a escolha do repertório que ilumina as virtudes do seu estilo. Esse repertório (para cuja feitura ele agradece a colaboração de Cristina Buarque e Paulão 7 Cordas) diz tudo sobre o que deve ser dito a respeito do que vem acontecendo com o samba, desde que este se tornou emblema da musicalidade brasileira (“O mito é o nada que é tudo”), passando pelo furacão camuflado que foi a bossa nova, e pela sua recolocação no ambiente que o forjou: a boemia que transita entre certos morros e certas áreas do asfalto carioca. Essa recolocação teve como marco inicial a virada que significou, no meio dos anos 1960, coincidirem as insatisfações de Nara Leão com o surgimento do Zicartola, o início das atividades de compositor de Chico Buarque em São Paulo e o estrelato conjunto de Paulinho da Viola e Clementina de Jesus no Rosa de Ouro. Todos os desdobramentos – de Beth Carvalho ao Art Popular, de Zeca Pagodinho ao Psirico, de Arlindo Cruz a Roberta Sá – estão homenageados nesse álbum coeso, sincero e de grande visão.

O arco de compositores vai de Nelson Cavaquinho a Rubinho Jacobina – e, no entanto, a unidade de visão faz de 'Pimenteira' uma obra autoral de Pedro Miranda. As melodias, em geral com sabor de choro a caminho da gafieira (mas sem deixar de fora nem a chula baiana nem o coco nordestino), sustentam um virtuosismo poético que, por força da perspectiva da escolha do material (e da ordem em que ele vem), sugere um gosto pessoal, a um tempo apurado, exigente e espontâneo, que atravessa todo o disco. Dos versos elegantes de Paulo César Pinheiro para a música rica de Mauricio Carrilho (com ecos de Bororó) ao fascinante jogo embaralhado de imagens atuais no samba de Moyseis Marques, passando pela “Imagem”, de Trambique e Wilson das Neves, e pelo show de bola de Elton Medeiros e Afonso Machado, tudo em 'Pimenteira' transpira grande talento guiado por grande inteligência. O disco fala de tudo o que fala como Nei Lopes fala (na única nota de encarte que não foi escrita por Pedro e Luís Filipe) da série de mulatos que compõem a figura de Compadre Bento: com admiração e intimidade.

Terminei citando muitos dos sambas do disco, mas não é por os achar menos interessantes que não citei alguns: todos são de alta extração, todos fazem o CD soar como uma coleção de obras-primas. O que faz com que esse disco ao mesmo tempo pareça o lançamento de um novo autor e uma antologia de clássicos. Na verdade é o disco que já nasce antológico. A colaboração de Luís Filipe de Lima é decisiva na definição dos arranjos e da sonoridade. Sobre ele (e os demais colaboradores musicais e técnicos) Pedro fala melhor do que eu poderia, nas palavras de agradecimento que escreveu. Quanto a mim, sou mais levado a considerar que a oportunidade foi uma dádiva que Pedro lhes fez.

Eu sempre sou citado como elogiador fácil de moças jovens bonitas que cantam samba. Nunca as elogiei sem que achasse justo fazê-lo. Dizer aqui que o CD de um marmanjo, que nem tipo gatinho é, é algo muito mais importante do que o que essas ninfas têm, em conjunto, alcançado deve dar uma ideia do quanto considero 'Pimenteira' um evento especial em nossa música. E, de quebra, pode dar mais credibilidade aos elogios que faço às moças.

(Caetano Veloso)

SHOW DE LANÇAMENTO
QUANDO: 3 de novembro, às 19h30
ONDE: Teatro Rival Petrobras (Rua Álvaro Alvim, 33 / 37, Cinelândia. Informações e reservas pelos telefones: (21) 2240.4469 / 2524.1666)
QUANTO: R$ 30 (inteira), R$ 20 (os 100 primeiros pagantes) e R$ 15 (meia-entrada)
ETCÉTERA: 472 lugares; Acesso para portadores de necessidades especiais; Bilheteria só aceita dinheiro e cheque; Censura 16 anos.

NR: A foto deste post é de divulgação (foi recortada) e é do grande fotógrafo Bruno Veiga