30.9.07

Em busca de J.D. Salinger- A missão


(Continuação- obs:resenha feita em 1990) Só a paixão motivaria um respeitado escritor como Ian Hamilton – 52 anos, ex- editor de poesia de The Times Literary Supplement, autor de vários livros de poemas, de um estudo sobre revistas literárias e de uma elogiada biografia do poeta Robert Lowell- a tentar o rompimento do invisível mas eletrificado muro erguido em torno do misterioso escritor, que com “O apanhador no campo de centeio”, publicado em 1951, seduziu mais de uma geração de leitores nos EUA e no resto do mundo ( a lenda fala de uma disputadíssima edição clandestina na União Soviética). O poder encantatório desse livro está na forma, no tom com que o personagem principal – o desencantado adolescente Holden Caufield – narra o “negócio de doido” que lhe aconteceu, levando-o ao esgotamento nervoso. “O Apanhador” veio na onda teenage dos anos 50 , que sacudiu os EUA no ritmo do rock; daí o certamente o fascínio que exerceu sobre a juventude.
Muitos anos depois, quando o tempo dos rebeldes sem causa já havia acabado, o livro foi encontrado nas mãos de outro rapaz desencantado, o assassino de John Lennon, que profetizara o fim do sonho em que o poder jovem tinha viajado. O virus daquele “negócio de doido” que inoculava a juventude Americana também alcançou Ian Hamilton em plena adolescência, embora ele fosse inglês: “Quando li “O Apanhador”, aos 17 anos, passei meses sendo Holden Caufield. Levava o livro(…) como uma espécie de talismã. Era para mimmais engraçado, mais comovente e mais certo a respeito de como eram as coisas do que tudo o que já havia lido.”
Esse encanto o levaria, muito depois, a mexer num vespeiro e a se meter num imbroglio autoral ao escrever a biografia tacitamente não autorizada do escritor, “In Search of J. D. Salinger” (Em busca de J.D. Salinger), título apropriado, pois foi verdadeiramente uma busca, por vezes desesperada. O que Hamilton queria fazer era um estudo consistente sobre a vida de J.D.
Sua primeira carta teve uma resposta educada, porém seca: o mito não queria conversa. Mesmo assim Hamilton mergulhou no trabalho. Mas o desencanto foi se apossando dele na medida em que não conseguia depoimentos dos colaboradores de Salinger, surgiam problemas de ordem legal e, por fim, uma carta em que o romancista pedia-lhe com mau humor para deixar sua família em paz.
Salinger, registra Hamilton, tinha poder “para silenciar todos os que quisessem descobrir por que deixara de falar”. E o livro só não se transforma em um muro de lamentações porque o inglês teve energia suficiente para vencer a depressão e fair-play para não se deixar abater completamente pela “Greta Garbo da literatura americana” (nas palavras dele e de certa mídia rejeitada pelo escritor). Humor e ironia são características que salvam o livro do malogro. Além do mais, Hamilton, apesar da admiração pelo escritor, sabia com quem estava lidand. Na abeertura de sua polêmica biografia ele registra: “Eu não tinhaque escrever este livro(…) Quando declarei na carta que meu “projeto” for a encomendado pela Random House, sabia que ele imediatamente acharia que eu trabalhava para o inimigo”.(Continua no próximo capítulo)

29.9.07

Um cantinho sereno na web

Existe um cantinho na internet que precisa ser visitado. Dá boa sorte, é bonito, criativo, comovente, humano. É um fotoblog com intervenções gráficas, um espaço para um café de tarde. O endereço do fotoblog é http://eucantodeolho.nafoto.net

Minha vizinha não gostou do final da novela das 8


Ah! Já ia me esquecendo,minha vizinha me procurou depois do fim da novela bairro, no caso Copabana me engana de "Paraíso Tropical".
Confessou que estava decepcionadíssima com o final da novela. Achou o desfecho barato, sem graça. Afirmou que ficou ridícula aquela coisa que fizeram com a belezura da Guilhermina Guinle em trajes de gari, que aquela representação não respeitava a nobre profissão do que antigamente se chamava de lixeiro, pois com esse tipo de enfoque, o autor queria mostrar a queda da perua deslumbrada (quer dizer da personagem) na rua da amargura e para fazer isso botou a moça num uniforme laranja a limpar o calçadão no meio da camelotagem. O sindicato do pessoal da limpeza urbana deveria dar uma bola preta pro Gigi. E aquela coisa políticamente correta de botar Bebel em CPI pra ficar moderninho , por dentro, up to date etc e tal beirou o óbvio ululante.
A velhinha estava muito chateada mesmo. Disse mais, que Gilberto Braga cedeu às pressões do velho esquema narrativo de fim de novela, todo mundo casa. Como se casamento fosse o destino de todo personagem de novela, o eterno retorno do altar. No fundo ela o achou conservador. Mas disse, por outro lado que acha o cara um dos melhores noveleiros da Globo.
Falou! Tá dado o recado, Dona... como é o seu nome mesmo?

Procura-se Salinger desesperadamente


A partir de hoje, vou publicar em partes (por que é muito longa) uma resenha antiga que tirei do fundo do baú e que foi matéria de capa do Caderno Idéias-Livros do JB de 8 de julho de 1990. Trata-se de “O Enigma Salinger”. Fala de uma biografia que o escritor inglês Ian Hamilton tentou fazer, usando todos os seus talentos para levar o ramancista de “O Apanhador no Campo de Centeio” a sair de sua teimosa reclusão numa pequena cidade do interior e abrir os seus “arquivos” para fornecer algo novo na narrativa obscura que envolve sua vida. Mas a esfinge não deu bola para o biógrafo que teve que recorrer à imaginação para reconstruir alguns aspectos da trajetória desse magnífico autor e ferrenho defensor de sua privacidade. Como aconteceu pouca coisa desde que essa resenha foi publicada, acho que ela ainda é atual, e como se dizia no tempo de “O Pasquim”:” continua válida, e inserida no contexto”. Claro que nesse meio tempo rolou um livro ressentido de uma moça chamada Joyce Maynard que tem por título“Abandonada no Campo de Centeio- meu caso de amor com J.D. Salinger” (Geração Editorial) que tentou detonar o velho Jerome e não ilumina muita coisa da vida e a obra desse autor. (Talvez eu consiga, mais tarde, recuperar a resenha deste outro livro de forma a permitir um apanhado mais completo desse “Apanhador” irrecuperável (no bom sentido, é claro).
O Livro de Hamilton que passarei a historiar tem por título “Em busca de J.D. Salinger” foi publicado no Brasil pela editora “Casa Maria” . A tradução é de Adalgisa Campos da Silva.
Antes de mais nada, quero dizer que minha história com Salinger começou com a leitura apaixonada de “9 estórias” e depois “O apanhador no Campo de Centeio” e aí veio Franny & Zooey e “Pra cima com a viga moçada” No meio dessa travessia literária aconteceu esta resenha que agora passo a publicar, e quando percebi, estava “desenhando” as capas dos livros dele que são publicados pela simpaticíssima Editora do Autor que pertence ao meu amigo Dr. Acosta que eu admiro e respeito muito.
Lá vai então:
PROCURA-SE SALINGER DESESPERADAMENTE
O inglês Ian Hamilton sabia que pisava em terreno minado quando começou a se mover na direção da figura mítica de Jerome David Salinger, autor de “O Apanhador no campo de centeio” (The catcher in the rye). Pesquisador experiente, não tinha dúvida de que era algo como resolver um enigma a sua tentativa de fazer um retrato em close do monstro sagrado, revelar a verdadeira pessoa oculta no cipoal de lendas e pistas falsas.
Aos 70 anos (em 1990, lembrem-se) Salinger é hoje (e ainda hoje em 2007) o mais célebre recluso da literatura Americana. Há um quarto de século ele está recolhido em Cornish, New Hampshire, mantendo-se em silêncio quase absoluto. Publicou seu último conto, Haptorn, 16, 1924, na revista The New Yorker, em 1965, e recusa qualquer contatocom jornalistas e scholars desde quando se sentiu traído pela garota que o entrevistou em 1953 para o Daily Eagle, de Claremont, que não publicou a reportagem na página estudantil, como fora combinado.
Quebrou o silêncio três vezes. A primeira em 1959, quando escreveu ao New York Post a fim de se manifestar sobre a situação dos condenados à prisão perpétua, que não podiam aspirar à liberdade condicional antes de cumprir 20 ou 30 anos de pena. Na segunda, em 1974, ele telefonou para The New York Times queixando-se de que estava em circulação uma edição pirata de seus primeiros contos: “Já imaginou se você tivesse um casaco de estimação e alguém o roubasse? É isso o que estou sentindo.” Acrescentou, então, que desejava para suas histórias Aa “morte natural”. A terceira vez em que saiu à luta foi por causa de Ian Hamilton. É aí que começa nossa história… (continua no próximo capítulo)

28.9.07

27.9.07

Os Optimistas atacam em Botafogo

Para quem este atrás de diversão e arte, uma boa pedida em dose dupla na Sexta-Feira dia 28 de setembro é o show "OS OPTIMISTAS às 21:30h.
Na verdade o evento começa com uma exposição a partir das 20horas - São Telas de Sergio Magalhães e Charges de Aroeira que abrirão a noite no Carioca Gourmet
Rua Voluntários da Pátria 19 (esquina com R. Dona Mariana)
tel: 22267018 reservas@cariocagourmet.com.br
www.cariocagourmet.com.br
Tem estacionamento:
R. D. Mariana 77 Centro Park (R$ 6,00 por 8h)
Todo mundo lá!

Freud de Ralph Steadman é sublime


O Livro "Sigmund Freud" de Ralph Steadman é tão grande que não deu para "escanear" o bicho todo. Não é só grande no tamanho( sem duplo sentido, por favor), pode ser tranquilamente considerado um dos colossos da humanidade. Explico: trata-se nada mais, nada menos, de uma obra do inventor da caricatura moderna, se é que isso existe. Fora o tratamento técnico em que usa vários recursos gráficos e em alguns detalhes até parece gravura. Seu autor, Ralph Steadman é um dos pais de um tipo de caricatura radical que deu muitos filhotes pelo mundo. Ele, inglês de Wallasey, juntamente com outro inglês chamado Gerald Scarfe, subverteram a arte da caricatura levando-a ao inimaginável . Scarfe acho que foi além na arte da exageração. Sua série de caricaturas marcaram os anos 60 e 70 . Ele foi até as vísceras de Richard Nixon na época dos escândalos de Watergate e das tais fitas da Casa Branca. Caricaturou magníficamente as figuras do mundo cultural inglês, são célebres as suas distorções das figuras de Mick Jagger e Keith Richards. Margareth Tatcher,(é assim que se escreve?) a dama de ferro inglesa, ficou obscena. Suas impagáveis caricaturas políticas jamais foram igualadas em crueldade, com todo respeito, crueldade do bem. Ah! Já ia me esquecendo, de quebra fez os desenhos do filme do Pink Floyd , o famoso The Wall.
Steadman, por sua vez, mais clássico, mas não menos radical, também desbundou nas incríveis ilustrações que fez para as famosas reportagens da revista Rolling Stone escritas pelo inventor do "gonzo jornalismo", o atormentado da idéia do Hunter Thompson que , não faz muito tempo meteu uma bala na cabeça por pura coerência com sua vida descacetada. (Quem quiser saber quem era, inclusive com as ilustrações animadas, veja o filme de Terry Gilliam, "Medo e Delírio em Las Vegas "("Fear and Loathing in Las Vegas"- 1998) baseado no livro de mesmo nome de H.Thompson. (só um detalhe, Thompson no filme é interpretado pelo pirata do Caribe Johnny Depp e Benicio Del Toro é o Dr.Gonzo/ Oscar Z. Acosta, companheiro de "viagens" do jornalista "pra lá de Bagdá.
Mas voltemos ao " Freud", este livro que a Ediouro teve a coragem de publicar nessa terra que tem palmeiras ainda e onde o sabiá só canta com jabá e dança o miudinho no meio das balas perdidas. Lançar esse livro aqui é coisa de maluco, mas maluco beleza. Espero que publiquem também o trabalho que ele fez sobre Da Vinci.
O livro "Sigumund Freud" além de desenhos maravilhosos, e bota maravilhosos nisso, é uma viagem de Steadman no universo do chiste , isto é, a tentativa freudiana de classificar esse tipo de humor muito particular e sutil. E mais, traça de leve um perfil biográfico do barbudinho que criou a psicanálise e botou o homem de quatro, no bom sentido, e no mau, mostrando o quanto existe de animal, instintivo, besta-fera inconsciente no ser humano. Sabe-se que ele tentou explicar tudo, inclusive o humor e se deteve sobre o fenômeno do chiste no livro "Os Chistes e Sua Relação com o Inconsciente" no qual considerou o humor apenas do ponto de vista econômico, segundo ele diz na abertura de" O Humor". Mas não é essa economia de índices e porquinhos cheios de moedas , de investimentos libidinais em bolsas de valores e lavagem de dinheiro e trambiques do arco da velha que se praticam por aí. Isso é também sacanagem, é claro, e deveria ser objeto do estudo de Freud que vê no sexo e sua repressão a origem de muitos males da humanidade, mas essa do mercado é sacanagem no mau sentido. E disso entendia Marques de Sade.
Freud explica o que queria no começo de seu texto que trata do processo humorístico: "Meu objetivo era descobrir a fonte do prazer que se obtém do humor e acho qe pude demonstrar que a produção do prazer humorístico surge de uma economia de gasto em relação ao sentimento". O cara não era fácil. quer entender? Leia a edição da Editora Imago Volume XXI que carrega os seus textos antropológicos "O futuro de uma Ilusão" e "O mal estar na Civilização".
Eu pretendia fazer uma resenha do livro de Steadman, mas acho que o que se pode dizer é que ele é para ser admirado, sua leitura deve acontecer enquanto o leitor se deleita com o desenho em estado de pura graça. E a resenha, de resto. seria um aglomerado de palavras, nada mais do que palavras como diria o bardo, por sua vez, ele também, inglês.Salve a grande Albion!

25.9.07

Foi Taís quem matou Paula!


Sabem aquela minha vizinha que sabe o final de todas as novelas desde que Janete Clair era menina e aprendia nas ondas do rádio a escrever roteiros geniais com Gloria Magadan? Pois é , ela voltou com toda corda. O aparelho de TV dela é valvulado ainda, mas imaginação da velhinha está muito além do jardim.
Encontrei com ela no elevador e ela não teve dúvida.
- Está escrevendo aquele troço no computador ainda? É grogue, né?
Eu corrigi:- É blogue Dona ....
- Isso mesmo, blogue, grogue é tudo a mesma coisa!
- Pois bote lá no seu blogue, que eu sei quem matou Taís.
-Peraí, não escreva isso dessa maneira. Diga que eu sei quem matou aquela mulher que morreu lá no apartamento do Daniel e que todo mundo pensa que é a Taís.
- Não foi a Taís que morreu, foi a Paula. A Taís matou a Paula e ficou no lugar dela! É ela que está envenenando todo mundo, é ela que quer complicar o Antenor com o bilhete imitando a letra dele...ela já fez isso na novela.
-Tá na cara ! Só não vê quem não quer. E vai ser a reviravolta mais genial de todos os tempos da Televisão. A novela enfim vai refletir o Brasil amoral que estamos acostumados a ver nas manchetes do jornais e revistas e no próprio noticiário da TV. A vitória da safadeza, do esculhambo, da astúcia, da vilania. Esse Gilberto Braga é um gênio. Só não contava com minha astúcia!
- Mas isso é do Chapolin , Dona... (não consegui terminar a frase)
-É do Chapolin , sim! Aquele Chaves disfarçado de barata antenada.
E para fim de conversa, quero dizer que estou com Chavez e não abro , sou bolivariana, mas prometo que não cancelaremos a concessão da Rede Globo quando tomarmos o poder. Ao contrário, vamos estatizar a Globo. Continuar a fazer essas novelas sensacionais que tanto divertem os nossos sofridos companheiros cubanos. É a única hora em que eles tem algum prazer naquela ilha. Tudo por culpa do embargo norteamericano.....
Foi aí que o elevador abriu. Não tive dúvidas, saí correndo - fui cuidar do corpo, pois a cabeça já tinha sido feita pela velha senhora cujo nome não me lembro. Ainda bem que ela não me deixava nunca continuar as minhas frases...

24.9.07

Coffee and Cigarretes muita cafeína e fumaça


Peguei na minha "Loucadora" o DVD "Coffee and Cigarretes" de Jim Jarmusch e confesso que não gostei. É o chamado filminho cult. Feito para a turma espaço-café. A brincadeirinha de fazer um besteirol em torno de figuras carimbadas do submundo pop jarmuschiano poderia ser uma outra coisa, algo mais interessante. Talvez seja pedir demais. Meio documentário, disfarçado de ficção , faz apenas passar o tempo e acaba mostrando o que está no fundo daqueles lugares onde as figurinhas tomam café e fumam cigarros: o tédio .
Tá certo, o cara que fez a obra-prima chamada "Down by Law"(1986), depois repetiu a dose com "Mystery Train (1989) e já não conseguiu grande coisa com "Night on Earth" (1991), mas fez um belo filme chamado "Dead Man"(1995), tem o direito de tomar café em serviço. Tomar café ralo, é claro. E como gostam de dizer os críticos de segundos cadernos - :"em doses industriais". Tem gente que vai dizer que o cineasta perdeu tempo em "Ghost Dog"(1999). O bom desse filme é o Forester Whitaker. Não vi ainda "Broken Flowers" (2005).
"Coffee and Cigarretes" conta com a participação de : Roberto Benigni que faz o papel do bobo Roberto. Steven Wright é Steven no episódio que se chama "Strange to Meet You", JoieLee é o gêmea boa no episódio "Twins", Cinqué Lee é o gêmeo ruim e também o cozinheiro no episódio "Jack Shows Meg His Tesla Coil".
Steve Buscemi faz o papel de garçom no episódio dos gêmeos onde explica a teoria do Elvis ruim e do Elvis bonzinho.
Iggy Pop e Tom Waits representam eles mesmos em "Somewhere in California"
Joseph Rigano é Joe , Vinny Vella e Vinny Vella Jr são Vinny e Vinny Jr. no episódio "Those Things'll Kill Ya".
Renée French é Renée e E. J. Rodriguez é o garçom no episódio "Renée".
Alex Descas é Alex e Isaach De Bankolé é Isaach em "No Problem".
Por fim, Cate Blanchett é Cate e Shelly no episódio "Cousins"
Tá faltando gente? Ah! Tem Meg White e Jack White no episódio do trasformador de Tesla , tem RZA e GZA e Bill Murray disfarçado de garçom marinheiro e num outro episódito sobre primos , Alfred Molina e Steve Coogan. Os dois últimos fazem o papel de artistas cínicos que brincam com a idéia de ser e conhecer celebridades . Bill Rice e Taylor Mead estão em algum lugar do filme que esqueci quando acordei. Como diria o personagem de "Il Sorpasso" (de Dino Risi) vivido por Vittorio Gassman(interpretando o espaçoso Bruno Cortona que fala de um filme de Antonioni no qual dormiu o tempo todo):- Bello filme esse do regista Jim Jarmusch!

23.9.07

Um brinde de Domingo: Um cartum de João Zero


João Zero, este é o nome do cara. Um tremendo cartunista. Não é por ser meu amigo não, é que o cara é demais mesmo! O endereço do site dele é http://www.cartuns.com.br
Se não fosse a Tinê me lembrar, é que o meu HD zerou e o tal endereço eu esqueci em algum canto do computador e aí vei o socorro da Tinê . Mas vale a pergunta: Existe algum santo protetor do computador? O da TV a gente sabe que é Santa Clara, a mesma que protege aquela rua de Copacabana. Isso! Aquela rua que vai se encontrar com outra Nossa Senhora,a de Copacabana que por sua vez mora perto do lago Titicaca no Peru.Estive lá no altiplano, bem, mas essa é outra história...Vamos curtir a arte do João Zero.

22.9.07

Strange Fruit - Billie Holiday canta contra o racismo



Lady Day conta como essa música maravilhosa nasceu em "Lady Sings the Blues- uma autobiografia"(Editora Brasiliense):
"Foi durante a minha passagem pelo Café Society que uma canção nasceu, tornando-se o meu protesto pessoal-"Strange Fruit". O embrião da canção estava num poema escrito por Lewis Allen. Eu o conheci no Café Society. Quando ele me mostrou o poema, fiquei logo impressionada. Parecia falar das coisas que mataram meu pai. (N.R:O pai de Billie Holiday , Clarence , morreu depois de sofrer o diabo por causa de sua cor na cidade de Dallas, Texas. Ele tinha uma espécie rara de pneumonia e perambulou de hospital em hospital sem que nenhum deles o aceitasse. Encontrou um lugar no hospital de veteranos do Exército, mas aí já era tarde e ele viveu seus últimos momentos numa enfermaria especial para os negros(Jim crwow ward),onde morreu depois de uma hemorragia).
Allen também tinha ouvido falar sobre como meu pai morrera e, naturalmente, estava interessado na minha voz. Ele sugeriu que Sonny White, que já tinha tocado comigo, e eu mesma, transformássemos aquilo em música. Então nós três nos juntamos e fizemos o trabalho em três semanas. Tive também a ajuda de Danny Mendelsohn, outro compositor que havia feito alguns arranjos para mim. Ele me ajudou a arranjar a canção e a ensaiá-la pacientemente. Trabalhei pra diabo naquilo, pois nunca tinha certeza se conseguiria transmitir tudo o que sentia, muito menos para uma platéia chique de night club.
Morria de medo que as pessoas a detestassem. A primeira vez que a cantei, achei que tinha sido um erro e que tinha razão em ter medo. Não se ouviu um único aplauso quando terminei. Então uma pessoa começou a bater palmas timidamente. E, de repente, todos aplaudiram.
Depois de algum tempo a canção pegou e as pessoas começaram a pedí-la. A versão que gravei para a Commodore tornou-se meu disco mais vendido. Acho que ela ainda me deprime toda vez que canto. Me lembra como meu pai morreu. Mas tenho que continuar a cantá-la, não só porque as pessoas pedem, mas porque vinte anos depois da morte de papai, as coisas que o mataram continuam a acontecer no Sul.
Com o passar dos anos, tive uma série de experiências horríveis por causa dessa canção. Era uma forma de separar as pessoas normais das quadradas, e das estropiadas. Numa noite em Los Angeles, uma vagabunda levantou-se no clube onde eu estava cantando e disse:- "Billie, por que você não canta aquela canção sexy que te fez famosa? Você sabe, aquela sobre corpos nus balançando nas árvores".
A canção fala de uma estranha forma de tratar os homens negros no Sul, de corpos nus de homens negros pendurados em árvores, as frutas estranhas do ódio racista. E esse ódio voltou a se manifestar recentemente nos EUA. É a chaga aberta pela infame escravidão , tantas vidas perdidas pela estupidez de tentar impor a idéia de uma raça e além dela, uma raça superior. Em Baltimore, cidade de Billie, em 1984 uns cães ferozes impediram que uma estátua de Lady Day figurasse numa praça.
Bem , chega! Vamos à letra:
Strange Fruit
Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.
Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.
Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.

21.9.07

Da Série Cartuns de Máfia

19.9.07

Documentário sobre Edu Lobo na Praia

O Documentário EDU LOBO VENTO BRAVO de Regina Zappa e Beatriz Thielmann está no FESTIVAL DO RIO na MOSTRA 'O BONEQUINHO VIU' num TELÃO na PRAIA DE COPACABANA (entre Figueiredo Magalhães e Siqueira Campos)
O filme será projetado na SEXTA-FEIRA, 21 DE SETEMBRO, 21 HS-
Sem falta, todos lá! "É de grátis" e é bom. Edu Lobo é o cara, e essas meninas Regina e Beatriz botam pra quebrar!

17.9.07

Hemingway diz que Scott era um porre!


Hemingway e Fitzgerald em dose dupla
O grande Hemingway realmente tinha suas diferenças com o genial Scott Fitzgerald como registrei na anacrônica anterior.( desculpem o tom adjetivado) O velho Ernest não escondia isso. No excelente livro “Papá Hemingway” de A. E. Hotchner (um belo exemplar de reportagem publicado pela Editora Civilização Brasileira- 1967) há um trecho em que "Hem" fala sobre o lado obscuro de porrista do inventor da Era do Jazz:
“Oxalá eu pudesse lembrar-me apenas dos bons momentos que passei com Scott e esquecer o resto; mas era por demais penoso, creio eu. Como na ocasião em que fui visitar Scott e Zelda nas vizinhanças de Baltimore. Eles tinham lá uma bela mansão e convidaram-me para passar com eles o fim de semana. Respondi que podia apenas jantar em companhia de ambos, pois que tinha de voltar para New York, onde estava trabalhando, juntamente com Max Perkins na revisão de provas tipográficas. Fui recebido na estação por seu chofer, Pierre, que estava dirigindo um Hotchkiss especial, um dos mais caros e elegantes automóveis franceses da época. Logo depois que partimos, notei que uma fumaça negra saía do motor. Chamei a atenção de Pierre e ele me contou esta triste história:
- Disse-me que era chofer de táxi em Montmartre, quando certa noite, Zelda saiu de um night club e pediu-lhe que a conduzisse de volta ao Ritz. No caminho parou num lugar qualquer para apanhar Scott e, ao chegarem ao Ritz, Scott combinou com ele para que os levasse , na manhã seguinte, até o Havre. No dia seguinte, quando chegaram ao Havre, onde deviam tomar um barco de volta aos Estados Unidos, Scott teve uma idéia brilhante. Ele comprara um Hotchkiss novo em folha, que estava sendo guindado para o navio. Que poderia haver de melhor do que ter, nos Estados Unidos, um verdadeiro chofer francês? Pierre insistiu em que não falava inglês, e que não tinha consigo roupas nem passaporte, mas, como sempre, o entusiasmo e a persuasão de Scott acabaram prevalecendo, e Pierre abandonou o seu táxi no cais. Scott obteve alguns documentos temporários, os quais permitiriam que Pierre embarcasse .
- Mas, Monsieur Hemingway – disse-me Pierre- desde o momento em que cheguei, a vida, para mim se converteu num pesadelo. Este belo carro…e Monsieur Fitzgerald não me permite que troque o óleo, nem o lubrificante. Insiste em que se trata de óleo francês e de graxa francesa, e que, por conseguinte, não devem ser trocados. De modo que este belo automóvel está pegando fogo. Veja! Diante dos meus próprios olhos! Eu mostro a Monsieur Fitzgerald a fumaça negra; ele sabe o que está acontecendo, mas não permite que eu troque o óleo nem a graxa. Por favor, será que o senhor não pode influenciá-lo?
- Scott vivia numa bela mansão , bem junto à água, cercada de gramado verde e ondulante, mas as grandes árvores a tornavam, de certo modo, melancólica. Scott e Zelda estavam vestidos a rigor e achavam-se bebendo à grande . Scott sabia que eu gostava de borgonha, de modo que havia sobre a mesa seis garrafas de uma safra estupenda, todas já desarrolhadas. Acabei por constatar que eles estavam tomando Mosele, e que o borgonha era somente para mim. Seis garrafas “já abertas “. Você pode imaginar? Havia uma empregada de cor, muito atraente, a servir o jantar e, cada vez que ela servia um prato, Scott dizia: “Você não é o melhor rabo de saia que já tive? Diga a Mr. Hemingway! A jovem não lhe respondia, mantendo a compostura. Ele deve ter-lhe ditto isso umas dez vezes:-“Diga-lhe que grande gatinha carinhosa você é.” Dizia-lhe isso, dezena de vezes.”
O maravilhoso escritor J.D. Salinger( autor de O Apanhador no Campo de Centeio, 9 estórias, Franny & Zooey e Pra cima com a viga moçada) por sua vez não suportava Hemingway, que conheceu depois de seu batismo de fogo na Normandia. Seu biógrafo não autorizado, Ian Hamilton, diz que Salinger encontrou o velho "Hem" em Paris e que considerava o autor de “O Velho e O Mar” um machista inveterado que se deliciava em matar animais em suas caçadas promocionais. Acho que parece que testemunhou uma cena deprimente em que Hemingway despedaçou a cabeça de uma galinha só para mostrar sua pontaria…enfim escritores também se odeiam em doses variadas. Nota: Dizem que Salinger gosta mesmo de um suco natural.

16.9.07

Uma dose de Scott


Uma dose de Scott (Fitzgerald, é claro!)
Dia desses, minha filha me disse que estava lendo os “6
Contos da Era do Jazz” de F. Scott Ftitzgerald (Acho que ela gosta de livros que começam por números, pois não larga um que se chama “9 estórias” de J.D. Salinger) Falou com entusiasmo de um conto no qual um sujeito vai de camelo até a casa de uma moça e de um outro no qual um bebê já nasce velho e ranzinza. Confesso meu HD anda com problemas, não me lembrava de nenhuma dessas histórias apesar de ter tido um dia esse livro e, detalhe: fui eu quem deu essa obra para ela. Comentei, com ar professoral que Fitzgerald era um grande escritor e grande alcoólatra, que Hemingway tinha uma diferança com ele, talvez de grau alcoólico e que em “Paris é uma festa” tentou desclassificar seu parceiro de copo e falou mal de Zelda (mulher de Scott que ficou louca) e também era escritora, de sobra esculhambou Gertrude Stein porque era lésbica.
Mais tarde , no meu apartamento, perdido entre meus livros que por uma espécie de vontade própria parecem buscar uma ordem que desconheço, no silêncio infinito da madrugada enquanto o SBT reprisava mais um episódio de “Além da imaginação”, busquei os livros de Fitzgerald nas estantes, achei logo de cara os 24 contos (do qual só li “Bernice corta o cabelo” “ Um diamante do tamanho do Ritz” e “Amor à noite”) e um outro livro publicado pela Civilização Brasileira cujo título era “A Derrocada e outros contos e textos autobiográficos”, me perdi na sua leitura. Lembrei do Grande Gatsby, uma aula de romance, etc e tal. Estava na última história “Financiando Finnegan (que também está nos 24 contos selecionados por Ruy Castro) quando caiu do meio das suas páginas um velho papel onde estava datilografado um texto de minha lavra no qual descubro que um dia fui outra pessoa (que na época, imagino, vivia um certo desespero). Peço desculpas ao velho Scott e ao leitor pela ousadia, mas resolvi publicar essa escrito. Há nele um mistério e uma inocência que jamais terei e que quem sabe ajude alguém que esteja pensando na morte da bezerra. Acho que tinha intenções poéticas que ficaram no meio do caminho, talvez patéticas (pelo menos rima)
Existe um abril? (esse era o seu título)
Eu espero.
Acordarei amanhã?
Aguardo
Sem mim o relógio vai mudar seus ponteiros,
quartzo imutável que registra a mudança de um tempo eterno, silencioso.
O ar frio desta noite entra na sala. Eu calo um grito , sinto que uns grãos de areia me escapam pelos dedos, não posso retê-los, eu os perco entre os tacos da sala de jantar. Inútil, constato que tudo é vão quando tudo se esvai no instante do Segundo que passa no tic tac da relojoaria de Kafka.
Vão, vazio, brecha, ferida…flor que nasce, quase perfuma e logo fenesce…
Em mim um grito se transforma em trincar de dentes. Ninguém ouve no silêncio do apartamento. As crianças dormem, o relógio continua a mudar os ponteiros indicando um tempo que não muda. Só eu percorro as ruas de uma cidade que está em meus pesadelos e não me movo, acordo, a tv está com barras coloridas e um chiado baixo contínuo. Mudo não ouso acordar as crianças de seus sonhos de papel colorido… Mudo de canal. Um homem troca tiros com outros numa corrida de carros pelas ruas de Los Angeles…As linhas de meu destino me levam de volta ao lar, doce esperança de algodão, imagem de inocência, prisão e refúgio. Ninguém pode chorar por mim agora, só eu posso olhar para dentro desta flor ressecada, e as lágrimas são de sílica, choro o tempo que não vivi e tenho saudades. Invoco os antepassados, quero a proteção deles…Estou navegando à deriva dentro da sala como um astronauta me vejo numa galáxia de valium no lado escuro da lua. Do alto da minha nau solitária ouço o longínquo ruído dos motores da noite. Um sentimento que tenho guardado me pede saída, implora que aguarde, um lembrete no bolso do casaco me lembra que é preciso ter força, que é urgente renegar o que eu sinto para sobreviver. Agora sou força mansa, cólera silenciosa que se esvai na fumaça do cigarro, uma luzinha vermelha se deslocando até a luminária que mostra o papel branco onde o olho experimenta uma dor e a mão transforma o branco em figura, formas, signos que dirão algo num futuro, quem sabe?
Sou a mente que interroga o sentido, a contradição que ameaça explodir … Volto ao dia em que terminei o ginásio, e tive que trabalhar…o tremor diante da Burroughs onde fui fazer um teste de contabilidade e me dei mal. Mais tarde soube que um tal de William Burroughs tinha participado de um almoço nú e depachado sua mulher desta para melhor em Tânger ao imitar Guilherme Tell.
Vejo hoje os filhos, âncoras, pais, país e já não temo. Só me pergunto se isso é possível: viver essa estação provisória, ligo meus condutos a um tempo em que tudo pode acontecer, inclusive eu viver. Alguma coisa me escapa nisso tudo, sou eu que driblo essa angústia. Alguma coisa me prende, sou eu de novo a espreitar o movimento do ponteiro do relógio.
O dia vai nascer e tudo aconteceu como se fossem décadas, e eu espero ainda sem me mover…um cheiro de café vem da cozinha, até mais tarde metafísica!
(Esta crônica tinha por título original “Existiu um abril”)

Era do Jazz não tinha beijo?

Engraçado como as coisas mudam. Em "Seis Contos da Era do Jazz", a filha de Scott Fitzgerald faz uma curiosa observação a respeito dessa obra do pai, que segundo ela, não tinha muito a ver com o Jazz propriamente dito. A gente sabe das ligações sexuais implícitas e explícitas do Jazz com sexo.
Frances Fitzgerald Lanahan, em dezembro de 1959 escreve: "Outra coisa que talvez possa surpreender algum leitor juvenil desta coleção de contos é o fato de que ninguém, nestas histórias, beija ninguém, a menos que haja entre tais pessoas laços matrimoniais ou paternos - com a única exceção , novamente da jovem da gasolina, que pelo seu êxito no jogo de dados, recompensa Jim com um roçar de seus lábios irresistíveis. O livro é inteiramente destituído de sexo, tal como presumimos encontrar nos escritos modernos"
A edição que tenho nas mãos é a da LP&M de 1987-(capa do genial Caulos). Acredito que existe uma edição recente por outra editora que contarei numa anacrônica que republicarei em breve. Estou relendo esses 6 contos sensacionais do F.Scott Fizgerald e me preparando para mergulhar no"Este lado do Paraíso" publicado pela também sensacional editora Cosac& Naify...

15.9.07

Poeminha besta - Hai kai neoliberal

Caricaturas que eu fiz: Pinochet- no Le monde



Esta caricatura eu emplaquei no Le Monde /Jeudi 29 Octobre 1998 - página inteira.
Creio que botei no ar no antigo blogue, mas acho boa para começar nessa nova estrada, uma espécie de "vale a pena ver de novo".

14.9.07

Mais uma bacalhoada do filósofo Sandaum


O nosso filósofo explica o novo blogue em poucas palavras: -Fala Sandaum!