
Tenho muitas dúvidas, algumas do tamanho de continentes. Mas quanto ao esporte, não pago pensão alimentícia a nenhuma incerteza. Ele foi inventado para superar a agressividade do homem das cavernas. Acredito que nas primeiras partidas de futebol, por exemplo, a bola, era o crânio do inimigo.Com o passar do tempo, em vez de trucidar o antagonista, o troglodita passou a disputar quem levantava a maior pedra. O vencedor, batia no peito e urrava e o seu grito ecoava, intimidando seus rivais na savana primeva. Quer dizer, ninguém mais ia na jugular, o objetivo agora era humilhar o adversário, mostrar sua fraqueza. Depois não se sabe o que aconteceu, creio que vieram os campeonatos de cuspe a distância, arremesso de anões, torneios escatológicos e com o passar dos séculos se chegou à sutileza da ginástica olímplica, à delicadeza da marcha atlética (aquela em que o sujeito rebola, mas não tira os pés do chão) e à finesse do nado sincronizado. Claro que existiram alguns desvios. O esporte esteve, muitas vezes ligado à política e ao controle das massas, principalmente entre os romanos, como se sabe apreciadores de um bom spaghetti com muito molho a bolonhesa.Lá o espetáculo dos gladiadores, serviu aos propósito da dominação dos Césares no que se chamou “programa pão e circo zero”. Para deleite do povo, brutamontes se arrebentavam na arena do Coliseu. Como aperitivo tinha sempre um manjar de cristãos, que antecipando o imposto de renda, eram literalmente, jogados aos leões. Bem, é claro que no meio do caminho sobrou gente. Os mais fracos, os inábeis e ruins de bola ficaram de fora e aproveitaram o tempo livre para desenvolver a poesia,(que no começo era uma arte de puxar o saco do herói, que geralmente era um predador – lembre-se de Ulisses de Homero). Os mais “espírito de porco” aprimoraram a arte do chiste, os introspectivos a literatura, os que gostavam de rabiscos aperfeiçoaram as artes plásticas sem falar nos chegados a um barraco que inauguraram a arquitetura e os que queriam imitar os deuses que trataram de botar a mão na massa e inventaram a escultura. Os mais chatos transformaram-se em críticos e os ricos em mecenas e vai por ai…
Mas a atividade humana que mais se manteve perto do homem primitivo foi o esporte. Rolou um discurso que fabulou esse negócio de fairplay, de que “o importante é competir” e outras conversas para boi dormir. Mas no fundo, todo mundo quer mesmo é vencer e se possível com o pé no peito do oponente enquanto ele pede penico. Quem ler isso, vai achar que não gosto de esporte. No que se enganará redondamente. Sou maluco por futebol, mas alí na tela da TV , se possível de 54 polegadas. Não tenho mais idade para o viril esporte bretão. Estou mais para fisioterapia, sabe como é, coluna, aquela que sofre devido à nossa insistência em caminhar sobre duas pernas. Falando no ludopédio ou balípodo tenho visto muito craque de fim-de-semana engessado. Por isso prefiro eu e minha camisa amarela no sofá.
Mas, fiz este tremendo nariz de cera para tecer algumas desconsiderações sobre o jogo que deu o que falar. O tal do Flamengo e Juiz versus Botafogo e Dama das Camélias. Uns no créu, outros no buá. Qualquer detetive particular de "cabeça de porco" vai descobrir que houve algo anormal no referido match. Mas não é disso que quero falar. O que gostaria de destacar mesmo é a transgressão do gesto do créu. Uma evolução em relação ao top top ministeriável. Um era um gesto que envolviam as mãos e o outro pode ser classificado como uma expressão corporal. Ambos estão em sintonia com a sacada sociológica de Norbert Elias que escreveu um tratado sobre como o homem se "civilizou" com o passar dos tempos . Primeiro comia com a mão tomando nacos de carne de um prato comum. Para chegar ao garfo e faca demorou séculos. Assim também com o pudor: mostrar as partes das partes foi um passo gigantesco que vai do camisolão e a cançola ao biquini e ao topless. Quer dizer, hoje, podemos dizer sem cerimônia, pelo que se vê nas bancas de jornal , estamos inteiramente civilizados. Lá, dependuradas, moças carnudas mostram as derriéres na revistas masculinas recheadas de entrevistas que ninguém lê e em outras que nem entrevistas carregam. E com os tostões obtidos com essa abundância, tais moçoilas compram apartamentos com vista para o mar. E finalmente chegamos ao créu televisionado, vemos marmanjos no campo e na platéia repetindo gestos em allegro vivace que simulam o ato sexual, ou como diria Boccaccio, o coito propriamente dito. Pode-se dizer que se chegou ao eterno retorno, ao ato fundamental de onde todos viemos: um créu. Dizem os experts do bar do China que esse ato sexual simbolizado, (depois da terceira cerveja) não é o tradicional que causou a expulsão do paraíso. É coisa mais profunda... Xi , o negócio complicou! Talvez o sociólogo enconstado no balcão, tomando aquele uísque batizado queira saber se houve um carinho neste gesto inaugural. O China disse que pelo que se viu em campo a expressão foi de violência gráfica. Carinho em futebol só na cabecinha das criancinhas que funcionam como mascotes. E olhe que o sujeito faz é capaz de ser acusado de pedofilia, um safado!. Agora quanto às lágrimas,do vestiário relembradas na simulação que o jogador beneficiado faz depois de estufar o véu da noiva, isso é coisa do futebol, gozação pura...Acho bom parar por aqui, porque esse final tá mais para Freud explicar...Fui!