31.10.07

Charge do dia 1 de novembro

A travessia do Grande Sertão


(Continuação do ensaio sobre o livro Grande Sertão:veredas)
Riobaldo percebe ser ele a travessia e intui não estar "terminado", terá que se definir em provas. "Viver é muito perigoso", repete. A
travessia é uma metáfora da experiência de conhecimento. Tarefa estrambótica para a maioria dos homens simples que vegetam na
qualidade de roceiros perdidos no tempo, capiaus sucumbindo às febres e desgraças comuns. Só os grandes senhores com seus
exércitos dominam a ciência das coisas. O mundo que o jagunço encantado encontra estruturado à sua frente é o vazio da lei. "O senhor
sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado". Sua ascensão começará,
portanto, pelo domínio do rifle. A pontaria certeira vai lhe dar um novo nome: "Tatarana-cerzidor". Mas isso não basta para o confronto
com Hermógenes. É preciso fazer o pacto, fechar o corpo. Daí, salta da condição de jagunço bom de mira para a chefia do bando. Sua
transformação é festejada: "Uai, tão falante Tatarana? Quem te veja…". É como se depois do ritual tivesse encontrado o dom demoníaco
de usar as palavras, e as astúcias que aquelas permitem engendrar. Nos enfrentamentos do sertão adquire mais valor. Então Zé Bebelo
o renomeia ao lhe passar o mando: "Mas você é outro homem, você revira o sertão… Tu é terrível, que nem o urutu branco". Uma nova
etapa se inaugura nessa ocasião: "Agora o tempo de todas as doideiras estava bicho livre para principiar", diz Riobaldo, pronto para o
grande embate: "Tinham me dado em mão o brinquedo do mundo". Por outro lado, é curioso notar que Diadorim, ao mesmo tempo que
o cega para seu destino, abre as portas de sua percepção: através dos olhos dela ele vai aprender a ver beleza no sertão.

30.10.07

Charge do dia 31 de outubro

Amantes da fotografia,novo blogue na praça!

Para os amantes da fotografia o novo blogue que surge no horizonte de Laranjeiras-Mundo é o do Fernando Rabelo, baita fotógrafo! - o endereço é http://imagesvisions.blogspot.com
Visita obrigatória! Nota: O blogue ainda está em construção, mas pelo jeito vai bombar bacana!

Radicalização Periférica


(Publico aqui um artigo do meu amigo Professor Marco Aurélio Nogueira que acredito traz uma luz nova no debate sobre as questões que aparecem no filme "Tropa de Elite".
O artigo foi publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo do dia 27 de outubro. Marco Aurélio escreve (e pensa) muito bem).
O Estado de S. Paulo, 27 de outubro de 2007, p. A2.
Logo no início de Tropa de Elite – o interessantíssimo e polêmico filme de José Padilha – fica-se sabendo que polícia, crime e tráfico fazem parte de um mesmo sistema: entrelaçam-se como fios de novelos gêmeos, corrompem-se e se degradam mutuamente. Quase de imediato percebe-se também que o entrelaçamento é mais profundo. Nos morros e na cidade, os desejos de consumo, os estilos, a linguagem e os comportamentos sugerem uma ausência de distância social, ainda que seja escandalosamente ostensiva a disparidade de renda, educação e oportunidades entre aqueles mundos unidos pela diluição ética e pelo ofuscamento do futuro.

Os morros retratados no filme são ambientes abandonados, assistidos por uma ONG bem-intencionada, mas não pelo poder público. Jovens burgueses e de classe média compartilham espaços e drogas com jovens pobres, marginais e crianças, misturando de modo louco universos que, na base da sociedade, são incomunicáveis e se rejeitam com veemência. Parece não haver classes naquela “comunidade” unida pelo desejo de sobreviver, de consumir, de “fazer algo” e acontecer, sempre que possível contra o Estado (a polícia). Mas a exclusão, a miséria, a falta de perspectivas explodem por toda parte, a evidenciar um dilaceramento social extensivo. A violência generalizada é seu fermento, a dificuldade comunicacional seu combustível. Não é somente a truculenta e fascista elite da tropa que se revela desqualificada para propor uma saída: todos – traficantes, universitários, políticos – chafurdam na mesma impossibilidade de ação positiva, dramaticamente abraçados.

Pode-se até dizer que o filme exagera na apresentação da violência, que nos morros também há gente decente dedicada a alcançar patamares consistentes de dignidade e sobrevivência. Que a polícia não é só aquilo que se vê, uma corporação corroída pela corrupção, pelo despreparo e pela luta interna. Como toda obra de arte, Tropa de Elite dá margem a muitas interpretações. Pode ter fascinado alguns brucutus de plantão e seduzido aquela parcela da população que acredita na lei do cão, mas não deixa ninguém indiferente. Ao desnudar uma situação lancinante, explosiva, faz um irrecusável convite à reflexão. Incentiva-nos a pensar no Brasil atual, onde o moderno está ao mesmo tempo radicalizado (repleto de tecnologia, individualizado e desinstitucionalizado) e aprisionado pela condição periférica do país, que nos mantém com boa parte do corpo submerso na pobreza, na ignorância e no atraso econômico-social.

O entrelaçamento destas duas “lógicas”, a da modernidade radicalizada e a da condição periférica, a do celular e a da miséria, dá cores ao Brasil atual. Voracidade produtiva e consumista, desejo contínuo de exposição, diversão e velocidade, conectividade fácil, desengajamento, fuga do Estado e da política – são fenômenos derivados do moderno que se radicaliza. Vida que escoa pelos dedos, sem direção e sem formato estável: “líquida”, na sugestiva linguagem metafórica de Zigmunt Bauman. A condição periférica, por sua vez, nos encharca de pobreza, de violência, de luta insana pela existência, de indigência e não-reconhecimento, de massas subalternizadas, vistas como ameaça e problema, não como fato humano ou gente. A interpenetração das duas condições produz um tipo de vida: dinâmica, frenética, desigual, efêmera, inevitavelmente insegura e perigosa. Se a inovação tecnológica infrene apaga as distâncias de tempo/espaço, ela ao mesmo tempo polariza a convivência, separando as pessoas, por exemplo, em incluídos e excluídos digitais ou informacionais. Ao passo que, para uns, drogas e celulares são meios de vida, para outros são fontes de prazer e entretenimento.

Encontramos traços deste modo de ser por onde quer que caminhemos. Ou será que as dificuldades e incertezas da escola e da educação têm a ver somente com fracasso pedagógico ou despreparo dos professores? A longa e interminável crise do Congresso seria por acaso o resultado exclusivo da mediocridade da classe política? E o que dizer da condição falimentar dos partidos? Podemos nos contentar em atribuir as seguidas tragédias (aéreas, rodoviárias, urbanas, hospitalares) de nossos dias somente aos “sistemas” e a seus operadores?

A modernidade radicalizada periférica está pulsando em nossos nichos sistêmicos e existenciais. A vida líquida, por aqui, é ainda mais informe. Não necessitaríamos de filmes como Tropa de Elite para saber disso. Bastaria olhar para os ambientes em que julgamos estar nossas maiores virtudes: nossas instituições, da família aos sindicatos, passando pelas escolas e pelos tribunais, pelo mercado e pelo Estado. Tudo parece meio desfocado e fora de controle: em transição acelerada, recomposição e “sofrimento”. Há coisas novas despontando, coisas velhas ruindo com estardalhaço, outras fenecendo em silêncio. O tom dominante é de dúvida, medo, incerteza e insegurança, mas não há como desprezar a potência positiva daquilo que emerge, nem achar que todos os cidadãos se deixaram contaminar por igual e não se orientam mais por nenhum valor cívico (a honestidade, a decência, a integridade) ou aposta política.

A questão, como sempre, está na contradição e na ambivalência. Aquilo que se mostra mais “emancipador” – a liberdade de escolha, a mobilidade, a democratização dos relacionamentos – também traz consigo novas injustiças e a reiteração de problemas já conhecidos: vantagens e oportunidades desigualmente distribuídas, hierarquias e assimetrias de novo tipo, exclusões inaceitáveis.

A época é estranha, turbulenta, difícil de ser decodificada. Ela está a nos dizer que problemas e conflitos não podem ser resolvidos por medidas unilaterais ou discursos fáceis. Dependemos sempre mais de pensamento crítico articulado e de políticas inteligentes, contínuas, democráticas, que valorizem as pessoas e produzam resultados sustentáveis.

Minha vizinha chavista ataca ideologia privatista de Agnaldo Silva


Minha vizinha me interfonou colérica no meio da novela: - Onde já se viu esse José Wilker travestido de professor exilado em Paris, dizer que refez sua visão de mundo e num diálogo com Suzana Vieira, disfarçada numa peruca loura (acho que andou tomando muito leite daquela cooperativa mineira que botou água oxigenada no longa vida) disse que o Estado não pode suportar o custo do educação e desfraldou no alto do mastro da Torre Eiffel a bandeira da privatização do ensino.
-Bota isso no seu no seu grogue.
De nada adiantou dizer que é um blogue.
-Bota no seu grogue o seguinte:- Manera Agnaldo Silva, olha a responsabilidade social. Tem gente assistindo a TV nessa hora que você bota essas falas esdrúxulas na boca do Wilker que deveria se recusar a fazer essa papel tão feio. Isso que você, caro Wilker fez foi obsceno, pornô-novela.
Agnaldo, sai dessa Barra que você acha que é Miami, onde você se encastelou e pensa estar cercado de balseiros cubanos e volta para a realidade, o túnel Rebouças está caindo nas nossas cabeças. E dizem que metade daquilo é esgoto de uma favela real (que não chama Portelinha) que está plantada lá em cima. O Cesar Maia diz que isso vai incomodar apenas os motoristas. Minha empregada demorou duas horas num trechinho da Rua Jardim Botânico, desceu e foi a pé até o metrô...
Bota aí no seu grogue o o seguinte.
Não adiantou eu repetir que é um blogue...
-Pois é, bota no seu grogue que é para o Agnaldo parar com essa privataria e antenar o Juvenal aí. Ele pode pegar aquele caminhão que costuma dirigir no "Carga Pesada" e ajudar logo a tirar toda aquela terra ( será terra mesmo?) e logo veremos a luz no fim do tonel, pois alguém anda bebendo nessa história toda (hic)...
E desligou na minha cara. Te segura Agnaldo, essa minha vizinha chavista vai te perturbar o sono!

O mapa fantástico do Grande Sertão


(Continuação do ensaio sobre o livro Grande Sertão: veredas)
Diz-se ter Rosa mapeado as andanças de suas criaturas pelas brenhas do sertão. Mas não se iluda: fez isso numa cartografia fantástica.
Antonio Candido cotejou as passagens do livro com os mapas da região, e percebeu o surgimento de "uma impossível combinação de
lugares: mais longe uma rota misteriosa, nomes irreais". E que certos acidentes geográficos obedeciam a uma "necessidade de
composição". Foi aí que viu a importância do rio São Francisco na trama. Riobaldo chega a dizer que o rio partiu sua vida em duas partes
"qualitativamente diversas". O crítico mostra, assim, que na margem direita corre a vida normal e na esquerda, o conflito. Nas passagens
entre um lado e outro é que se realiza o destino de Riobaldo e Diadorim.
Mulher disfarçada de jagunço, Diadorim quer se vingar do assassino de seu pai, Hermógenes, mitológico guerreiro que carrega a fama
de ter feito um pacto com o demônio. Como numa tragédia grega, precipitará o antagonismo. No desfecho da luta, supõe-se ter
eliminado o mal figurado no pacatário. Seria a catarse. Mas os rios para Rosa têm três margens.
Riobaldo não será apenas instrumento dessa vendetta cabocla, apesar de abdicar de seu destino por causa de seu "ambíguo"
companheiro: "Diadorim é minha neblina" – ele diz encantado. Chega a acreditar em sina: "A modo que resumo da minha vida, em
desde menino era para dar cabo definitivo do Hermógenes". O paradoxo dessa relação é que à medida que se envolve na luta de outro,
ele se define, enfrenta o sertão, que não é simples paisagem e sim um tirânico personagem: "O sertão me produziu, depois me engoliu,
depois me cuspiu do quente da boca…". Mas vínculos de fogo inconscientes determinarão sua travessia.

29.10.07

Charge do dia 30 de outubro

Grande Sertão é um bazar árabe


(Continuação do ensaio sobre o livro Grande Sertão :veredas)
Dizem que escreveu o livro suando em bicas; como um médium, incorporou a alma sertaneja. Sua primeira frase é um coice, indica que
se entrou num mundo estranho: "Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja". Se o leitor agüentar a
pancada, o relato o levará para lonjuras, onde encontrará formas arcaicas de vida. Homens presos a um tempo imóvel-mineral. Até
antropofagia inconsciente ocorre, como lembra Oscar Lopes. Num trecho, Zé Bebelo – um dos grandes chefes – intui que topou com
gente de outra era quando é indagado a respeito de onde vinha por uns catrumanos. Responde: "Ei, do Brasil, amigo".
Em O narrador, o melancólico Walter Benjamin afirma que a arte de narrar entra num processo histórico de dissolução justamente
"porque o lado épico da verdade, a sabedoria está agonizando". A obra de Rosa é, sem dúvida, o testemunho da sabedoria sertaneja, e
carrega algo de desespero antropológico em seu registro. Disse uma vez: "Quando não entendo bem alguma coisa, então não vou
conversar com nenhum professor erudito, procuro um vaqueiro velho de Minas, qualquer um deles, pois todos são sábios".
Não era uma boutade. Riobaldo filosofa enquanto conta sua história. Arrisca, num certo momento, a entrever certa universalidade: "O
sertão está em toda parte… é do tamanho do mundo". Pode-se dizer que foi até picado por uma dúvida iluminista ao tentar desvendar
se existe ou não o demônio, ao qual, num certo momento, empenhou sua alma. Riobaldo será um Fausto por amor.
Alguém disse que o Grande sertão se assemelha a um grande bazar árabe: tem de tudo. Captar a totalidade dele é um problema
insolúvel. Afonso Casais Monteiro afirmou: "Evidentemente há coisas que só entenderá em Grande sertão: veredas o sertanejo,
precisamente o menos provável de seus leitores". Paulo Rónai continua: "Acrescentaria eu que há outras coisas que só o dialetologista,
outras que só o filósofo, outras ainda que só o psicanalista entenderá – o que equivale a dizer que nenhum leitor entenderá a obra na
íntegra". Observou que o autor trabalhou como cineasta: "Sabe que os detalhes de seus flagrantes só parcialmente serão percebidos
pelo público na rápida sucessão das imagens"

28.10.07

27.10.07

Charge da Madame Kirchner - dia 28/Domingo

Quem tem medo do Grande Sertão?


(Republico aqui um pequeno ensaio meu sobre "Grande Sertão - veredas" para os novos amigos navegantes. Os históricos amigos do blogue, de certo compreenderão - esse meu sítio, afinal é uma espécie de recomeço. Publicarei em pequenas doses, como fiz com Salinger. Prometo novas vinhetas no estilo do Sertão, esse universo tão diverso.)

Quem tem medo de Guimarães Rosa?

Conserva a aura de livro difícil diante do qual o sujeito hesita e diz para si que um dia vai encarar. Não é só a aparência taluda do
Grande sertão: veredas que espanta. Muita coisa intriga, tanto que sua fortuna crítica é imensa.
Apesar de reconhecido hoje como um monumento da língua, teve recepção problemática. De cara foi catalogado entre "ilegibilidades" e
mais tarde considerado "um matagal indevassável". Um sujeito zombou: "Ora, onde já se viu sertão em Minas?". Em 1958, uma revista
chegou a publicar uma reportagem com o título: Escritores que não conseguem ler Guimarães Rosa. Gente graúda das letras
confessou-se incapaz.
Perto de sua morte, triste, reclamava que tinha sido chamado de aristocrata e acusado de inventar palavras. Lamentou: "Não as invento
totalmente. Para escrever Grande sertão passei um mês inteiro no mato, em lombo de mula, catalogando num caderninho o linguajar do
povo sertanejo (…). Aristocrata não faz isso".
Suspeita-se que esse livro causou um vasto medo diante da novidade que de fato era. Tanto nos ácidos críticos como naqueles que não
o leram. Não podia ser diferente: o romance é uma explosão da invenção, na forma, na técnica e na linguagem. Foi composto como
narrativa única e fragmentária do ex-jagunço Riobaldo Tatarana. Seu ouvinte, que nunca intervém, é o próprio escritor, tratado com
reverência: "Sabe muito em idéia firme, além de ter cara de doutor".
Às vezes parece que baixou um caboclo freudiano no narrador, e sua fala se torna caudalosa: "A lembrança da vida da gente se guarda
em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não se misturam contar seguido,
alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância".
O resultado do temor que esse livro inspirou é que várias gerações se privaram da mais rica experiência estética da nossa literatura.
Uma das chaves é saber que Rosa partiu da sua experiência de menino, de soldado, rebelde e médico. Reuniu causos. Um dia revelou
como se imantou de maravilhas: "Nós, gente do sertão, somos contadores de histórias desde que nascemos. Contar histórias faz parte
do nosso sangue, é um dom de berço que recebemos para o resto da vida. (…) Que mais se pode fazer nas horas livres no sertão (…)
senão contar histórias?" Esotérico, segredou: "Por isso nos acostumamos desde cedo à imaginação e ela se integra em nossa carne e em
nosso sangue, fazendo parte de nossa alma, pois o sertão simboliza também a alma dos que o habitam". Numa entrevista comentou o
problema que esse lastro precioso lhe trazia: "Disse para mim mesmo que não se pode criar literatura com o material do sertão. Só se
pode escrever a seu respeito em forma de lendas, contos em que imperem a fantasia, as confissões pessoais". Conclui-se que Rosa, fiel
à tradição oral de uma espécie de "dialeto geralista", não se deixou prender a uma camisa-de-força. Num outro depoimento o autor deu
lições de ourivesaria: "Em primeiro lugar vem o meu método de usar cada palavra como se ela tivesse acabado de surgir pela primeira
vez. Retiro-lhe as impurezas da fala corriqueira e devolvo-lhe seu sentido vocabular primevo. Por este motivo – e este é o segundo
elemento – incorporo certas particularidades dialetais da minha região (Minas Gerais) que não constituem parte da linguagem literária.
Incorporo-as porque são peculiaridades originais, que não estão ainda gastas pelo uso e são na maioria dos casos caracterizadas por
uma extraordinária sabedoria lingüística". (Continua no próximo capítulo)

Charge do dia 27 de outubro

26.10.07

25.10.07

Salinger não gosta deles


(Conclusão da Resenha "Procura-se Salinger desesperadamente" que pode ser encontrada nos arquivos deste blogue que trata do livro "In Search of J.D.Salinger" do escritor inglês Ian Hamilton .
Finalmente lá vão os desafetos de Salinger.
Ele não gostava de T.S.Eliot devido às suas posições conservadoras. De Chaplin tinha horror, uma verdadeira aversão física ( e dizer que o velhinho Carlitos, cheio de cabelos brancos, levou a sua namorada Oona O'Neill) . Norman Mailer entrou no rol dos desfetos porque duvidou de sua sabedoria . Já Mary McCarty não tinha que meter o bico e expor o seu narcisismo. Hemingway, já foi dito no corpo da resenha, que o desagradou quando se exibiu para Salinger e outros soldados ao mandar umas galinhas para o além com tiros de uma pistola. Outra coisa que incomodava J.D. era o machismo do autor de "O velho e o Mar".
Também não curtia a Partisan Review, roteiristas de cinema, psicanalistas, editores em geral, jornalistas em particular, Ian Hamilton (compreensivelmente) e os biógrafos . Para estes, o fogo dos infernos seria refresco. Cuidado ,Ruy Castro!

24.10.07

Charge do dia 25 de outubro

De quem Salinger gosta?


(Continuação da Resenha publicada em 1990 sobre Biografia "Em Busca de J.D. Salinger" escrita por Ian Hamilton)
Da leitura desse livro observa-se que ele tem uma galeria de pessoas que admira.Aqui vai uma pequena lista de seus afetos:
Poetas Japoneses
Gurus Zen
Swami Vivekananda
William Blake
Ranier Maria Rilke
Scott Fitzgerald
Sherwood Anderson
Franz Kafka
Lev Tolstoi
F.M. Dostoievski
Sean O'Casey
Arthur Rimbaud
Garcia Lorca
Emily Brontë
Henry James
De Fitzgerald ele gosta por ter encarnado os "anos loucos"e escrever contos maravilhosos. Sua admiração por Rilke deve-se às circunstâncias em que escreveu as "Elegias de Duino" no Castelo de Muzot, local onde recebeu o "santo" e sua poesia jorrou. Já Sherwood Anderson, ele aprecia seus textos sobre jovens. Deve gostar de Kafka pelas suas histórias cheias de enigmas, por ser esquisitão, talvez ,e também por ter uma relação difícil com o pai. Sobre Rimbaud , aí ficamos em dúvida , acho que por ter largado tudo, inclusive sua poeisa, tomar "Uma cerveja no Inferno" e depois se refugiar na Etiópia.
Estranho é Joyce ficar fora da lista. Afinal, está na cara que a idéia de epifania, abraçada por Salinger em suas histórias curtas, veio da leitura atenta de "Dublinenses" que é um livro de contos magnífico. (Amanhã lista dos desafetos - essa, muito mais interessante)

Cartum da Série Variações sobre a Máfia

23.10.07

22.10.07

Um presente da família Ferrez


Hoje, 22 de outubro de 2007 às 18.30 horas, no Auditório do Arquivo Nacional na Praça República/ sem número no Centro do Rio de Janeiro acontecerá a solenidade da doação do Arquivo Família Ferrez ao povo brasileiro.
É o resultao do projeto O Universo Documental de Gilberto Ferrez e seus antepassados.
Essa coleção a partir de hoje se torna pública. São 40 mil documentos - cartas, notas de trabalho, fotografias, negativos,diversos textos, recortes de jornais,...uma fonte fantástica para os pesquisadores da iconografia brasileira , da história da fotografia e do cinema do Brasil .
Na internet o povo terá acesso ao Arquivo Ferrez no site www.arquivonacional.gov.br

O Eterno Truffaut


Vacilei ao não registrar ontem, dia 21 que há 23 anos atrás morreu o genial cineasta François Roland Truffaut ,em Neuilly-sur-Seine aos 52 anos, em conseqüência de um derrame cerebral causado por um tumor.
Em sua homenagem publico a caricatura que fiz dele e sua filmografia. Outro dia li o seu livro "O homem que amava as mulheres" que originalmente foi escrito para ser um filme. Só que fez tanto sucesso que Truffaut resolveu transformar em livro no qual fez algumas transformações.Portanto, o livro não é uma cópia do filme e sim sua forma literária de atacar (no bom sentido) as mulheres. Aqui no Brasil foi publicado pela Editora Imago , com uma introdução bacana de Otavio Frias Filho.
Vale a pena rever os flmes que ele fez. Sua obra é uma grande e amorosa homenagem ao cinema. Principalmente "A Noite Americana". Qualquer dia destes vou voltar a escrever a coluna "De olho no Clássico" e comentar "Os incompreendidos", para mim um de seus melhores filmes e talvez "A Noite Americana". A seguir em ordem cronológica as fitas que ele rodou(em algumas delas vou botar o título original:
"Uma visita" (Une Visite)- 1954
"Os Pivetes" (Les Mistons) 1957
"A História da Água" (curtas) co direção de Jean Luc Godard -1958
"Os incompreendidos" (Les 400 Coups)-1959
"Atire no Pianista" - 1960
"Uma mulher para dois" (Jules et Jim) 1961
"O Amor aos 20 anos"- 1962
"Só um pecado" - 1964
"Fahrenheit 451"- 1966
"A Noiva estava de Preto"-1967
"Beijos Proibidos"- 1968
"A Sereia do Mississipi"- 1969
"O Garoto Selvagem"- 1970
"Domicílio Conjugal"- 1970
"Duas Inglesas e o Amor"- 1971
"Uma jovem tão bela como eu" -1972
"A noite Americana"- 1973
"A História de Adele H"- 1975
"Na Idade da Inocência"- ( L'Argent de poche)- 1976
"O Homem que amava as Mulheres"- 1977
"O Quarto Verde" -1978
"O Amor em Fuga"- 1979
"O Último Metrô" -1980
"A Mulher do Lado"- 1981
"De repente num Domingo" (Vivement Dimanche!)- 1983

Charge do dia 22 de outubro

21.10.07

Minha vizinha chavista ataca Agnaldo Silva e sua Portelinha


Sabe a minha vizinha, aquela que é fã do Chávez e partidária da Revolução Bolivariana? Pois é, criou a maior confusão aqui no condomínio. Ela e mais dois aposentados brizolistas que detestam a Globo tomaram a sala de controle das câmeras do prédio. Disseram pelo interfone que era a prática da teoria do foco.Guerrilha urbana. Aproveitaram um cochilo do vigia que saiu para tomar uma ar e paquerar uma moreninha que enlouquece o pessoal da portaria e tchuns, trancaram a saleta por dentro e ficaram lá entrincheirados.
Ela dizia (sempre pelo interfone atrás do vidro blindado):
- Se o Chávez encerrou o contrato daquela TV que era contrária aos ideiais dele lá na Venezuela, por que a gente não pode fazer o mesmo nestas bandas. Primeiro temos que derrubar o síndico, depois tomar outros edifícios e por fim a Vênus Platinada. Não para fechá-la, mas otimizá-la. Produzir somente novelas edificantes e realistas.Botar o Wolf Maya num programa de favelização em Cuba.
Perguntei pelo jornalismo,a informação, como ficaria?
-O telejornalismo seria exterminado. Nada de ficar concorrendo com os programas de ficção ou com o humorísticos, como fazem atualmente, ou atrasando o jogo de futebol das quartas-feiras.
-Por exemplo, aquela mecha...
Quando ela deu essa paradinha técnica, perguntei sobre os detalhes da tática, já que a estratégia estava definida.
Daqui podemos observar as intimidades das pessoas no estacionamento, a saliência nos elevadores, enfim uma coleção de pequenos pecados e com o tempo teremos elementos para criar dossiês e com isso pressionar na próxima reunião do condomínio. Garantir votos para destituir o síndico. Não é isso que os políticos fazem lá em Brasília?
Foi um custo botar a vizinha e seus fiéis escudeiros na real . Depois de muita negociação conseguimos convencê-los a abrir a porta e deixar o vigia voltar ao seu posto. O síndico prometou anistia na cobrança da taxa do condomínio que eles não pagavam faz tempo. Concordou até em colocar um retrato do Chávez no salão de festas. Uma daquelas fotos em que ele aparece de camisa vermelha junto ao leito do Fidel de moletom pós-operatório.
Baixinho, ele me disse que no próximo aniversário que rolasse lá no salão, iria pedir ao mágico que desse um sumiço naquele item subversivo.
Finda a querela, convidei-a para um chá de camomila e aproveitei para perguntar a razão profunda daquele ato insano, o motivo oculto.
Ela me confessou que era do Agnaldo Silva.
-Quem mandou ele criar aquela favela fake? Acho que foi a Bia Abramo que levantou a lebre, ou foi o Xexeo enquanto procurava Artures no Google?
-Vamos e venhamos, ele fez uma novela baseado em um outro planeta.
-Aquilo não é a Terra de jeito nenhum. Agnaldo daria um bom roteirista para "Viagem nas Estrelas", é um trek de carteirinha. O elenco é estelar, só falta aquele orelhudo de sobrancelhas arqueadas, lembra ? Aquele alienígena que não tinha emoções?
Mas essa novela , além de ser uma adaptação do "Carga Pesada", se passa numa dimensão além da imaginação. Onde já se viu, o Herson Capri morrer num circo da praça 11 ao lado da sofrida (sempre sofrida) Renata Sorrah?
E a Marília Gabriela que virou favelada carioca? Ela não era dona do "Correio da Manhã" na série JK?
Quase todo dia me dá um "siricutico" quando vejo aquela favela do mundo paralelo, a tal da "Portelinha", sem traficante, sem milícia, enfim sem nunhum problema, todo mundo vivendo na maior paz ...Desse jeito todo pobre vai querer virar favelado! Deve ser a novela preferida do Lula, afinal ele é o Presidente de um país ideal onde nunca na história dele se viajou tanto, nunca na história dele ele não soube de nada...e esse negócio de perdoar a dívida dos africanos e o zé-povinho aqui morrendo na fila do SUS(to), morrendo de dengue, com esses planos de saúde sugando o sangue dos que querem fugir da "desassistência" pública.
Minha conclusão é que o povo está sendo enganado pelo Agnaldo, pelos políticos, pelos planos de saúde, pelos especuladores. Daqui a pouco o zé-povinho vai pensar que as balas perdidas são de festim. Por isso eu e os meus amigos Brizolistas que jogam dama no play-ground resolvemos partir para a ação e tomar a Globo, invadir o Projac e mudar a novela, já que o Agnaldo está ameaçando ir para Portugal e escrever o resto da história de lá. Aí que vamos mesmo para outra Galáxia! Ou para Trás dos Montes! Quem te viu, quem te vê!.... (deixou no ar uma intriga que eu preferi ignorar).
Favela boa era aquela da Record, a tal das "Vidas Desencontradas".
-Opostas! Eu disse, sem causar nenhum efeito.
-Nessa favela o pau comia mesmo, era muito mais realista.
Ela continuou falando do pobre do autor de "Duas Caras".
- Tá certo que é ficção, mas menos, menos Agnaldo! Você está falando do Rio de Janeiro e a situação aqui é outra, como a gente sabe e vê até no Jornal Nacional. O bicho está pegando. E não adianta chamar o Capitão Nascimento, deviam chamar o capitão Morte, isto sim.
Aí aproveitou para esculhambar as TVs em geral.
-Imaginem que estão querendo transformar o "Tropa de Arrebite" num seriado!
-Tropa de Elite, dona....(esqueci o nome dela faz algum tempo), mas ela não me deu chance de hesitar e já foi logo tascando:
-Onde já se viu, virar seriado! Querem transformar o Bope em "Patrulheiros Toddy"! Isso já é esculachar demais os organismos policiais. Deviam é filmar a marcha do Luis Carlos Prestes, "O cavaleiro da Esperança", que com sua coluna rasgou esse país...falando nisso que fim levou o "Chatô"? Aquele menino, o Fontes não terminou o filme, ainda?
Nesse momento ela soluçou e me deu uma oportunidade de respirar.
Mas logo emendou. E tem esse negócio desse outro menino , o Huck. Foi roubado em São Paulo, que já é um luxo. É bem diferente de ser assaltado na linha Amarela. Diz aí! E por um bandido bonzinho, ainda por cima, com um treisoitão, que é arma de bandido antigo, amador. Assaltante moderno, cruel, hoje vem de pistola automática, fuzil AR 15, AK 47 ... essas armas de guerra. O menino Huck, que é até um rapaz simpático, saiu no lucro ,faturou um artigo na Folha, e matéria nessa revista nova da Abril, como chama mesmo ? - Realidade , né?
Não, é "Revista da Semana, dona....(e não é que não consigo lembrar o nome dela!)
Isso mesmo, essa revista que é um resumo da Veja para apressados....Teve até intelectual metendo uma teoria no rolex.
Aí voltou para atacar o filme "Tropa de Elite": Esses cineastas de classe-média continuam faturando em cima da pobreza, da miséria. Parece que aqui só tem Carandiru, Cidade de Deus e Caveirão!
Aí eu disse que essa sua última frase estava em contradição com o que ela tinha falado do Agnaldo e sua ficção que humaniza uma comunidade carente etc e tal...
Aí ela engrossou e deitou a falar contra tudo e contra todos.Enquanto ela parolava, e jogava veneno para todo lado, fui à cozinha buscar uns biscoitinhos que minha mulher tinha feito no dia anterior para ver se adoçava a conversa.
Quando voltei a velha estava dormindo estatelada no sofá. Foi então que liguei a TV e no volume mínimo assiti ao programa da Márcia. Este sim, um choque de realidade. Se minha vizinha estivesse acordada diria:
- Uma casa em Miami , e essa senhora fica aí escutando a desgraça dessas criaturas...(Não sei não, mas acho que estou começando a pensar como ela- Arre égua! Onde está o meu livro do Deleuze?)

20.10.07

Mais uma bacalhoada do filósofo Sandaum. Os poetas que me perdoem

NY On time é o blogue do Jorge Pontual

É o blogue de Jorge Pontual que mora faz um tempão em Nova Iorque. Acrescentei o endereço dele aos meus links de preferidos. Verifiquem os arquivos do blogue dele, o cara traduziu Baudelaire de maneira nova. E tem muito mais coisas.Apesar dele não atualizar o blogue desde agosto, vale a pena conferir. Acorda Pontual, cê tá atrasado! O bonde vai partir.
Não custa repetir, o endereço é http://nyontime.blogspot.com

19.10.07

Charge do dia 20 de outubro

Mapa do esconderijo de Salinger


Este mapa faz parte da resenha que vocês podem acessar nos arquivos deste blogue.( É na verdade uma continuação dessa resenha) A matéria foi publicada no Caderno Idéias do JB de 1990- Resolvi recuperá-la botando na Web pois de outra maneira seria inexoravelmente devorada pelas traças da história. O mapa foi redesenhado tendo por base o original de Henrique Ruffato.
Em 1953 quando resolveu se esconder, Salinger escolheu Cornish no estado de New Hampshire, à margem do rio Connecticut, perto do estado de Vermont. Nesse lugar ergeu sua fortaleza, diz a lenda que a construiu pensando no castelo de Muzot onde seu poeta preferido, Rainer Maria Rilke "recebeu" no sentido mediúnico, as Elegias de Duíno.
(Na continuação veremos os afetos e os desafetos de J.D. Salinger)

Vale a pena visitar

Tô falando do blogue do C. Fagundes o endereço é http://e-squina.blogspot.com/
O cara está antenado.

Caricatura de Deleuze na fita

O pessoal que já pertence à história deste blogue anda falando muito em Deleuze. Terei que estudar alguma coisa dele para a maledetta pósgraduação que chamo de "Post-mortem-grudação". Juro que não consigo entender patavinas do que esse filósofo fala. Quando penso que entendo , desentendo. Ele criou um verdadeiro idioma. Isso me fascina, mas terei que viver uma vida para entendê-lo? Minha pergunta é, ele poderia ter tornado a nossa vida de estudante mais fácil? Dizem que Lacan escrevia mal, demorou um século para escrever um livro (um dia eu me recordo o nome do livro e boto aqui- acho que é a tese dele) , foi Madame Elisabeth Roudinesco (a grande dama da Psicanálise) que me disse isso numa entrevista que também qualquer dia boto na fita do blogue. Ela afirmou que, no entanto, seus famosos Seminários eram riquíssimos. O pessoal da fila do gargarejo anotava tudo e depois transcrevia para livros. Deleuze parece que escreve bem, mas falava melhor ainda, só que num idioma completamente dele. É mania dos filósofos ficar inventando conceitos e formulando coisas complexas. Aí, num determinado momento desse "post" (não mortem) deu um pau no computador e tive que restartar, ainda bem que o Blogger salva os rascunhos automaticamente. Quase perco tudo. Deleuze adoraria isso. Então, para os fãs do cara dos Mil Platôs, vai aí a caricata dele com unha comprida e tudo. Imaginem que ele tinha uma explicação para aquelas unhas Fred Krugger com passagem pela manicure do Zé do Caixão. Uma figuraça!

Charge do dia 19 de outubro

18.10.07

17.10.07

Günter Grass quase cai em desgrass(ça)



D
esculpem o trocadilho, mas o velho Günter além de ser um baita escritor, é um homem que sabe se promover pacas. Mas descontando o marketing pessoal, temos que entender um fato curioso: o homem é um ser que se confessa, dia mais, dia menos. Menos, muito menos é claro, políticos de forma geral e especuladores financeiros. E Günter (com suas tremas trêmulas) um dia confessou que foi soldado do exército alemão. Foi um tremendo reboliço na Alemanha. O autor do magnífico "O tambor"(que virou também um belo filme) quase caiu em desgraça. Expôs sua ferida. Um furúnculo que deve ter incomodado por todos esses anos sua consciência.
Nazista de carteirinha o foi o bom Heidegger, e já era adulto , Grass era garoto, e surfou na onda do "Grande Ditador" e escondeu por toda sua vida de crítico da pesada de tudo que passasse pela sua frente. Faz pouco tempo confessou esse seu vacilo na sua autobiografia.
Numa esquina de Olinda D. Helder confessou que foi integralista, Vinicius de Moraes parece que também entrou nessa. Claro que nem o cardeal nem o poetinha vislumbravam que essa ideologia de camisa verde no Brasil , camisas negras histriônicas na Itália e cáqui ou chumbo grosso na Germânia iria descambar para o irracionalismo nos fins por meio de um pesado uso da razão técnica no extermínio dos inimigos - leia-se judeus, comunistas, homossexuais, ciganos, velhos e doentes. Os campos foram fábricas bem planejadas de cadáveres. O carrasco ia para casa depois de um dia de trabalho, beijava seus filhos, punhas os guris para dormir contando uma bela história de fadas e depois ia ouvir Mozart comendo seu chucrute com batata na manteiga.
Vamos dar um desconto para o velho de guerra Günter Grass, ele fez 80 anos ontem e é um grande mestre não só nas teclinhas, manda ver também no desenho.
Depois desse tremendo nariz de cera, posso dizer que foi lançada no Brasil agora mesmo a tal autobiografia em que ele se confessa e conta muita história boa também. Trata-se do livro "Nas Peles da Cebola- memórias" publicado pela Editora Record. Para homenagear o dito cujo , aqui do lado está uma caricatura que fiz dele. Só não me lembro para que matéria foi. São mais de 15 mil desenhos, nunca mais vou lembrar.

Lapa em Antologia na Lapa


Deu um bode no correio eletrônico da Editora Desiderata e o convite só chegou hoje e vai para o ar no grito. Hoje, preste antenção HOJE vai acontecer o lançamento do ano, ou seja o livro "Antologia da Lapa".
O lançamento vai ser feito num show de Moacyr Luz no "Carioca da Gema" - Rua Mem de Sá, nº 79 na própria Lapa - a partir das 19.30 horas. A entrada vai ser gratuita para a noite de autógrafos. Agora os convidados que entrarem numas de ver o show pagam meia entrada, que fica em sete reais e cinquenta centavos. Preço bom para ver pérolas.
Todos lá de pandeiro em punho, cuíca não vale!

16.10.07

Charge do dia 17 de outubro

Livros de Salinger no Brasil


Jerome David Salinger começou a ser lido no Brasil, na virada dos anos 50 para os 60, em traduções portuguesas não muito confiáveis, pois passavam pelo crivo rigoroso da censura salazarista. Naquele mesmo decênio foram feitas traduções primorosas para o português do Brasil - O Apanhador no Campo de Centeio foi traduzido por Álvaro Alencar , Antônio Rocha e Jório Dauster, Nove Estórias por Jório Dauster e Álvaro Alencar e Franny & Zooey por Álvaro Cabral, todos publicados pela Editora do Autor. Esses livros podem ser encontrados nas boas livrarias do ramo. As capas atuais são essas aí que eu fiz com aprovação de Salinger através de seus agentes. Não faz muito tempo a Editora Brasiliense publicou Pra Cima com a Viga Moçada e Seymour uma Introdução - mais tarde passou os direitos para a Cia das Letras que lhe deu um novo título, mais de acordo com o de Salinger, ou seja: Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira e Seymour uma apresentação.
Sobre Salinger existe um livro que creio estar esgotado - J.D. Salinger de William French, volume da série Clássicos de nosso tempo, que era editada pela Lidador.
Existe também o livro de de Joyce Maynard - Apanhada no Campo de Centeio - meu caso de amor com J.D. Salinger , publicado pela Geração Editorial.
Amanhã boto no ar o mapa do local onde Salinger se esconde.

Charge do dia 16 de outubro

15.10.07

Autopropaganda- Nóis no NYTimes Syndicate


Para os navegantes novos que passam por esta página vou fazer um pouco de propaganda da minha pessoa cartunista. Desculpem a falta de modéstia, mas se a gente não se valoriza o mercado fica cego e alguns amigos (de vez em quando) também. Esta minha charge está no site do New York Times Syndicate que fez parceria com o Cartoonists & Writers Syndicate cujo fundador é o genial desenhista e criador do Coringa, Mr. Jerry Robinson e agora conta com o auxílio luxuoso de um pandeiro de seu filho Jens Robinson. Eles estão promovendo junto com a ONU uma exposição de cartuns sobre os 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos que vai par o ar daqui a pouco. Gente finíssima que tem seu escritório lá em Nova York, na Riversive Drive, mas o pensamento no mundo.
O endereço eletrônico para visitar o pessoal do CWS e seus cartunistas é : http://www.cartoonweb.com/
Podem acessar também o www.cartoons.nytimages.com
e lá procurar os cartunistas no sistema de busca deles.

Charge do dia 15 de outubro

14.10.07

Fotoblog muito bacana!

Eu acho que não consegui "linkar" um fotoblog muito bacana que nossa amiga Tinê faz com competência, sensibilidade e carinho( desculpem o verbo "linkar". É americanizado, mas é isso que se faz na internet para se ligar um sítio ao outro, antigamente era uma vereda, isso acontecia nos tempos de "Manoelzão")
Pois bem, o endereço do fotoblog é eucantodeolho.nafoto.net
É só clicar aí em cima e vocês vão cair lá, aproveitem e bom fim de domingo.

Hemingway no Bodeguita ou no Floridita

13.10.07

A inocência em William Blake


Willam Blake era um sujeito estranho pra caramba, viveu o meio do século XVIII e os primeiros vinte anos do XIX. Era mais que um poeta, era um artista visionário que exercia a pintura e a gravura e também mexeu com as técnicas de impressão. Ilustrou seus cometimentos poéticos e também fez as ilustras da "Divina Comédia" de Dante.
A LP&M lançou um livrinho com "O casamento do céu e do Inferno & outros escritos (essa editora gosta do &) na sua coleção "Pocket-plus". A seleção, tradução & apresentação é de Alberto Marsicano
Desse livro destaquei um escrito dele que fala da inocência numa época de tantos suspeitos.

Canções da Inocência - Introdução

Pelos vales entoando a sorrir
A suave e feliz melodia
Numa nuvem um menino vi surgir
Que falando alegremente me pedia:

Toca a canção do Cordeiro!
A toquei com alegria e encanto
Toca outra vez, toca ligeiro!
Toquei: E não conteve o pranto.

"Deixa tua gaita contente,
Canções felizes irradia".
Toquei de novo pungente
Ele chorou de alegria.

"Gaiteiro, senta e escreve
O que todos possam entender"
Ele sumiu ligeiro e leve;
E um tênue ramo fui colher,

Uma rústica pena construí
Com água clara fui grafar;
Canções felizes escrevi
Que toda criança possa escutar.

11.10.07

Charge do dia 12 de outubro- Só um milagre!

Ian Hamilton e a armadilha Salingeriana


Em "Pra cima com a viga, moçada", Salinger elabora uma das melhores aberturas narrativas da literatura americana. "Seymour, uma introdução", ao contrário, é uma peça chata. É neste trabalho que Salinger se confunde com seus dois "alter egos" (Buddy e Seymour Glass), rejeita a caravana beat e desanca a aristocracia intelectual da época - segundo Hamilton, despedindo-se do mundo. O troco não se fez esperar. Norman Mailer declarou que "sua sabedoria" não era respeitável; George Steiner, John Updike e Leslie Fiedler o atacaram com maior ou menor aspereza. Mary McCarthy foi a mais ferina: "O mundo de Salinger não contém nada além de Salinger", a seguir cruamente apontado como uma fraude.
Em um apêndice no qual resume a longa questão legal que finalmente o impediu de incluir as cartas de Salinger na biografia , Ian Hamilton faz ele mesmo a crítica do seu trabalho:" Não posso dizer qu eu estivesse ansioso pelo pelo lançamento do livro. Ele já não era bem o qu eu havia imaginado. Ficou excessivamente tenso e respeitoso, e prejudicado em muitos aspectos pela minha preocupação em demonstrar a Salinger qu eu não era um moleque". Em outra passagem ele chega a dizer que o livro não pode ser considerado uma biografia.
Excesso de pudores à parte, Ian Hamilton deve estar feliz, pois obrigou o mito a sair da toca, a escrever cartas, a contratar advogados e a a ir a um tribunal. Estas seriam relíquias sagradas para qualquer fã, mas Hamilton confessa que não gostou de ter seu nome associado ao de Salinger numa querela desse tipo. A conclusão do caso é que o biógrafo inglês caiu numa típica armadilha salingeriana: a dos peixe-banana. Como essas inocentes criaturas aquáticas do conto de J.D. , ele se meteu em um buraco cheio de apetitosas informações, fartou-se com elas, mas no final não pode sair. Ele deveria saber, desde a primeira leitura de "O Apanhador" , que com Salinger sempre acontece um "negócio de doido"
E assim chega ao final a resenha do livro "Em busca de J.D. Salinger" de Ian Hamilton. A seguir publico Os afetos e os desafetos de Salinger , o mapa de sua morada e a lista de seus livros no Brasil e como encontrá-los.
Talvez, mais para frente, vou procurar alguma coisa que escrevi sobre a família Glass e quem sabe a resenha do livro da mocinha que viveu com o mito de Cornish, New Hampshire.

Charge do dia 11 de outubro- Coco duro

10.10.07

Charge do dia 10 de outubro

Millôr em dose dupla hoje na Travessa


Fernanda Montenegro, Marília Pêra e Pedro Cardoso fazem a leitura de obras do HOMEM, is not mole not!

Cuenca lança Mastroiani dia 11 na Travessa

9.10.07

Salinger diante de um sucesso desejado e incômodo


(Continuação de resenha publicada em 1990)
Mapeada a crise, Ian Hamilton chega ao ano de 1951 quando sai "O Apanhador no Campo de Centeio", que não é em termos imediatos, um sucesso de livraria. O comportamento de J.D. Salinger às vésperas do lançamento chega a ser exdrúxulo, insiste para que nenhum resumo do livro seja distribuído à imprensa, não quer anúncios nem sua foto na capa. Apesar desses caprichos, o livro é um sucesso de crítica. Mas Salinger não seria Salinger se gostasse da acolhida calorosa dos resenhadores. Talvez não tivesse lido ainda a opinião de William Faulkner, que saudava "O Apanhador" como "a melhor obra da atual geração" porque expressava "completamente" o que elemesmo tentara transmitir e porque Holden Caufield era o melhor exemplo da tragédia da juventude quando tenta "fazer parte da raça humana" e não encontra "raça humana nenhuma".
O sucesso comercial do romance começa desenhar-se em 1952, mas incomoda Salinger. No ano seguinte ele resolve abandonar Nova Iorque. Vai morar em Cornish, onde completa outros livros de sua carreira, e onde permanece recluso até hoje. Antes de esconder-se na fortaleza que mandou construir em Cornish que segundo Warren French talvez tentasse reproduzir o castelo de Muzot, onde Rilke, seu poeta preferido, escreveu as "Elegias de Duino", Salinger costumava encontrar com os habitantes da pequena cidade. Numa dessas reuniões teve um romance com a filha de um crítico de arte inglês, Claire Douglas, com a qual acabou se casando, depois de um período difícil em que a disputou com um estudante de Harvard.
Parece ter sido durante esse match que escreveu "Franny ", história "de uma jovem estudante tensa" e inteligente, que passa "um muito louco final de semana de futebol com o namorado universitário da Ivy League". Essa história dá continuidade à saga da família Glass, que se inicia no conto dos "peixe-banana" e vai render outras narrativas de sucesso como "Pra cima com a viga moçada", "Zooey", que ele vai juntar à "Franny" (no livro Franny & Zooey) e "Seymour, uma introdução". Este último, um papo-cabeça que começa com uma narrativa engraçada. O fino da arte de escrever.

Charge do dia /09 outubro

8.10.07

Gravura Brasileira no Centro


A Exposição "A GRAVURA BRASILEIRA- Na coleção MÔNICA e GEORGE KORNIS" vai ser inaugurada hoje- 8 de outubro de 2007 às 19 horas na CAIXA CULTURAL, Galerias 2 e 3
Avenida Almirante Barroso, 25 , no Centro do Rio de Janeiro
A visitação vai até o dia 18 de novembro de 2007 de terça a domingo, das 10 às 22 horas.
Todos lá!

Charge do dia

7.10.07

Cartum de Bom Domingo

6.10.07

Charge do dia