30.11.07

Frase do dia

", em nós e no mundo, algo que se revela e que o conhecimento não nos havia dado, e que se situa unicamente como não podendo ser atingido pelo conhecimento. É, me parece, disso que rimos".
(Georges Bataille, citado no livro "O Riso e o Risível na História do Pensamento" de Verena Alberti - Jorge Zahar Editor e Editora FGV)

29.11.07

Charge do dia 30 de novembro

Enfim a Crônica das Vacas!


(Nossa querida repórter da roça, Tinê Soares escreveu uma saborosa crônica, que não poderíamos deixar de publicar. Pensamos em botar no ar no final de semana. Como vários pedidos de fãs chegaram a esta modesta redação solicitando urgência, publicamos agora em primeiríssima mão)

O Cerco
Fim de novembro, anos 60. Filhos em apartamento, mãe com dor de cabeça. Colônia de férias no Forte? Acampamento de escoteiros em Friburgo? Esporte intensivo no clube? Casa dos avós no interior de Minas? Um concorda, outro faz bico. E ainda tem as férias da empregada. Que fazer? Um quer ir ao cinema, outro, pedalar na lagoa. Uma quer ir ao museu das bonecas, a outra, paquerar nas tardes dançantes. Se pudesse, despacharia todos para Orlando, Disney sempre foi uma solução - ou era, pelo menos naqueles tempos. Agradar a todos ou não perdê-los de vista, não viver o caos doméstico nem desmoronar ao fim de cada dia das férias escolares anunciadas, eis o problema: o dinheiro não chega a tanto.

Naquele ano o pai estava numa empreitada pelas bandas gaúchas. E veio dele a solução. Do Rio de Janeiro direto para o Rio Grande do Sul. Eu trabalho, vocês se divertem. Ele descreveu as maravilhas da proposta. Sorrimos. A mãe, nem tanto...se fossem só alguns dias, mas quase quatro meses? Incluídas duas semanas de falta no ano letivo escolar seguinte, Oba!
A 'funcionária doméstica' - quase uma outra filha - de malas semiprontas e um sonoro Eu topo! selou nosso destino. Família unificada, o pai satisfeito, incontáveis mini-aventuras previstas, a mãe com dúzias de malas, os filhos na algazarra, pampas, aí vamos nós!
A viagem foi de ônibus com lanchonete a bordo, de trem com restaurante fechado, de Kombi caindo aos pedaços, a pé no lamaceiro, Chegamos!

Tratores em movimento, vento e poeira nas caras, à margem da estrada o cenário se abriu: aprovações risonhas ecoaram pelo vale. A mãe só pensava que saltos altos e maquiagem não combinavam com o lugar. Então ela não fora avisada disto?
Incrustada numa imensa fazenda, em terreno cedido pelo dono que levaria vantagens com a construção da estrada, feita às pressas, uma linda casa. Parecia a dos sete anões. Estilo europeu. Tudo em madeira. Sem TV. Sem telefone. Com lareira, que nem sabíamos o que era. Banho, só ao meio-dia, quando enchiam a caixa. Mantimentos, só por lista, quando alguém do almoxarifado ia à cidade. Copos, faltam copos - era a mãe - tenho medo de bujão de gás - o pai lhe pedia calma, o necessário entraria aos poucos.

Muitas foram as descobertas; a começar pelo caçula.
Um dia ele apareceu chispado, lívido, quase sem voz: um bicho grande correu atrás dele; ora, era um dos porcos premiados no exterior, imensos, o criador esqueceu de avisar que as quadras individuais dos melhores da raça ficavam atrás de nossa casa, mas, que não se preocupassem, a cerca era baixa porém eletrificada, calhou do guri ir lá quando desligada... e o citadino do meu irmão mal conhecia uma galinha fora das bandejas congeladas do super!

Numa das primeiras manhãs, acordamos com os gritos da mãe. O pai já havia saído. Encolhidos sob os edredons, resmungamos Deve ser uma cigarra. Uma aranha. Uma lagartixa. Uma barata. Chegamos à porta do quarto dela e a vimos de costas diante da janela, braços agitados para cima, histérica, Minha roupa, ai, minha roupa, saiam, xô! Meu Deus, de onde veio tudo isto? Acudam! Corremos para fora, vassoura, rodo, espanador em punho, ameaças às vacas que cercaram a casa e faziam bom proveito das roupas no varal. Elas não se intimidaram. Os bois ameaçavam em nossa direção. A balaustrada da varanda não os impediria de avançar. Nem a porta dos fundos. Afinal, a casa fora construída no meio do pasto deles. Pior, não havia cerca. Estávamos sitiados! Um de nós furou o cerco bovino, subiu o barranco, atravessou a estrada, chegou a um dos barracões em busca de um peão, um encarregado qualquer.
Gargalhadas se alastraram na região até chegar em Passo Fundo e interromper uma reunião do pai. Diante da mãe, ele segurou o riso: ela estava mais feroz que todos os animais locais. Um drama.
Salvos do ataque, e roupas perdidas, recebemos a visita do ilustre fazendeiro, um colono italiano com uma penca de guris, as mãos cheias de compotas e pães feitos pela mulher, umas copas defumadas em casa, a se desmanchar em pedidos de desculpas e o convite de irmos para a casa-sede até cercarem o campo. O nome dele, esqueci, mas o sobrenome era Migliavacca, è vero!

Frase do dia

"Queres conhecer o Inácio, coloca-o num palácio".
(Máximas e Mínimas do Barão de Itararé - Editora Record)

28.11.07

Charge de 29 de novembro

Um flâneur brasileiro em Paris


Um presente para os olhos, dia 29 - quinta-feira a partir das 19 horas rola inauguração da exposicão do fotógrafo Fernando Rabelo "Imagens de um flâneur brasileiro em Paris" no Centro Cultural Justiça Federal, no Rio de Janeiro.
A visitação será aberta a partir de 30 de novembro - de terça a domingo, das 12 às 19 horas.
O endereço do CCJF é Avenida Rio Branco, 241, Cinelândia
Fernando é um tremendo fotógrafo e meu vizinho, anda sempre com um envelope misterioso debaixo do braço, diz a lenda que é uma obra prima da qual ele não se afasta.
Sua exposição é imperdível. Todos lá!

46 Livros de Moda na Cosmopolita


São 46 autores que no próximo dia 29 de novembro, quinta-feira, participam do lançamento do livro "46 livros de moda que você não pode deixar de ler", da editora carioca Memória Visual.
Minha repórter preferida de moda assina, Laura Artigas, assina o texto sobre o livro "O espírito das roupas" de Gilda de Melo e Souza.
Entre outros autores estão Kathia Castilho, Rosane Preciosa, Carol Garcia, Lula Rodrigues
O lançamento será na Livraria Cosmopolita - rua Dr. Mario Ferraz, 32 em Pinheiros. Das 19 às 22 horas. Vai rolar um coquetel...Segurem o mundo fashion!

Frase do dia

"Parece-me evidente que uma reflexão sobre a cultura artística é um dos problemas mais urgentes de qualquer adaptação da nossa pedagogia às condições do mundo atual.
A imagem não é um conceito; ela inspira uma das mais importantes formas de relação da sociedade"
(Frase de abertura de "A Imagem, A Visão e a Imaginação",(textos reunidos e apresentados por Galienne Francastel)- a frase foi retirada de uma entrevista com Pierre Francastel de 1968 Edições 70- de Lisboa- tradução de Fernando Caetano)

27.11.07

Charge do dia 28 de novembro

Minha vizinha Chavista ataca a Portelinha


Confesso que tenho fugido da minha vizinha chavista. Tenho usado várias estratégias e táticas. Muitas vezes finjo que sou um velho surdo (o que não está muito longe da verdade). Quando é minha mulher que atende o interfone, ela diz que eu não estou, que fui comprar pão no açougue, coisas assim absurdas para ver se ela desiste. Outro dia , a patroa exagerou, disse que eu viajei para Miami, onde fui discutir com Silvio Santos a nova programação que acabou com aqueles seriados americanos sensacionais. Substituiu os videntes , médiuns e sobrenaturais por aquele monte de meninas sem roupa pedindo para o pobre insone ligar para um número de celular de Belo Horizonte e gastar suas parcas economias. Mas nesta manhã, não tive jeito de escapar, ela tocou a campainha do meu apartamento. Me pegou de sunga, pronto para dar um mergulho na piscina do condomínio.
-Não adianta o senhor tentar escapar do nosso movimento!
Que movimento? Perguntei , tentando achar um lugar para minha toalha e o bronzeador.
Ela sentou no sofá e me indicou uma cadeira, para que eu sentasse e ouvisse sua explanação. Para variar não respondeu minha pergunta e já foi detonando:
-Nosso movimento já conseguiu um grande avanço. Nossa parlamentar Chavista deu o primeiro sinal dos novos tempos lá na nossa pátria irmã, a querida Venezuela. Invadiu aquela emissora de TV l e deu uns catiripapos no apresentador que escreveu um livro esculachando a pessoa dela. É isso aí, direto ao assunto, sem processo, sem julgamento, limianares- microfone no cocuruto, tapa na cara, óculos no chão!
Ela me disse em seguida, que estava organizando o seu" Comando pela Libertação da Globo". (o CLG)
- Quero que bote isso no seu grogue. (Para quem não está acompanhando esta história desde o início, grogue significa blogue).
-Eu e os aposentados brizolistas da pracinha do dominó vamos invadir o Jornal Nacional, tirá-lo do ar e implantar uma grade de novelas em tempo integral. Novelas de época, novelas educativas, sobre o companheiro Prestes, o comandante Che, o iluminado Brizola...só histórias edificantes.
-Pelo amor de Roberto Marinho , digo Deus! Exclamei. Não façam uma coisa dessas, é uma loucura! Aqui não é a Venezuela, e o Lula não é o Chávez!
- Será? Ela me disse. Depois de aprovar a CPMF, ninguém segura o nosso Lulinha! Vão ter que engolir o terceiro mandato do "sapo barbudo" como dizem meus companheiros de bombacha lá da pracinha!
Tentei botar um pouco de teoria na conversa: - Temos que observar as circunstâncias históricas , culturais e ecômicas que vivem os dois países. Nosso petróleo , por exemplo é uma ficção, o deles é real. A Venezuela é um membro da OPEP de fato....
- Falando em ficção, e o afastamento do Agnaldo Silva? Ela me cortou, sem ligar para meus argumentos.
-Ele pensa que está enganando quem? Onde já se viu roteirista entrar em férias no começo da novela? Ele foi é para a geladeira. A novela está perdendo pontos no Ibope. Com esse negócio de ficar defendendo o ensino privado, atacando estudantes e professores como se fossem um bando de desocupados , fofoqueiros inescrupulosos. A tal da "Portelinha" virou um Partido. O Partido do Agnaldo. E história que é bom, nada, só críticas e ressentimentos que ele estava botando no ar. Nunca vi uma novela mais feia na minha vida! Tudo é feio lá! Os tipos humanos, as idéias, as caricaturas, a defesa da truculência, as farpas dirigidas ao nosso Presidente-Obrero....Não sobra nada. Nem aquela boba que o Ferraço deixou sem um tostão lá no sul e que se tornou classe média como caixa de supermercado de São Paulo. Nada contra as caixas de supermercado. Mas eu pergunto: - economicamente é possível ascenção social com o salário delas, com os horários delas? Só em Miami, onde se refugia esse noveleiro que perdeu a mão. Cadê o bom Agnaldo dos velhos tempos?
- E as mulheres, retruquei, as meninas da Portelinha são lindas, cheias de charme...
-Corta essa, seu machista! Ela me interrompeu com o dedo em riste.
Nessas alturas, eu já estava pensando em gritar por socorro, quando minha mulher chegou com as compras e o menino que veio empurrando o carrinho entrou na conversa.
- Tá ligada, ô mais velha?
Ele se dirigia à minha vizinha chavista.
- Eu bem que ouvi o lero de vocês.Não esculacha não, tem umas colega, lá do "super" tão se dando bem. Tem umas com estudo superior, tá ligada? Estudam no 12º andar, tá ligada? E as "mina" da Portelinha batem um bolão...
Concordei com ele,tá ligado? E até ofereci um café. Disse que tinha visto umas matérias do Jornal Nacional que mostravam que o pobre pode melhorar de vida se economizar. Falei das dicas do Fantástico para quem quer arrumar emprego, do ensaio sensual do Extra com uma das musas da Favela Global...
Foi aí que senti um sapato bater na minha testa, o menino do supermercado no chão.. Minha vizinha entrou em "plena atividade chavista". De repente a Portelinha e a Venezuela mudaram para a sala do meu apartamento.Minha mulher que tem curso de meditação, entrou em alfa e chamou o porteiro pelo interfone com um grande OM, interrompendo o saboroso papo que ele estava tecendo com aquela moreninha que enlouquece a rapaziada que cuida do edifício. Ele veio com o segurança e levaram a velha esperneante para a pracinha, onde fiquei sabendo que ela convocou uma assembléia extraordinária.O menino do supermercado, dizem sempre evita os caminhos que passam por aquele lugar altamente politizado e mais perigoso que a cracolândia, chamado agora de Praça Vermelha...Os tempos do dominó acabaram!

Oia nóis no NYTimes Syndicate trá veis!


A ONU convidou o"Cartoonists & Writers Syndicate" que é bravamente defendido por Jerry Robinson e seu filho Jens, para produzir uma exposição de cartuns para comemorar os 60 anos da "Declaração dos Direitos Humanos". Mandei dois desenhos que emplacaram e eles estão na página do NYTimes Syndicate que tem um projeto junto com o CWS.Publico aí em cima um deles.
Detalhe: Jerry Robinson simplesmente desenhou por muito tempo o Batman e criou o personagem "Coringa".
A página do NYTSyndicate pode ser acessada por um link aqui desta página, o link do CWS.
Desculpem o auto-confete, mas estou no mercado e se não boto meu bloco na rua pra buzinar a coisa não funciona. Já dizia o velho guerreiro Chacrinha: "Quem não se comunica se trumbica!"
Tá dado o recado!

Frase do dia

..."a arte não restitui o visível, ela torna visível".
(Paul Klee em "Confissão Criadora")

O Planeta na Travessa


Acho que não preciso dizer muita coisa. O Planeta Diário, que revolucionou a imprensa alternativa depois do Pasquim vai ser lançado hoje, dia 27- terça-feira em formato de livro pela Editora Desiderata.
Seus criadores, Reinaldo, Hubert e Cláudio Paiva estarão lá matando saudades.
Todo mundo lá!

26.11.07

Charge do dia 27 de novembro

Escassez de Estadistas


(Republicamos aqui o artigo (publicado originalmente no jornal O Estado de S.Paulo) do meu amigo Professor Marco Aurélio Nogueira que nos honra com sua presença)
O inusitado bate-boca entre o rei Juan Carlos, da Espanha, e o presidente venezuelano Hugo Chávez, no início de novembro, em Santiago do Chile, na 17ª Cúpula Iberoamericana, pode ter trazido à mente de muitas pessoas a imagem de que já não se fazem mais estadistas como antigamente.

Convém começar demarcando o terreno. Palavras ásperas, modos grosseiros, agressividade verbal e destempero não são de modo algum atitudes estranhas ao universo da política. Disputam espaço, palmo a palmo, com o sarcasmo, a ironia, a simulação e a dissimulação, a coação, a chantagem e a força. São formas expressivas da palavra e do gestual específico da política. Não haveria porque ficarmos escandalizados, portanto, quando um rei e um presidente atacam-se com farpas e palavrões, por mais que isso seja feio e cause má impressão. Se fizerem isso em nome de uma boa causa, de um conteúdo oculto que venha a se manifestar mais à frente, obterão o beneplácito dos deuses.

No caso em questão, é aí que o carro pega. Tirando o fato de que a reunião de cúpula onde se deu a briga pouco produziu de importante, o confronto revelou uma face triste da política atual: a do vazio comunicacional, da falta de substância, da teatralização gratuita. O meritório esforço diplomático e ponderador do premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero foi um fugaz facho de luz, que somente serviu para destacar a escuridão.

Já deveríamos ter nos acostumado com o histrionismo de Chávez, característica que praticamente organiza o seu self político. Sem ele, Chávez não é Chávez. Trata-se de uma forma de exercer comando e protagonizar a cena: espetacular, imagética, redundante, hiperbólica, como se a vitória política dependesse não do teor da argumentação ou da mensagem, mas da contundência verbal, da demolição ou da saturação do adversário, reflexo de certa obstinação em ganhar todos os confrontos e discussões. É um estilo decodificável, válido em certas circunstâncias, que requer dos interlocutores uma dose alta de paciência, serenidade e sangue-frio.

Não se pode recriminar Chávez por dele se valer. O presidente venezuelano não é um político qualquer e não há como criticá-lo por falta de apoio popular, muito pelo contrário. Seu governo não parece sustentado por nenhuma idéia particularmente brilhante, mas Chávez tem se mostrado muito eficiente no que diz respeito à comunicação com seu povo, sinal de que, ao menos na Venezuela, seu estilo político produz efeito.

Mas bastaria talento comunicativo, veemência e apoio popular para que se tenha um estadista? Do mesmo modo: teria se comportado como estadista o rei Juan Carlos, quando mandou Chávez calar a boca, para defender as cores e a honra da Espanha?

Poderíamos completar esta pequena galeria de maus passos políticos com a enigmática fala do presidente Lula, dias atrás, a respeito de democracia, sistemas de governo e permanência no poder. Com o intuito de defender Chávez das acusações de antidemocrata, e em nome da justa idéia de que se deve sempre “respeitar a soberania de cada país”, o presidente brasileiro atropelou a teoria política para definir a democracia como um regime cuja única e suficiente regra é a permanente consulta popular. Banalizou o fato de um governante querer se prolongar no cargo, usando como exemplo os longos períodos de governo de alguns primeiros-ministros, sob a alegação de que não há nenhuma distinção neste aspecto entre o presidencialismo e o parlamentarismo (“muda apenas o sistema, mas o que importa não é o regime, é o exercício do poder”). Não foi uma contribuição para a educação política da população.

Estadistas não são governantes que contam com apoio popular, discursam com paixão e se esmeram na defesa intransigente de seus países. Devem fazer isso também, mas espera-se que façam mais. Não são necessariamente pessoas cultas, educadas e corteses, ainda que se espere que se comportem de acordo com certos parâmetros de respeito e civismo e ajam prioritariamente segundo regras institucionais e procedimentos diplomáticos.

Estadistas são acima de tudo governantes que se destacam por possuir e encarnar um projeto coletivo, quer dizer, um projeto de sociedade ou de unidade nacional, que inclua mais que exclua e anuncie com clareza um futuro plausível e “desejável”, uma vida digna para todos, não somente para os que estão do seu lado ou pensam como ele. Não se distinguem pelo carisma ou pela lealdade às tradições de seu povo, por mais que isso seja relevante. Sua diferença específica repousa na capacidade de agregar diferenças, unificá-las e organizá-las em um Estado, em uma comunidade política, isto é, em uma associação que se movimenta segundo pactos simbólicos e institucionais que balizam e promovem a vida coletiva.

Deste ponto de vista, a nossa é uma época opaca, meio melancólica, condenada a governantes sem muita densidade, que atuam mais como operadores administrativos do que como formuladores de projetos ou construtores de consensos.

Estadistas andam escassos porque faltam talentos à política. Hoje, por carecer de paixão e sentido e não dispor de molduras institucionais coerentes, a política não está conseguindo selecionar as melhores lideranças. São escassos, também, porque os governantes dos nossos dias governam com limites elevados, que muitas vezes os impedem de ter papel de relevo. E são escassos, por fim, porque líderes e governantes não têm mais como cumprir a função precípua de unir o povo e organizar um projeto de sociedade. As sociedades da era capitalista global estão fragmentadas e individualizadas demais para que alguém, num estalar de dedos, as articule e mobilize para um empreendimento coletivo sustentável.

Frase do dia

"Para mim, o barulho do Tempo não é triste: gosto dos sinos, dos relógios - e lembro-me de que originalmente o material fotográfico dependia das técnicas da marcenaria e da mecânica de precisão: as máquinas no fundo, eram relógios de ver, e talvez em mim alguém muito antigo ainda ouça na máquina fotográfica o ruído vivo da madeira."
(Roland Barthes em "A Câmara Clara"- Editora Nova Fronteira - Tradução de Júlio Castañon Guimarães)

25.11.07

Charge do dia 26 de novembro

Mestre Gilberto Freyre no Museu da Língua


Imperdível essa exposição que se abre nesta segunda-feira, dia 26 de novembro , às 19 horas no Museu da Língua Portuguesa: "GILBERTO FREYRE -Intérprete do Brasil"
(O evento vai até o dia 4 de maio - portanto não tem desculpa para não ver)
A visitação acontece a partir do dia 27- Durante a semana, vai de terça a domingo, das 10 às 17 horas
O Museu da Língua Portuguesa fica na Estação da Luz, s/nº - Ingressos a 4 reais- Sábado é grátis.
Informações no telefone(11)3326-0775
A curadoria é de Julia Peregrino que também botou de pé a Exposição em Homenagem a Clarice Lispector.
Mestre Giba, além de pensar o Brasil, escrevia de forma magnífica- é só passar os olhos por qualquer um de seus livros, para ver como o homem cuidava da escrita. Casa Grande & Senzala quebrou paradigmas do cientificismo, botou no bolso muita antropologia estrangeira e revelou um Brasil que muito intelectual não queria ver. Além disso passou por cima da academia e se mostrou compreensível pelo leigo, e com muito molho, o que foi e é visto como um crime, em certos círculos intelectuais.
Todos lá!
N.R- Testemunho do autor deste blogue: Em meados dos anos 70 , fui com um grande amigo da época de Faculdade visitar Pernambuco e por um feliz acaso conseguimos um encontro com Mestre Giba, que nos recebeu e nos dedicou uma tarde de boa conversa e muitos ensinamentos. Veja só a generosidade deste mestre! Nós éramos dois petulantes estudantes de Sociologia, dois pirralhos que ele recebeu com toda gentileza e falou de igual para igual gastando seu precioso tempo.

Frase do dia

"Embora os homens sejam incapazes de falar sobre si mesmos com total honestidade, é muito mais difícil evitar a verdade quando se finge ser outro. Freqüentemente, revela-se muito sobre si mesmo de forma direta. Tenho certeza de foi assim comigo. Não há nada que diga mais a respeito de um criador do que sua própria obra."
("Akira Kurosawa - Relato Autobiográfico" - Estação Liberdade - Tradução Rosane Barguil Pavam, Marina Naomi Yanai, Heitor Ferreira da Costa e Izabella Sanches)

Meus cartuns medievais

24.11.07

Noel na interpretação de Rui de Carvalho- Um belo presente de Natal!


Pra começo de conversa, Rui de Carvalho é meu amigo. Cometi algumas viagens poéticas no passado que acabaram virando músicas no violão dessa figuraça .
Agora ele aparece com um tributo a Noel Rosa que está conforme o figurino, não do pai do Tarzã, filho do alfaiate (como diz uma bela e engraçada composição de Noel) ,mas sim com um corte impecável, tudo no lugar certo.
Pois é,"NOEL ROSA POR RUI DE CARVALHO" é o novo CD desse compositor e intérprete "tijucano"de Porto Velho mas com os pés e a cabeça em Vila Isabel. Ele presenteia o público com 10 obras de Noel Rosa contando com o auxílio luxuoso do violão de Flávio Pereira que também fez os arranjos. Músicas como NÃO TEM TRADUÇÃO, GAGO APAIXONADO, VOCÊ VAI SE QUISER, PALPITE INFELIZ, TRÊS APITOS, COM QUE ROUPA, FITA AMARELA, ENTRE OUTRAS são interpretadas com aquela voz de "cantor francês" que Chico Caruso identificou, faz muito tempo ao ouvir Rui lá no Baixo-Leblon no meio dos anos 80, se não me falha a memória.
O CD pode ser encomendado através do e-mail do artista; rui1210@brturbo.com.br
Logo logo, será lançado um clip com a música PALPITE INFELIZ no youtube.
***
Para refrescar nossa memória, é bom saber que Noel morreu na noite de 24 de maio de 1937 em sua casa. Viveu 26 anos, quatro meses e 23 dias . O impressionante disso tudo, é que ele deixou uma obra que o distingue como um dos maiores compositores do país. 70 anos depois, a gente se surpreende com a atualidade daquele que , sem dúvida ajudou a criar a moderna música popular do Brasil. O humor , a ginga, os detalhes dessa obra deixam qualquer um de queixo caído, como ele nos seus retratos e caricaturas.
Você também pode ouvir outras canções de Rui de Carvalho no seguinte endereço:
www.myspace.com/ruidecarvalho

Frase do dia

"- O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos junto estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que , no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço."
(Resposta de Marco Polo ao Grande Khan quande ele diz acreditar que a cidade infernal é a última parada no livro "Cidades Invisíveis" de Italo Calvino - Biblioteca O GLOBO - tradução de Diogo Mainardi)

23.11.07

Charge do dia 24 de novembro

Viva Adoniran Barbosa!


João Rubinato mais conhecido pelo seu nome artístico de Adoniran Barbosa, nasceu no dia 6 de agosto de 1910 em Valinhos no interior de São Paulo e veio a falecer no dia 23 de novembro de 1982. Hoje faz 25 anos que nos deixou rumo à sua maloca lá no céu.
O Noblat durante toda esta semana botou as músicas dele no seu blogue. Ele pediu a Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, filha de Adoniran (que é colunista do blogue de Noblat) que fizesse uma seleção de suas músicas. Como nós aqui deste modesto blogue não temos som, usaremos a imagem para fazer uma singela homenagem com uma caricatura que fiz dele e cujo original deve estar hoje na parede da casa de João Máximo.
Recentemente mandei uma cópia em alta resolução para Maria Helena por intermédio de Nobalt. Ele com sua imensa generosidade e para nossa feliz surpresa publicou, num dia desta semana a caricatura dando continuidade às homenagens a este artista genial .
Minha lembrança vai até um rádio onde escutava com meus pais Adoniran interpretar um dos seus personagens, o "Charutinho", um sambista de morro que tinha como bordão -"Chora na rampa, negão!" Tempos bons, de uma infância e adolescência tocada ao som de Saudosa Maloca e Trem das Onze, que passava acho que embaixo de onde corre o Metrô na altura de Santana. Jaçanã que conheci de ônibus... Todas as músicas de Adoniran me comovem, ele era também muito engraçado, tenho um CD onde ele se apresenta com Elis Regina, (acho que é no Fino da Bossa) e ela cai na gargalhada enquanto ele fala naquele jeito dele e vai contando suas histórias. Paulo Vanzolini fez uma bela homenagem a ele num samba cheio de malícia chamado "Seu Barbosa", que está naquela coleção (uma caixa com 4 CDs com patrocínio da Petrobrás em que faz um "Balanço Final". Boa iniciativa...Muitas saudades. Viva Adoniran!

Frase do dia

"O artista pode exercer seu talento, tentando todas as fórmulas e todos os caprichos de sua fantasia e todos os caminhos de seu charlatanismo intelectual."
(trecho de carta escrita por Pablo Picasso em 1952 e destinada a Giovani Papini)

22.11.07

Charge de 23 de novembro

Geléia Geral: 68, Mailer, Yippies e o eterno presente


Continuando as minhas reflexões anacrônicas sobre 68 e como ele ainda dita o tom apesar de toda água que passou debaixo da ponte e os tempos terríveis desse encadeamento de fatos que desandou num modo de vida destrutivo que nos aflige e está nos levando cada vez mais para um fim trágico. Recentemente me perguntei por que retornei a 68 usando o livro de Kurlansky (1968 - O ano que abalou o mundo) ? Decerto foi para recuperar um tempo que vivi minha juventude e precisava entender. Não havia até então um painel tão amplo que mostrasse o quanto foi decisivo este ano (ou o quanto ele significou como ponto de mutação) pela imensa quantidade de coisas que aconteceram nele. Um ano em que houve a ruptura clara com uma parcela das amarras de um passado pesado e que mudou a cultura para sempre. Pode-se ver 68 como o fenômeno de uma geração , uma geração que de certa forma está hoje no poder. O curioso é que no livro de Kurlansky , cheguei a criticar a excessiva preocupação dele com os eventos que cercaram a convenção do partido democrata de Chicago. Juro que não entendi a gravidade do que lá tinha ocorrido. Ao retornar ao livro de Norman Mailer "Miami e o Cerco de Chicago" vi que o que aconteceu naquela cidade sob o governo do prefeito Daley foi uma confusão dos diabos, uma demonstração da força bruta, da manipulação. Uma convenção que foi refém dos podres poderes de Chicago. Que mostrava uma outra face dos Democratas, a divisão deles, suas fraquezas, a truculência e a imposição de uma facção que se mostrou mais forte e era extremamente conservadora. Naturalmente era contra tudo que representava alguma coisa fora do esquadro deles, os cabelos compridos, o rock, os andrajos dos jovens, seus discursos inflamado e seus intelectuais marginais. Uma massa de jovens que tentava desesperadamente e sem nenhuma clareza se opor a um time de segunda chefiado por Hubert Humphrey que veio a ocupar o vácuo deixado por Bob Kennedy, que foi assassinado e é claramente mistificado por Mailer e por muitos de nossa geração. Na verdade tudo o que cercava aquela eleição era muito nebuloso para mim. Todo o desmonte da máquina democrata foi mostrado por Mailer com competência, e ele é muito "honesto" ao dizer que tinha medo, que mergulhou no uísque e ficou fora dos eventos principais. Ele mostra, de alguma forma o processo que mais tarde vai dar na eleição de Nixon, coisa que não é muito bem explicada.
Lembrei de uma observação de Eric Hobsbawm (em A Era dos Extremos) acerca do fenômeno contemporâneo da destruição do passado, ou como ele diz " dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas"
Ele considera esse fenômeno uma coisa terrível , uma característica a ser salientada e que marca o final do século XX. O resultado disso, ele afirma, é que os jovens "crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem." Os perigos são claríssimos, um deles é não aprender lição nenhuma com o passado. A outra face é repetir erros. E como toda nova geração tem por tendência negar tudo o que a anterior fez, e encarar o mundo como se ela o estivesse fundando agora ,isso se agrava muito as coisas. À ignorância se junta a teimosia e a arrogância e uma desvalorização da vida e de uma riqueza que só vai ser revelada por algum arqueólogo. Diz Hobsbawm que ao historiador cabe a função de trazer de volta esse passado, "lembrar o que os outros esquecem".
Por essas e outras , pincei do livro de Mailer uma espécie de plataforma do partido Yippie, que foi colhido ao que parece num panfleto distribuido no Lincoln Park, ou nas anotações de uma reunião realizada na tarde de um domingo, no longínquo 25 de agôsto de 1968 - a sua leitura é interessante para ver o que um dia a imaginação extrapolou seus limites e o quanto estamos distantes e perto dessas reivindicações que decerto consideramos curiosas, uma autêntica viagem na maionese. É bom salientar, que o pau comeu em Chicago depois dessa reunião, houve um verdadeiro massacre por parte das forças da ordem representadas pela polícia local e a Guarda Nacional. Cinco dias de batalha campal. Observação : Os Yippies eram segundo Mailer " a facção militante dos Hippies, o Partido Internacional da Juventude" ...Segundo ele os Hippies erigiram seu templo naquele entroncamento onde o LSD cruza a vibração de uma guitarra elétrica a todo volume no ouvido, plexo solar, barriga, lombos....Eram refugiados dos subúrbios da classe média " e seu cortiço não podia durar...
Aqui vai o seu manifesto daquela data.
"YIPPIE!
Lincoln Park
VOTE NUM PORCO EM 1968
Motel de Graça
"venha dormir conosco"
REVOLUÇÃO EM PROL DE UMA SOCIEDADE LIVRE: "YIPPIE"!
Por A. Yippie
1- Fim imediato da Guerra do Vietnam
2- Liberadade imediata para Huey Newton, dos Panteras Negras e todos os outros negros. Adoção do conceito de controle comunitário nas áreas dos guetos...
3- Legalização da marijuana e todas as outras drogas psicodélicas...
4- Um sistema penitenciário baseado no conceito da reabilitação, ao invés do de punição.
5...abolição de todas as leis relacionadas com crimes sem vítimas. Isto é, permanência somente de leis relacionadas com crimesem que haja uma parte a contragosto atingida, como assassinato, estupro, assalto.
6- Desarmamento total de todas as pessoas, a começar pela polícia. Isso inclui não apenas armas, mas também recursos brutais como gases lacrimogêneos, MACE (um tipo de gás inibidor da autonomia de ação do indivíduo), aguilhões elétricos, cassetetes grandes e pequenos, e demais congêneres.
7- Abolição do dinheiro. Abolição do pagamento de aluguéis, de meios de comunicação, de transporte, de alimentos, de educação, de roupas, de auxílio médico e do uso de sanitários.
8- Uma sociedade que vise e promova ativamente o conceito do "não emprego total". Um sociedade na qual as pessoas estejam livres da escravidão do trabalho. Adoção do conceito "Façamos as máquinas trabalharem".
9-... Eliminação da poluição do nosso ar e da nossa água.
10- ...incentivos para a descentralização das nossas cidades superpovoadas...incentivo à vida rural.
11-...informação grátis sobre o controle da natalidade...abortos sempre que desejados.
12 Um sistema educacional reestruturado que proporcione ao estudante possibilidade de determinar seu curso de estudos e permita a participação estudantil no planejamento geral de programas...
13- Uso aberto e livre dos meios de comunicação...televisão em cabos, como um método para aumentar a seleção de canais à disposição do telespectador.
14- Fim de toda e qualquer censura. Estamos fartos de uma sociedade que hesita em mostrar gente praticando violência e se recusa a mostrar um casal trepando.
15- Achamos que as pessoas deviam trepar o tempo todo, em qualquer hora, com quem quisessem. Isso não é um programa a defender e sim o simples reconhecimento da realidade em torno de nós.
16- ...um sistema de referendum nacional conduzido através da televisão ou um sistema telefônico de votação...uma descentralização do poder e de autoridade, com muitos e variados grupos tribais. Grupos em que as pessoas existam num estado de confiança básica e sejam livres de escolher sua tribo.
17-Um programa que encoraje e promova as artes. Entretanto, achamos que se a Sociedade Livre a eue visamos fosse disputada e conquistada, todos nós atualizaríamos a criatividade em nosso interior. Num sentido muito real teríamos uma sociedade na qual cada homem seria um artista.
...Porcos da política, os seus dias estão contados. Somos a Segunda Revolução Americana. Venceremos. Yppie!"
Enquanto isso, aqui o pau comia na casa de Noca. Até que em 68 passeatas foram toleradas e também reprimidas com violência, mas nos seus inícios o movimento estudantil libertário e confuso teve espaço para reagir, como disse o jornalista Élio Gáspari lá fora a roda de Aquarius dava sua livre volta , no território de Pindorama sofria-se a implantação de uma dietadura que iria durar mais de 20 anos. Os espaços de contestação foram diminuindo e chegou-se ao ponto de falar baixinho coisas que hoje qualquer criança berra numa mesa de bar do "Baixo Gávea"
Voltaremos ao tema do fim do sonho.

Frase do dia

O frágil está em perigo, mas o frágil é perigoso. Isso vale para o vidro. E para nós também.
(Do livro "Fragilidade" de Jean-Claude Carrière - Editora Objetiva)

21.11.07

20.11.07

Frase do dia

Em verdade , a vida humana é tão evanescente quanto o orvalho matinal e tão breve quanto um corisco.
(Depoimento de um Bonzo andarilho inquirido pelo Juiz de Instrução no conto Dentro do Bosque (Yabu no Naka) no livro Rashomon e outros contos de Ryunosuke Akutagawa)

Charge do dia 21 de novembro

Frase do dia

A realidade é um belo lugar para visitar (filosoficamente), mas ninguém nunca morou lá.
(Marshall Sahlins, parafraseando John Barth em "Esperando Foucault, ainda")

18.11.07

Adolfo & Donato, o Show do ano!


Comentário ouvido no fim do Show sensacional que Antonio Adolfo, João Donato, Luiz Alves(baixo) e Robertinho Silva (bateria) fizeram na Sala Cecília Meireles, no sábado dia 17 de novembro:- Se melhorar estraga!
Pois é, não poderiam melhorar, foi impecávevel, não dava para mexer uma palha. Teve de tudo de bom um pouco. Os solos de piano de Antonio Adolfo e João Donato, a aula de baixo de Luiz Alves, a bateria incrementada com agogô de Robertinho Silva que carregou de energia o ambiente. E não falamos ainda dos clássicos dos dois mestres : Entre elas Cascavel, Teletema, Samarina - estas duas cantadas pelo público como se fosse num grande festival e outras obras de Antonio Adolfo que até botou a bossa dos seus amigos na dança das teclas de seu generoso piano. E do lado de Donato veio Amazonas, Bananeira, O Sapo e Nasci para bailar que sacudiu o público. A sala Cecília Meireles, com sua acústica nota dez foi a casa da Bossa durante uma hora e meia em que quase se transporta para o Beco das Garrafas alí em Havana Velha. Deviam repetir a dose numa temporada que desse oportunidade a mais gente de assistir a esse show. Sem dúvida, testemunhar esse encontro feliz foi um privilégio.
O desenho aí de cima é uma fotografia mental que consegui reter, faltou a luz que estava muito bacana também(nota 10 para o iluminador).Peço desculpas por não ter conseguido postar ontem, depois do show. Este coracão anda muito cansado para aguentar os embalos de sábado a noite. Mas hoje, consegui recuperar as forças e a emoção desse momento lindo (como diria o Rei Roberto Carlos). Este ano valeu por este show. Basta dizer isso e ponto final.

Mais um cartum da Série Variações sobre a Máfia

16.11.07

Nova Iluminação da Lapa: Adolfo e Donato


Os gênios são assim, fazem um show no meio de um feriadão. E os sortudos são aqueles que descobrem que isso vai acontecer. E isso vai de fato acontecer no Sábado, dia 17 de novembro, por incrível que pareça, na Sala Cecília Meireles. Trata-se do encontro de duas feras do piano (além de compositores sublimes)- Pois é, Antonio Adolfo e João Donato juntam seus talentos e iluminam a Lapa a partir das 21 horas. Corram! Não é sempre que uma oportunidade maravilhosa como esta aparece. Antonio Adolfo chega de uma longa viagem pelo Mundo onde mostrou o melhor de nossa música e João descerá do Nirvana para esse evento raro no Universo.

15.11.07

Charge do dia 16 de novembro

Ueba,Macaco Simão citou uma charge deste blogue!


Fiquei imensamente feliz ontem porque fiquei sabendo que Zé Simão citou uma charge da minha autoria na sua coluna de terça-feira (eu acho). O Chico Caruso que me contou por telefone e disse que ia guardar exemplar da "Ilustrada" pra eu mostrar pros meus netinhos. E disse que vai me entregar numa peça em que Aroeira (saxofonista e também grande chargista de O Dia) está estrelando. Acontece que nem o Chico nem em fomos convidados para tal peça no meio do feriadão. Estaria Aroeira com vergonha. Não fique com vergonha não. Chico e eu já fomos ver Tavinho Paes declamar seus poemas ao som da guitarra alucinante de Robertinho do Recife na sala Sidney Miller (é assim que se escreve?) às 18 horas de um de semana perdida nos anos 80. Detalhe, acho que só tinha a gente na platéia. (Maldade, os parentes dele também estavam lá). O curioso é que a guitarra do Robertinho do Recife estava tão alta e com distorções a la Hendrix que a gente não ouviu quase nenhuma palavra dos poemas e ficamos comovidos quando você abriu um guarda-chuva no palco. Aquilo foi bonito!
Agora falando sério:- Zé, não é confete não, e nem é porque você teve a generosidade de citar o meu trabalho, mas sou seu fã de carteirinha! Dá licença, mas vou pingar meu colírio alucinógino!
A referida charge é aquela da menina que ficou loira depois que tomou o leite e sofreu com outros problemas, acabou grávida no aeroporto com uma passagem inválida na mão perguntando se podia acreditar que era membro da OPEP (Vocês podem conferir a charge nos arquivos deste blogue)
Monkey News já!

Humor explode em Caratinga, uai!


Está rolando o 9ºSalão de Humor de Caratinga- cidade também conhecida como a "terra do Ziraldo" . Nossa repórter de plantão ( e tradutora de Woodstock junto com sua irmã) Tinê cobriu o evento e disse que gostou pra caramba tanto é que anda postando fotos de charges, cartuns e caricaturas que viu por lá no seu fotoblog http://eucantodeolho.nafoto.net
Eu já botei faz tempo o link dela aqui no nosso modesto blogue.
Vocês podem conhecer melhor o cantinho da nossa repórter da blogosfera mineira clicando nele, não só para ver o humor de Caratinga, terra do também grande humorista Nani e de Silvio Abreu que acho que atualmente é a maior autoridade no assunto da cidade. Tinê também é uma artista. Vale a pena conferir!

Pequenas homenagens a Norman Mailer


Enquanto não preparo uma boa homenagem ao grande Norman Mailer, vou publicar uns trechos de livros que ele escreveu que achei legais e onde ele mostra o seu talento no uso da ironia e o bom texto que o bom Deus não lhe deu e ele teve que conquistar catando milho nas "pretinhas" (que é como os velhos homens de imprensa chamavam as teclas da máquina de escrever- gíria de redação - rj) e os recursos literários que ele usa para dar um molho na massa de fatos que vai narrar. O trecho que escolhi hoje está no livro "Miami e o Cerco de Chicago- A História Informal das Convenções Republicana e Democrática de 1968" (Miami and the Siege of Chicago) que na verdade são textos que ele publicou na Harpper's Magazine, The New York Times, Village Voice e The Washington Post
"A menos que o conheçamos bem, ou tenhamos efetuado um considerável trabalho de preparação, é quase inútil entrevistar um político. Sua mente está habituada a perguntas políticas. Na altura em que decide candidatar-se à presidência, fatalmente, já terá respondido a um milhão delas. Ou, pelo menos, isso será verdade se estiver militando na política há vinte anos e tenha respondido a uma média de cento e cinqüenta perguntas por dia, uma previsão nada fora do possível. Surpreender um político hábil com uma pergunta será tão difícil quanto atingir um pugilista profissional com um "gancho" de briga de botequim. Portanto, não se pode contar grande coisa de entrevistas com um candidato. Seus dentes deverão estar brancos, suas maneiras brandas e agradáveis, sua presença atraente e a sua habilidade em contornar a pergunta e retornar com uma resposta está tão implícita no trabalho de suas mandíbulas quanto a de morder um pedaço de carne. Entrevistar um candidato é quase tão íntimo como pegá-lo na televisão. Portanto, às vezes, é mais fácil catar a verdade da sua campanha através do estudo das estruturas de sua atividade. Sendo assim, o reporter saiu para fazer a cobertura do elefante."
(O elefante que ele se refere, é um filhote de paquiderme que foi oferecido a Richard Nixon (O Candidato escolhido na Convenção de Miami em 1968) pela população de Anaheim, Califórnia e estava a bordo de um avião de carga que iria pousar no aeroporto daquela cidade "cubana"- segundo Mailer, esta "lhe pareceu a maneira mais apropriada para iniciar a cobertura da convenção". Na segunda parte do livro, em que ele trata da Convenção do Partido Democrata em Chicago, o nosso repórter na verdade blefou, e confessou isso no texto. Fugiu da verdadeira guerra campal que se explodiu na cidade preferida de Al Capone. Cobriu a pancadaria de longe, do alto de um prédio de 19 andares , numa das noites do quebra-pau ele confessou que preferiu ir a uma festa e passou lá no campo de batalha horas depois. Seus relatos do massacre são de outros jornalistas que cobriram "in loco" o ataque dos policiais aos manifestantes que se recusavam a abandonar um Parque. De qualquer forma, mesmo saindo pela tangente, ele fez um bom apanhado do que foram aqueles dias loucos, e sua análise e sacadas continuaram geniais. Nesse momento a gente vê que o velho repórter soube se esquivar do porrete e escapar do gás lacrimogêneo.) Noutro "post" eu vou selecionar algum trecho que fala dos Yippies e o folheto que foi distribuido no Lincoln Park em Chicago com o programa desse movimento . A exortação do folheto já é uma graça: "VOTE NUM PORCO EM 1968") Mais tarde, vou falar da biografia que ele fez de Marilyn, um outro blefe que ele sustentou com matérias dos outros- um defeito? Uma necessidade de ganhar dinheiro para pagar as várias pensões alimentícias, diziam os seus opositores? E esse negócio de se tratar na terceira pessoa: o repórter fez isso. O repórter fez aquilo. Um exibicionismo, uma arrogância, uma sofisticada picaretagem? Talvez tudo isso, mas com muito talento. Pessoal do vestibular de Jornalismo atenção: Leia as obras e Mailer, mas não tente repetir a dose. Esse drinque está batizadíssimo!

Charge do dia 15 de Novembro

14.11.07

Uma bela versão para Woodstock


Esta é a versão que Tinê fez com sua irmã que ela diz ser fera em inglês. A versão ficou com um toque bonito, delicado e estabelece a imagem edênica que Joni Mitchel viu (uma visão!) naquela multidão de mais de 500 mil pessoas e que a gente conseguiu testemunhar assistindo o filme que resgata um pouquinho do que foi aquele fenômeno.
Woodstock
Eu fui atrás de uma criança de Deus
Ele estava caminhando pela estrada
Eu perguntei a ele: onde você está indo
E ele me respondeu isso:

Estou indo para a Fazenda Yasgur
Vou me juntar a uma banda de rock'n'roll
Estou indo acampar nas terras
E tentar deixar minha alma livre

Nós somos poeira de estrelas
Nós somos dourados
E temos que levar a nós mesmos
De volta ao jardim

Então eu posso caminhar ao seu lado
Eu vim aqui para perder o nevoeiro
Me sinto como uma fraude
De alguma coisa que se muda

Bem, talvez seja o período do ano
Ou talvez seja o período do homem
Não sei quem sou
Mas a vida é para se aprender

Nós somos poeira de estrelas
Nós somos dourados
E temos que levar a nós mesmos
De volta ao jardim

Quando chegamos a Woodstock
Éramos meio milhão de doidões
E tudo lá era som
E celebração

E eu sonhei que via os bombardeios
Em fogo cruzado pelo céu
E eles se transformavam em borboletas
Sobre a nossa nação

Nós somos poeira de estrelas
Carbono de um milhão de anos
Nós somos dourados
Pegos na barganha do diabo
E temos que levar a nós mesmos
De volta ao jardim

12.11.07

TV do Futuro pede Passagem

Hoje estréia a 4ª temporada do programa Passagem Para. Essa Passagem passa todos os dias, no canal Futura, às 23h.

São 22 novos programas inéditos do Haiti, México, Chile, Colômbia, República
Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Nevis, Peru, Guina, Guiana Francesa e Suriname. Para quem não sabe, o programa é uma espécie de documentário com diário de bordo, apresentado e dirigido pelo jornalista Luís Nachbin.
Abaixo a programação da semana com as sinopses fornecidas pela Jornalista Clarice Tenório, uma profissional que eu me sinto honrado de ser amigo.
A programação será por semana, ou seja, esta é Especial Haiti e Santa Lúcia:

Haiti - "da prosperidade ao caos"
12/11, segunda-feira, 23:00h (reprise quinta-feira)

"Me sinto despreparado. Não falo a língua e precisaria de muito mais tempo pra me ambientar antes de começar a gravar. Um sujeito branco, rico, explorador... Essa é a imagem que passo pra maioria das pessoas aqui. Em geral, só consigo filmar na companhia das tropas brasileiras". O depoimento de Luís Nachbin retrata alguns aspectos de Porto Príncipe, capital do país mais pobre do continente. O mesmo assunto também é discutido aqui no Brasil com o imigrante Jean-Marie Désir.

Haiti - "a porta do imaginário"
13/11 terça-feira 23:00h (reprise sexta-feira)

A influência do vodu na vida dos haitianos é indiscutível, principalmente na arte, literatura e cultura. O vodu é assunto constante na obra de Frankétienne, único escritor famoso que permaneceu no país, mesmo com perseguições políticas e miséria. Ele acredita que o cotidiano dramático experimentado por cada habitante explique a potencial criatividade de seu povo.

Santa Lúcia - "mistura homérica"
14/11 quarta-feira 23:00h (reprise sábado)

A Grécia Antiga ainda existe. Fica no Caribe. Conquistou sua independência há menos de 30 anos. E seus habitantes são fãs de música country. Essas contradições são possíveis e convivem em harmonia nas ilhas que formam Santa Lúcia, país marcado pelo multiculturalismo e qualidade de vida. Durante a viagem, Luís Nachbin conversa com o pesquisador Kennedy Samuel, que ajuda a entender a lógica do lugar.

Onde estão as lições de 68?


(Final da resenha sobre o livro 1968 O ano que abalou o Mundo, de Mark Kurlansky)
Vamos às teses: o autor atribui a criação do fenômeno 68 a alguns fatores. O exemplo dos movimento americano pelos direitos civis,
uma geração que se sentia distante dos seus pais e mestres, e não tolerava a idéia de autoridade, a TV ainda não domesticada, e o
catalisador da época, a odiada Guerra do Vietnã, estopim usado para detonar vários movimentos. Uma das teses mais discutíveis é a de
que talvez 68 não existisse se os governos não tivessem uma atitude repressiva. Outra é que naquele ano se iniciou, depois da invasão da
Checolosváquia, a erosão da URSS. Um outro poderia dizer isso em relação ao dia em que Lenin morreu e Trotski perdeu o comando para
Stalin, ou mesmo quando este último fez um pacto com Hitler. A erosão de um sistema às vezes está em lugares estranhos. Mas o autor
tem razão num aspecto: em 68 houve o desencanto da militância comunista, quando as tropas russas acabaram com a “Primavera de
Praga”.

Fica como falha a omissão de acontecimentos de certas zonas periféricas, como a América Latina, onde, na década de 60, enquanto o
mundo “curtia o seu barato”, um surto de ditaduras estimuladas pelo Tio Sam se espalhava, o que levou a revolta estudantil a tomar
caminhos radicais. O jornalista não fala, do mesmo modo, no misterioso projeto Camelot, que fez uma “inteligente” pesquisa de opinião
onde traçava o perfil político das áreas a serem dominadas e que foi denunciado em 65 pelos próprios jornais americanos.

Um ano tão mal comportado, que criticou o personalismo, deveria receber tratamento mais iconoclasta. Talvez ver 68 dentro de um
processo de “contestação” que se inicia no fim dos anos 50, quando houve a explosão teen-age, a chamada “juventude transviada” que
desdenhava os mais velhos como “quadrados” e quebrava cinemas ao som do rock’n’roll. Apontar o momento em que o império
americano se afirmava culturalmente, mostrando que era um aparente “Tigre de Papel”, como brinca uma personagem no filme A
Chinesa, de Godard. Do jeito que Kurlansky tratou esse ano, 68 parece um coquetel molotov que cai no colo do leitor. Outra crítica
também se faz necessária: a carência de imagens num ano em que elas foram tão decisivas.

Dizer que 68 foi ruim porque não venceu nenhuma batalha, e as estruturas permaneceram apesar dos abalos, seria reduzir suas
conquistas. Kurlansky acerta ao mostrar que alguns homens caíram logo depois, como De Gaulle, e essa voragem originou uma revolução
que afetou o comportamento e a cultura das gerações que vieram surfar nas ondas futuras. Uma coisa é certa: não se pode sair por aí
comparando o ativismo de 68 ao movimento atual que incendeia as periferias de Paris. A revolta dos “filhos dos banlieues” é efeito tardio
da colonização que agora toma o território dos bairros do ex-colonizador ao ritmo do gangstra rap.

A rapaziada deve ter percebido que a visibilidade da mídia só viria com demonstrações violentas. Podem até usar uma velha tática:
chamá-los de “escória” é bom motivo para botar mais fogo nos automóveis, que mostra que os “podres poderes da direita” esqueceram
há muito tempo as lições de 68.
(Esta resenha foi escrita e publicada na época recente em que explodiram movimentos de revolta na periferia de Paris)

11.11.07

68 Criou uma Cultura? Ou Uma Cultura criou 68?

(Continuação da resenha sobre livro de Mark Kurlansky 1968- O Ano que Abalou o Mundo)O autor mostra que não foi um ano apenas conturbado e crítico em que foram assassinados Martin
Luther King e Robert Kennedy, mas que inventou uma nova cultura além das palavras de ordem. O que ele não cita é o seu lado negativo
ao importar um negócio da China que se chamava “autocrítica”, instrumento “dialético” usado para silenciar oposições internas em
movimentos subterrâneos. Micro-poderes, diria Foucault, um dos que marcharam com os jovens por Paris e que Kurlansky esqueceu. Uma
Paris onde o autor observa que nunca se praticou tanto o esporte da conversação.

Enquanto isso, na Califórnia, muitos procuravam as chaves das portas da percepção “viajando”, ouvindo música psicodélica ou de protesto
em alto volume: Joan Baez, Joni Mitchell, Cream, Jefferson Airplane, Gratefull Dead, Jim Morrison, Country Joe and the Fish, entre
outros. Jovens que no início criticaram o uso das guitarras elétricas por Bob Dylan, mas acabaram seduzidos pelas distorções desse
instrumento e beijaram os céus com Jimmi Hendrix, que já tinha incendiado sua Fender no festival de Monterrey em 67, deixando o
público de queixo caído. Essa talvez pode ser uma das mais graves omissões do livro.

Enquanto isso, atletas negros eram punidos por erguer o punho cerrado em homenagem aos Black Panthers, nas Olimpíadas do México,
pouco tempo depois do massacre de estudantes pelas forças policiais de Díaz Ordaz. No território das artes pictóricas, criou-se espaço
para o grafismo combatente dos affiches feitos com a técnica de silk screen que, com muita ironia, invadiram os muros das cidades junto
com frases antológicas dos chamados grafites, tais como “Decreto um permanente estado de felicidade”, “Seja realista, peça o
impossível”, “A imaginação no poder” ou “Virgindade dá câncer”. Foi a época do mimeógrafo, com seus estênceis complicados de
manusear, que produziam os panfletos que informavam o cardápio da desordem do dia. O mundo da literatura também produzia seus
frutos e engajamentos: de Norman Mailer, Arthur Miller, William Burroughs ao roteirista Terry Southern. Época da famosa revista
Ramparts, porta voz das interpretações da nova esquerda (New left). Peturbações também incomodaram a Feira do Livro de Frankfurt. A
salinha escura do cinema de repente se acendeu e assistiu ao fenômeno do cineclubismo, não citado por Kurlansky. Por outro lado, o
Festival de Cannes foi fechado pelos cineastas Godard e Truffaut, entre outros.

10.11.07

Charge do dia 11 de novembro- Domingo

Morre um dos inventores do Jornalismo Moderno


Este sábado é um dia muito triste. Morreu Norman Mailer , um dos maiores jornalistas que este planeta já teve. Era também bom de literatura, grande escritor. Deixou muitos livros na sua estrada (dizem que tinha muitas pensões alimentícias para pagar - fofoca da oposição). Entre suas obras estão, o romance "Barabary Shore", "Os Degraus do Pentágono"(onde narra as demonstrações contra a Guerra do Vietnam), "Os nus e os mortos"(um romance irado sobre a Segunda Guerra Mundial), "A Canção do Carrasco"( um tijolaço de mais de mil páginas com comovente relato da vida de Gary Gilmore que sacudiu os EUA na década de 70 por iverter o processo de sua punição ao ditar a forma como queria ser executado ), "Advertisements For Myself (vários ensaios), "Miami e o Cerco de Chicago", Exércitos da Noite", "A Luta" (em que descreve a lendária luta de box entre Ali e Foreman em Kinshasa, no Zaire,do então ditador Mobutu, que hoje se chama República Democrática do Congo), "Cartas abertas ao Presidente" (ensaios dirigidos a John F. Kennedy), "Os Durões não dançam" (que virou filme, acho que dirigido por ele mesmo). Escreveu também uma biografia reduzida de Marilyn Monroe e um outro tijolaço sobre o suposto assassino de JFK cujo título é "A História de Lee Oswald"... Foi um dos intelectuais (se é que se pode usar esse conceito de forma mais ampla) que expressaram a grande abertura americana dos anos 60 antes que os "red necks" tomassem conta do cenário. Tentou insistentemente entender os mecanismos do poder dos EUA e os corações e mentes de seu povo.
Ele estava com 84 anos e planejava um livro longo, o romance "O Castelo na Floresta" que retratava a infância de Hitler e foi suficientemente realista para dizer numa entrevista recente que sabia que não ia continuar esse livro. Numa entrevista ao Caderno Mais da Folha de São Paulo ele falou muito em Deus, acho que esperava encontrá-lo para uma extraordinária entrevista. O velho de barbas brancas então agendou o encontro para o dia 10 de novembro. E foi aí que os rins falharam e ele partiu para sua derradeira matéria abandonando na manhã deste sábado o Hospital Monte Sinai, em Nova Iorque. Agora deve estar no meio da sua entrevista celeste, o "Criador" deve ter muita coisa a revelar...
Por um acaso,(estou metido numa pesquisa sobre eventos de 68) eu estava lendo "Miami e o cerco de Chicago" sobre os acontecimentos da Convenção Republicana que indicou Nixon e a Democrata que em 68 foi envolvida num quebra-pau sensacional em Chicago (entre as mortes de Bob Kennedy e Martin Luther King)(Vou tentar falar mais dele em outro post)

9.11.07

Alguns jovens de 68 achavam Marcuse um chato


(Continuação da resenha sobre livro de Mark Kurlansky 1968- O Ano que Abalou o Mundo)
O autor fez um retrato bem documentado dos 12 meses que assistiram a uma multiplicidade de eventos que abalaram quase que
simultaneamente países díspares como EUA, Alemanha, a então Checoslovaquia, Polônia, México, Japão, Canadá, Egito, Espanha, Israel,
Itália, China, Vietnã, Nigéria e Biafra. Seu mérito foi mergulhar nas águas turvas das situações específicas dos países envolvidos no
redemoinho dessa época e tornar isso interessante para o leitor dos nossos dias. Há que se considerar que alguém que teve sua vida
próxima desses eventos está hoje com uma idade acima dos 50 anos. Embora não tenha conseguido fazer uma uma obra definitiva sobre
o período, Kurlansky chegou perto de uma versão satisfatória ao mapear e fazer um emocionado relato que consegue nos transportar para
o meio dos conflitos, sem ser nostálgico.

Por essas e outras, seu livro se constitui num ótimo roteiro para tentar entender esse ano que se transformou num mito da rebeldia
juvenil. Considere-se que a tarefa não foi nada fácil. Mas, com muita coragem, humor e pretensão, enfrentou o desafio de narrar um
movimento que ousou não silenciar, diante dos erros do mundo. Acompanhou a rebelião que unia diferentes grupos de acordo com
realidades de cada país onde explodia e se traduzia em alianças que se dissolviam no ar e táticas sopradas ao vento do momento. Cuja
meta parecia ser o de questionar as autoridades, contestar as instituições, revolucionar a cultura e a civilização.

Kurlansky apresenta um texto ágil, que vai entrelaçando as ações desses jovens petulantes que diziam só se conhecer pela TV, como
afirmou o irônico Daniel Cohn-Bendit em seu inseparável megafone. Que questionavam as verdades estabelecidas, ao mesmo tempo em
que derrubavam prateleiras, ocupavam universidades, organizavam sit-ins (protestos sentados) em frente a tropas policiais ou paravam
tanques com flores Uma agitação que se inspirou, entre outros, num filósofo como Herbert Marcuse, que algumas lideranças confessaram
não entender e achavam até chato.

Charge do dia 10 de novembro

68 O ano que ousou dizer não ao não


(Aproveitando a onda que trouxe Joni Mitchel até a nossa praia e sua fabulosa canção "Woodstock", vou publicar de forma homeopática(como fiz com Salinger e Grande Sertão:veredas) uma resenha que publiquei um dia sobre o bom livro de Kurlansky que tratou do tema do turbilhão que foi o ano 1968)
O ano que ousou dizer não ao não
O que esperar de um sujeito que escreveu a História do bacalhau? Uma versão no mínimo palatável dos acontecimentos, quaisquer que
sejam eles. Isso, o jornalista Mark Kurlansky faz muito bem em seu livro 1968 – O ano que abalou o mundo. A primeira leitura pode levar
à suspeita de que ele escreveu visando o público americano. Porém, essa impressão diminui, diante da imensidão de fatos que aborda. E,
justiça seja feita, Kurlansky não ficou apenas nas cercanias do seu umbigo. Ao reconstruir com maestria o complexo painel dessa época
turbulenta, prestou um serviço às gerações que não participaram ou não foram contemporâneas dos eventos que tornaram esse ano
especialíssimo: marco de ruptura com um mundo que parece pertencer a uma outra galáxia.
(Continua no próximo capítulo)

Charge do dia 9 de novembro

8.11.07

Homenagem tardia aos 75 anos do Ziraldo


Ao Mestre (maluquinho)
Com carinho

Charge do dia 8 de novembro

7.11.07

Enfim a letra de Woodstock


Woodstock
I came upon a child of God
He was walking along the road
And I asked him, where are you going
And this he told me

I'm going on down to Yasgur's farm
I'm going to join in a rock'n'roll band
I'm going to camp out on the land
And try and get my soul free

We are stardust
We are golden
And we've got to get ourselves
Back to the garden

Then can I walk beside you
I have come here to lose the smog
And I feel to be a cog
In something turning

Well, maybe it is just the time of year
Or maybe it's the time of man
I don't know who I am
But life is for learning

We are stardust
We are golden
And we've got to get ourselves
Back to the garden

By the time we got to Woodstock
We were half a million stong
And everywhere there was song
And celebration

And I dreamed I saw the bombers
Riding shotgun in the sky
And they were turning into butterflies
Above our nation

We are stardust
million-year-old carbon
We are golden
caught in the devil's bargain
And we've got to get ourselves
Back to the garden

(Observação: Não gostaria criticar a versão dada por Arthur Nestroviski, afinal é uma versão e como diz o ditato traduttore traditore. Mas, eu acho que ele não captou o lado místico quase bíblico da poesia de Joni Mitchell. Amanhã boto a versão dele e a que eu acho que pega essa vereda. E vocês? Vão interpretando aí e depois contribuam para a exegese da canção. A canção que segundo Camile Paglia, encerra a época da canção. Eu diria que essa canção é mais do que isso. Encerra uma utopia , uma pastoral. Ela reflete tardiamente os eventos de 68 que marcaram todo o mundo e especificamente os EUA. Neste país do norte, dois acontecimentos mexiam com a cabeça não só dos jovens. Um era a luta pelos direitos civis e a outra a luta contra a Guerra do Vietnam. Na França os estudantes derrubavam as prateleiras e diziam não ao não. Não havia uma agenda comum de reivindicações (vou botar em seguida uma resenha que fiz do livro de Kurlansky sobre 68) Mas, por enquanto o que importa é dizer que Woodstock acontece em 1969, reflexo direto dessas lutas. Pregava principalmente um encontro de jovens como exemplo para um mundo de paz e amor.Era também um empreendimento comercial que a princípio não deu certo. O pessoal começou a furar os bloqueios e invadir a fazenda. Era o MSS, Movimento dos Sem Som. É bom salientar que nesse encontro, onde não aconteceu nenhum crime, nenhuma agressão se tentava o sonho. Enquanto rolavam os três dias de rock Nixon articulava seu poder. O ardiloso Dick. Mais tarde em Altmont num concerto dos Rolling Stones um negro foi assassinado - a segurança do frágil evento estava nas mãos dos Hell's Angels. Um dia John Lennon disse que o sonho tinha acabado e que ele não acreditava em mais ninguém e que Deus era um conceito. Num outro dia nebuloso um rapaz com um exemplar de "O Apanhador no Campo de Centeio" debaixo do braço meteu um balaço no pai do Sean. Em algum momento disso aconteceu o Watergate, vieram os youppies, a especulação financeira ,a cocaina potencializando o já exacerbado espírito competivivo, o cinismo tomou conta da cena, uma visão hedonista que passou por cima dos pobres que se coçavam embaixo da Golden Gate e acabou na "Fogueira das Vaidades" (o extraordinário romance de Tom Wolf que dá um retrato fiel dessa época),E não podemos esquecer do "Psicopata americano", os espantosos avanços da era do computador, a "new age", o individualismo, grana fácil das bolsas, uma baita solidão, 'Denise está chamando", a música eletrônica, o dançar sozinho nas boates da moda, as grifes e seu mundo artificial, uma dificuldade de amar, de sonhar, um mundo brutalmente material, o "reaganismo", o "tatcherismo", o desemprego, o punk, a crise estrutural do capitalismo se desenhando e mais tarde arrastando o leste europeu, anarquia como solução para a classe operária abandonada pelos partidos obreiros(a traição dos trabalhistas ingleses com o blefe Blair) e pelo Estado do bem estar, a ideologia neoliberal e o novo Deus-Mercado ditando as regras.E assim desembocamos na concepção de globalização em que uns são turistas, o poder está naquelas agências capazes de criar a maior sensação de incerteza. À margem uma massa denominada de vagabundos, párias desprezíveis que devem ficar presos em seus locais imundos, e se se comportarem fora da pauta devem ser encarcerados. A reacão dos guetos, as favelas o rap, o funk, o mercado paralelo dos alteradores de consciência, a boca das drogas...Bauman explica melhor isso tudo.(Globalização e conseqüências humanas) Assim o mundo ficou pior, mas pode ser uma fase, um ciclo. Tem uma garotada que pensa diferente dessa grande mentira que é o grande cassino em que transformaram o mundo.Pensa diferente desse fascismo disfarçado, embora tenha encontrado um mundo que pensa ser um eterno presente. Cadê o futuro?

Charge do dia 7 de novembro

5.11.07

Charge do dia 6 de novembro

Heloisa Seixas na Travessa


É isso aí! Heloisa Seixas, nessa terça-feira, dia 6 de novembro, às 20 horas lança na Livraria Travessa de Ipanema (Visconde de Pirajá 572) o seu livro "O Lugar Escuro - Uma História de Senilidade e Loucura" publicado pela Editora Objetiva.
Durante um bom tempo ilustrei os "Contos mínimos" de Heloisa Seixas e tive até o prazer de fazer a ilustração da capa de um de seus livros que curiosamente tinha esse título.
Dizem que esse seu livro é denso - autobiográfico, fruto de um duro aprendizado de acompanhar o caminho de sua mãe nas trevas do esquecimento das coisas. Todos lá amanhã!